Estudando as obras
de Manoel Philomeno
de Miranda

por Thiago Bernardes

 Entre os Dois Mundos

(Parte 16)


 

Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de  Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco no ano de 2004.


Questões preliminares


A. Quem eram os visitantes que foram introduzidos no recinto e, de imediato, se aproximaram do obsessor de Laércio?

Eram a antiga esposa e os dois filhos de Jean-Jacques, que vieram até ali com o objetivo de resgatá-lo para o bem e o perdão. Quando ele os viu, totalmente transfigurado pela surpresa e pela alegria, ele atirou-se nos braços da entidade aureolada de peregrina luz. “Chegou o momento, meu amado, de encerrarmos este capítulo infeliz da nossa história” – disse-lhe a mulher, com um timbre de voz dulçuroso. “Aqui estamos, as vítimas da terrível carnificina do passado, a fim de can­tarmos nosso hino de gratidão ao Senhor Jesus, que nos convidou a servi-lo mediante a doação da própria vida.” (Entre os dois mundos. Capítulo 12: Terapia desobsessiva.)

B. Qual foi a reação de Jean-Jacques, em face do que a esposa amada lhe disse?

O infortunado Espírito desabafou: “Perdoa-me, tu, querida! eu não sabia que havíeis conseguido os céus, tu e meus filhinhos, as vítimas mais sofredoras do crime, enquanto eu me precipitara no inferno onde reina somente o ódio. Não imaginava que um dia, na condição de anjo do amor, virias com eles, os rebentos idolatrados daqueles dias de sombra, buscar-me no abismo em que tombei, devorado pela aluci­nação da vingança. Perdoa-me, e balsamiza-me o coração queimado pelas chamas terríveis do rancor que, momen­to a momento, mais me comburem.” (Entre os dois mundos. Capítulo 12: Terapia desobsessiva.)

C. Presente no recinto, Laércio (François-Piérre) assistiu ao reencontro do seu obsessor com a esposa e os filhos?

No início, porque estava adormecido, nada viu. Mas, assim que Ângelo o despertou, tocado pela beleza do reencontro, rememorou a infe­licidade, e, tomado de sincero arrependimento, ajoelhou-se e suplicou à veneranda visitante: “Eu estava louco e louco prossigo. Tem também compaixão de mim, ajudando-me a sair deste vórtice que me conduz ao aniquilamento total. Sinto que é tarde de­masiado para mim, após haver perdido a reencarnação. Piedade, portanto, eu suplico”. A vítima redimida deixou o esposo por um instante e ergueu o algoz antigo, falando-lhe com incomum sentimen­to de compaixão: “Sempre há tempo para recomeçar, e este é o início de um novo processo. Levanta-te, para somente ajoelhar­-te diante do Supremo Juiz que é todo amor. Avançaremos juntos, e em razão da divina concessão, tu e Jean-Jacques recomeçareis juntos mais tarde a trajetória de iluminação e de liberdade”. (Entre os dois mundos. Capítulo 12: Terapia desobsessiva.)


Texto para leitura


144. Os visitantes aproximaram-se do desditoso que chorava de revolta, quando Petitinga o interrogou, emocionado: “Reconhece os nossos visitantes, que vieram abraçá-lo?” Jean-Jacques pareceu despertar da loucura prolonga­da, e totalmente transfigurado pela surpresa e pela alegria, atirou-se nos braços da entidade aureolada de peregrina luz. “Chegou o momento, meu amado, de encerrarmos este capítulo infeliz da nossa história” – enunciou o nobre Espírito com um timbre de voz dulçuroso. “Aqui estamos, as vítimas da terrível carnificina do passado, a fim de can­tarmos nosso hino de gratidão ao Senhor Jesus, que nos convidou a servi-lo mediante a doação da própria vida. Esqueceste que aqueles que O amam devem sempre estar preparados para segui-lo pela mesma estrada de re­núncia e de doação total, conforme Ele o fez em nosso be­nefício?! Tivemos a honra imerecida de demonstrar nosso amor incondicional àqueles que O não amavam, porque re­almente não O conheciam... Todos sofremos inauditas afli­ções, semelhantes àquelas que arrebataram os mártires das primeiras horas da fé renovadora... A nossa é a dor que Lhe assinalou a caminhada terrestre, e que transformamos em compaixão e em caridade para com aqueles que se fizeram instrumento do nosso processo de evolução. Ama, e perdoarás com facilidade. Ama, e volveremos a estar juntos, tendo em vista que o ódio que te cega, vem­-nos separando há séculos... Este é o momento sublime da nossa felicidade. Esquece o mal para manteres na mente e no coração apenas o bem que nunca se aparta de nós, em nome do Supremo Bem.” (Entre os dois mundos. Capítulo 12: Terapia desobsessiva.)

145. “Perdoa-me, tu, querida! – desabafou o infortunado –, eu não sabia que havíeis conseguido os céus, tu e meus filhinhos, as vítimas mais sofredoras do crime, enquanto eu me precipitara no inferno onde reina somente o ódio. Não imaginava que um dia, na condição de anjo do amor, virias com eles, os rebentos idolatrados daqueles dias de sombra, buscar-me no abismo em que tombei, devorado pela aluci­nação da vingança. Perdoa-me, e balsamiza-me o coração queimado pelas chamas terríveis do rancor que, momen­to a momento, mais me comburem.” A visitante, que fora sua companheira no passado, explicou: “O amor que nos vitaliza ultrapassa os limites de tempo e de espaço, mantendo-nos unidos por todo o sempre, nas alegrias inefáveis e nas vicissitudes indescritíveis. Aqui estamos em nome desse amor, que herdamos de Nosso Pai e de que Jesus fez-se o modelo mais sublime, para que a noite ceda lugar ao novo dia de esperanças e de alegrias...” Dito isso, as duas crianças, emocionadas, ir­radiando inefável ternura, abraçaram o genitor do passado, fundindo-se todos num só amplexo de indefinível amor. “Que fazer, Deus meu?!” – explodiu, em lágrimas co­piosas, o infeliz. “Deixa-te conduzir pelos sábios desígnios – concluiu a nobre Entidade –, confiando em nosso Pai, sem que te transformes no vingador insano, que jamais conseguirá fazer a justiça que proclamas como necessária. Estaremos contigo na longa viagem de redenção.” (Entre os dois mundos. Capítulo 12: Terapia desobsessiva.)

146. Atendendo a uma solicitação mental do Mentor da equipe socorrista, Ângelo tocou o centro do discernimento de Laércio (François-Piérre), adormecido, despertando-o para que pudesse compreender e vivenciar aquele inesquecível instante de sublimação. Em­bora ali presente, faltava-lhe a lucidez plena para captar em profundidade tudo quanto estava sucedendo. Tocado pela beleza do reencontro, rememorou a infe­licidade, e, tomado de sincero arrependimento, ajoelhou-se e suplicou à veneranda visitante: “Eu estava louco e louco prossigo. Tem também compaixão de mim, ajudando-me a sair deste vórtice que me conduz ao aniquilamento total. Sinto que é tarde de­masiado para mim, após haver perdido a reencarnação. Piedade, portanto, eu suplico”. A vítima redimida deixou o esposo por um instante e ergueu o algoz antigo, falando-lhe com incomum sentimen­to de compaixão: “Sempre há tempo para recomeçar, e este é o início de um novo processo. Levanta-te, para somente ajoelhar­-te diante do Supremo Juiz que é todo amor. Avançaremos juntos, e em razão da divina concessão, tu e Jean-Jacques recomeçareis juntos mais tarde a trajetória de iluminação e de liberdade. Abraçou o sofredor, revitalizando-lhe o Espírito com­balido e volveu ao companheiro estarrecido, dizendo-lhe: “Recorda-te deste momento, e avança para Jesus, em cuja estrada voltaremos a encontrar-nos mil vezes, até o mo­mento da perene união”. Osculou o rosto suarento e banhado de lágrimas do companheiro, enquanto as crianças igualmente envolviam­-no em carinho, afastando-se suavemente e deixando clari­dades fulgurantes no ambiente. (Entre os dois mundos. Capítulo 12: Terapia desobsessiva.)

147. Antes que ele tomasse o controle total da razão, Peti­tinga voltou ao diálogo: “Que te parece, meu irmão, a concessão divina que o Senhor te acaba de facultar?” Jean-Jacques falou, trêmulo e tímido: “Que Deus te conceda o perdão que eu ainda não sei oferecer-te!” E tombou desfalecido. Carinhosamente conduzido por Ângelo e Germa­no a outra cama adrede colocada no recinto, permaneceu adormecido, enquanto Laércio, o antigo verdugo, igualmente foi conduzido ao sono reparador. Verificou-se então que os laços fluídicos que ligavam aqueles espíritos através dos seus corpos perispirituais haviam di­minuído de intensidade.  Dr. Arquimedes convidou Germano ao delicado pro­cesso cirúrgico de extirpar do cérebro perispiritual as matri­zes e, por consequência, também do físico do enfermo reen­carnado, utilizando-se de instrumentos que Manoel Philomeno desconhecia, mas que o faziam lembrar algumas pinças cirúrgicas, em que se fixavam os fios de energia perniciosa. O tratamento li­bertador prolongou-se por alguns minutos e, à medida que eram liberados os condutos psíquicos do ódio, eles se desfa­ziam, ao tempo em que eram absorvidos para o interior da mente do desencarnado. Ambos os pacientes espirituais, de quando em quan­do, experimentavam frêmitos decorrentes da separação psí­quica pelas energias que antes os fixavam um ao outro. Laércio parecia mais enfraquecido, porque, de alguma forma, o fluxo vibratório que absorvia, embora de qualida­de perturbadora, sustentava-lhe a própria energia. Enquan­to isso, o emissor dos fluidos tóxicos apresentava-se envolto em sucessivas ondas deletérias que procediam do viciado campo mental. (Entre os dois mundos. Capítulo 12: Terapia desobsessiva.)

148. Terminada a operação, coube a Germano aplicar no vingador passes dissolventes das densas cargas enfermiças, de maneira que a fonte geradora deixasse de produzi-las, conforme o automatismo que lhe fora imposto pela pertinácia do ódio. Três horas após o início do ministério de socorro, La­ércio foi levado de volta ao lar físico, onde se encontrava entorpecido pelo sono induzido, enquanto seu adversário seria, logo depois, encaminhado à Colônia espiritual para o tra­tamento prolongado de que necessitava. Elucidando os colegas da equipe sobre a ocorrência, o Mentor infor­mou, de forma sintética: “Este capítulo está encerrado no seu aspecto mais grave. O tempo se encarregará de regularizar os desequilí­brios e compor novos quadros de entendimento, fraternida­de e amor, obedecendo ao fatalismo da evolução”. Em seguida, o irmão Petitinga foi convidado a enunciar a prece de gratidão, tornando-se um campo de irradiação luminosa que deslumbrou a todos. (Entre os dois mundos. Capítulo 12: Terapia desobsessiva.)

149. Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário – Havia sido tão inesperada a visita das três nobres en­tidades, modificando completamente o estado de revolta do perseguidor, que Manoel Philomeno não podia sopitar a curiosidade para descobrir como ocorrera o acontecimento. Logo que o grupo foi liberado e retornou ao acampamento, ele indagou ao seu gentil amigo: “Desde o começo da psicoterapia iluminativa com Jean-Jacques, que se havia pensado em apelar para a contri­buição da antiga esposa e filhinhos do indigitado sofredor?” Sorrindo suavemente, como lhe é habitual, Petitinga obtemperou: “Miranda, como todos recordamos, não existe acaso na divina programação que envolve o processo evolutivo de todos nós. O Dr. Arquimedes conhecia o drama dos dois litigan­tes antes mesmo de tentar auxiliá-los. Como sábio psicote­rapeuta que é, procurou identificar as causas da animosida­de vigente entre ambos os combatentes, aprofundando-se no seu estudo. Assim, conhecendo a intensidade do ódio e das razões que os mantinham vinculados, recorreu à ajuda carinhosa da família de Villiers, único recurso capaz de mo­dificar os sentimentos daquele que se sentia ultrajado, acer­tando, desde então, a interferência desses afetos em nosso labor socorrista no momento adequado”. (Entre os dois mundos. Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)

150. Já que esse recurso seria utilizado, qual a necessidade do diálogo mantido com o desesperado, visto que se possuía a possível solução definitiva? Ante essa pergunta, Petitinga esclareceu: “O diálogo que mantivemos com ele foi muito importante, por demonstrar-lhe a necessidade da compreensão do delito do seu algoz, di­luindo um pouco as fixações mentais que, embora pareces­sem inarredáveis, ficaram abaladas, facultando uma rápida mudança de comportamento. No íntimo, somente evocava as dores lancinantes que haviam destroçado a sua e a exis­tência dos familiares, não permitindo espaço mental para outras reflexões, inclusive, olvidando-se de onde e de como se encontrariam na atualidade... O ódio é labareda que combure o discernimento, sempre mantido pela volúpia do desejo de vingança. En­quanto arde na alma, não permite espaço para mais nada, prosseguindo em combustão ininterrupta. É a loucura total do amor, que perde vitalidade e desaparece sob a voragem das suas alucinações... Desse modo, somente um impacto decorrente do próprio amor para conseguir-se apagar de uma só vez o incêndio destruidor. Por isso, o amor é vida, e o ódio é transitório incên­dio, que embora deixe cinzas e amarguras após a sua vora­gem, permite-se abrigar a renovação, quando o sentimento de afeto volta a ser vitalizado”. (Entre os dois mundos. Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)

151. Na sequência, José Petitinga explicou que para graves enfermidades são necessários tratamentos urgentes e de impacto. Foi o que havia ocorrido naquele caso. Enquanto ele des­cambou para o ódio, em face da sua convicção religiosa ser mais formal do que real, tombando no desespero e atiran­do-se ao impulso da vingança, a esposa e os filhinhos, não obstante o terror da morte experimentada, logo voltaram-se para Deus e para a Sua Justiça, encontrando apoio e am­paro nas esferas espirituais, recuperando-se de imediato do infortúnio. Souberam transformar o testemunho doloroso em martírio de amor, evitando-se intoxicar pela rebeldia. À medida que a lucidez tomou-lhes conta, voltaram-se para a busca do companheiro e genitor que caíra na hediondez, sem poderem fazer muito em seu benefício, por causa das dificuldades que lhes eram impostas pela monoideia culti­vada pelo desarvorado. Tal fixação cerra o discernimento a qualquer possibilidade de reflexões em torno de outros pensamentos, lembranças, aspirações. Acompanhando-o, a distância, aguardavam que soas­se o momento do seu despertar, para então melhor auxiliá­lo, o que ocorreu, conforme vimos. (Entre os dois mundos. Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio Reis, o missionário.)

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita