Tranquilidade
Meditando sobre a grande e maior de todas as batalhas do
ser, consigo mesmo, numa viagem secular, através de
múltiplas reencarnações, num aprendizado continuado de
virtudes, vencendo os defeitos, pensamos na paz.
Alcançar a paz é uma meta preciosa. Ficar em serenidade,
manter a tranquilidade. Seria a calma um desejo profundo
de todos nós.
Para alcançar a calma, preciso é se conhecer. Para se
conhecer, um bom mecanismo seria avaliar as próprias
emoções nos acontecimentos da vida. Como reagimos diante
de fatos que nos ocorrem? A emoção se revela melhor que
o raciocínio.
Há pessoas que nos dizem: meu estômago gelou com o
susto. Eu nem tinha pensado no susto, o estômago já
gelou. Ou: meu coração disparou de medo... ou: a raiva
foi tanta que fiquei com falta de ar. Ou: chorei de
raiva. Ou: minhas mãos gelaram de medo. Ou: o nervosismo
subiu minha pressão...
O Espírito é a usina que irradia a energia para o corpo.
O corpo sente o desequilíbrio da emoção, ao mesmo tempo
em que, pacificado, sente a calma.
Como estamos? Tranquilos ou desesperados, movidos pela
ansiedade?
Necessário lidar com os sentimentos, conhecê-los para
modificá-los. Em se conhecendo, na observação dos
defeitos, substituí-los pela virtude oposta, viver a
virtude contrária. Assim agia Eurípedes Barsanulfo, o
grande professor de Sacramento, o apóstolo da caridade
do Triângulo Mineiro. Observava os alunos e os fazia
experimentar as virtudes opostas às suas más qualidades.
Observar-se requer disposição. Na vida contemporânea, as
pessoas estão correndo de um lado para outro, de um
emprego a outro, buscando bens materiais, a
sobrevivência. Chegam exaustas em casa, após um dia de
trabalho, sem vontade de nada, apenas de descansar. Uma
grande parte chega em casa e em poucos minutos, já liga
a televisão. E os noticiários enchem sua mente.
Precisamos nos dar um tempo de pensar. Bom será se todos
os dias nos olharmos, lembrarmos do que fizemos durante
o dia, o que pensamos, como agimos, de que modo nossa
emoção nos revelou o que somos. Quais foram as emoções
que tivemos? É preciso que nos vejamos, para
conseguirmos melhorar. Alcançar a paz requer esforço de
autoiluminação. Conhecer a nós mesmos. Lembrar Santo
Agostinho, em “O Livro dos Espíritos”, na questão 919-a,
rememorar os acontecimentos do dia, como agiu, de que
modo fez? Colocar-se no lugar do próximo. Pensar como se
sentiria se alguém agisse desse ou de tal modo conosco.
Perguntarmos a nós mesmos como ficaremos quando chegar o
momento de nossa partida da Terra. Estaremos em paz?
Sairemos bem? Ou daremos um grande trabalho aos nossos
amigos desencarnados, na hora de nossa desencarnação? É
bom pensarmos nisso, estarmos preparados para a grande
transição, da matéria da Terra, para a energia do
Espírito. Vivermos no mundo num aprendizado crescente,
servos do mestre que desejamos ser, irmãos uns dos
outros, filhos de Deus. Difícil a jornada, longo o
caminho, estreita a porta, bem nos disse Jesus!
Como é exemplar a trajetória dos cristãos para o
martírio! Sabiam que iam morrer e cantavam! A certeza da
imortalidade os dominava. A fé assentada sobre a rocha.
Precisamos fortalecer a fé, aumentar a rocha. O que nos
falta?
A lembrança de Estêvão, no livro “Paulo e Estêvão”,
psicografado por Chico Xavier, de Emmanuel, nos reporta
a essa sonhada paz. Saulo observava o apedrejamento do
mártir e se impressionou.
Aquela tranquilidade de Estêvão, no entanto, não deixava
de o impressionar bem no imo do coração voluntarioso e
inflexível. Onde poderia ele haurir tal serenidade? Sob
as pedras que o alvejavam, aqueles olhos encaravam os
algozes sem pestanejar, sem revelar temor nem turbação!
De fato, amarrado de joelhos ao tronco do suplício, o
moço de Corinto guardava impressionante característica
de paz nos olhos translúcidos, de onde as lágrimas
silenciosas corriam abundantes.
O mártir do Caminho sentia-se amparado por forças
poderosas e intangíveis...
Dedicados amigos do plano espiritual rodeavam o mártir
nos seus minutos supremos...
Seus olhos pareciam mergulhar em quadros gloriosos de
outra vida...
Percebeu que contemplava o próprio Mestre em toda a
resplendência de suas glórias divinas.
Como será a nossa vez? Estêvão morreu sob zombarias e
pedradas. Estava em paz. Edificara sua paz com atitudes
de amor em toda a sua vida. Estava em paz.
Como estaremos? É bom pensarmos nisso. Edifiquemos nossa
paz. Mantenhamo-nos tranquilos, com a consciência
serena. Que Jesus seja a nossa divina inspiração, nosso
desejo, nossa força. Que o conhecimento espírita seja a
rocha. Que um dia possamos voltar para a nossa
verdadeira morada, a espiritual, em paz.