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por Jane Martins Vilela

 

Tranquilidade


Meditando sobre a grande e maior de todas as batalhas do ser, consigo mesmo, numa viagem secular, através de múltiplas reencarnações, num aprendizado continuado de virtudes, vencendo os defeitos, pensamos na paz. Alcançar a paz é uma meta preciosa. Ficar em serenidade, manter a tranquilidade. Seria a calma um desejo profundo de todos nós.

Para alcançar a calma, preciso é se conhecer. Para se conhecer, um bom mecanismo seria avaliar as próprias emoções nos acontecimentos da vida. Como reagimos diante de fatos que nos ocorrem? A emoção se revela melhor que o raciocínio.

Há pessoas que nos dizem: meu estômago gelou com o susto.  Eu nem tinha pensado no susto, o estômago já gelou. Ou: meu coração disparou de medo... ou: a raiva foi tanta que fiquei com falta de ar. Ou: chorei de raiva. Ou: minhas mãos gelaram de medo. Ou: o nervosismo subiu minha pressão...

O Espírito é a usina que irradia a energia para o corpo. O corpo sente o desequilíbrio da emoção, ao mesmo tempo em que, pacificado, sente a calma.

Como estamos?  Tranquilos ou desesperados, movidos pela ansiedade?

Necessário lidar com os sentimentos, conhecê-los para modificá-los. Em se conhecendo, na observação dos defeitos, substituí-los pela virtude oposta, viver a virtude contrária. Assim agia Eurípedes Barsanulfo, o grande professor de Sacramento, o apóstolo da caridade do Triângulo Mineiro. Observava os alunos e os fazia experimentar as virtudes opostas às suas más qualidades.

Observar-se requer disposição. Na vida contemporânea, as pessoas estão correndo de um lado para outro, de um emprego a outro, buscando bens materiais, a sobrevivência. Chegam exaustas em casa, após um dia de trabalho, sem vontade de nada, apenas de descansar. Uma grande parte chega em casa e em poucos minutos, já liga a televisão. E os noticiários enchem sua mente.

Precisamos nos dar um tempo de pensar. Bom será se todos os dias nos olharmos, lembrarmos do que fizemos durante o dia, o que pensamos, como agimos, de que modo nossa emoção nos revelou o que somos. Quais foram as emoções que tivemos? É preciso que nos vejamos, para conseguirmos melhorar. Alcançar a paz requer esforço de autoiluminação. Conhecer a nós mesmos. Lembrar Santo Agostinho, em “O Livro dos Espíritos”, na questão 919-a, rememorar os acontecimentos do dia, como agiu, de que modo fez? Colocar-se no lugar do próximo. Pensar como se sentiria se alguém agisse desse ou de tal modo conosco.

Perguntarmos a nós mesmos como ficaremos quando chegar o momento de nossa partida da Terra. Estaremos em paz? Sairemos bem? Ou daremos um grande trabalho aos nossos amigos desencarnados, na hora de nossa desencarnação? É bom pensarmos nisso, estarmos preparados para a grande transição, da matéria da Terra, para a energia do Espírito. Vivermos no mundo num aprendizado crescente, servos do mestre que desejamos ser, irmãos uns dos outros, filhos de Deus. Difícil a jornada, longo o caminho, estreita a porta, bem nos disse Jesus!

Como é exemplar a trajetória dos cristãos para o martírio! Sabiam que iam morrer e cantavam! A certeza da imortalidade os dominava. A fé assentada sobre a rocha. Precisamos fortalecer a fé, aumentar a rocha. O que nos falta?

A lembrança de Estêvão, no livro “Paulo e Estêvão”, psicografado por Chico Xavier, de Emmanuel, nos reporta a essa sonhada paz. Saulo observava o apedrejamento do mártir e se impressionou.

Aquela tranquilidade de Estêvão, no entanto, não deixava de o impressionar bem no imo do coração voluntarioso e inflexível. Onde poderia ele haurir tal serenidade? Sob as pedras que o alvejavam, aqueles olhos encaravam os algozes sem pestanejar, sem revelar temor nem turbação!

De fato, amarrado de joelhos ao tronco do suplício, o moço de Corinto guardava impressionante característica de paz nos olhos translúcidos, de onde as lágrimas silenciosas corriam abundantes.

O mártir do Caminho sentia-se amparado por forças poderosas e intangíveis...

Dedicados amigos do plano espiritual rodeavam o mártir nos seus minutos supremos...

Seus olhos pareciam mergulhar em quadros gloriosos de outra vida...

Percebeu que contemplava o próprio Mestre em toda a resplendência de suas glórias divinas.

Como será a nossa vez? Estêvão morreu sob zombarias e pedradas. Estava em paz. Edificara sua paz com atitudes de amor em toda a sua vida. Estava em paz.

Como estaremos? É bom pensarmos nisso. Edifiquemos nossa paz. Mantenhamo-nos tranquilos, com a consciência serena. Que Jesus seja a nossa divina inspiração, nosso desejo, nossa força. Que o conhecimento espírita seja a rocha. Que um dia possamos voltar para a nossa verdadeira morada, a espiritual, em paz.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita