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por José Lucas

 

O espírita na sociedade


Qual o papel do espírita na sociedade? Aparentemente esta resposta é simples, mas, na prática afigura-se como análise incómoda para muitos e, até fruto de ideias muito diversas. Quem diria…


Quem é o espírita?

É o adepto da doutrina espírita (ou espiritismo), que é uma filosofia de vida, um conjunto de ideias, com bases experimentais e com consequências morais. Nada tem a ver com religiões, seitas, bruxarias, magias, crendices, etc.

Estudando a obra literária de Allan Kardec, vemos em “O Livro dos Espíritos”, na “Lei de Sociedade”, que vivemos na Terra, todos em conjunto, todos diferentes, com capacidades díspares, para que possamos evoluir, aprendendo uns com os outros e, treinando assim a cooperação fraterna entre todos, a caminho de um mundo melhor.

Existem espíritas que, acomodados dentro das 4 paredes do seu centro espírita, pouco ou quase nada fazem fora do mesmo.

Outros, pensam mesmo que o seu trabalho é de ajuda, oração, serviço ao próximo, mas, ali dentro do centro espírita, fora do bulício diário e das dificuldades sociais, numa espécie de retrocesso aos conventos de outrora.

Existem espíritas que pensam devermos ter um papel mais activo na sociedade, mas não nas áreas mais difíceis, mais polémicas. Essas, devemos deixar para os demais e, remetermo-nos à oração, deixar tudo nas mãos de Deus, que decerto resolverá os problemas sociais.

Ora, o espiritismo, como doutrina (conjunto de ideias) filosófica de consequências morais, que revela as leis que regem o intercâmbio entre o mundo espiritual e o mundo corpóreo, tem grande responsabilidade social.

Já imaginaram se, fruto da boa vontade de uns, da capacidade de comunicar de outros, do esforço de muitos, se conseguisse passar a ideia da imortalidade (baseada em factos), da reencarnação (baseada em factos) e, da Lei de Causa e Efeito (baseada em factos) à Humanidade?

E se esta os assimilasse?

Como o mundo mudaria rapidamente, no que concerne à parte moral…

Muitos espíritas empenham-se (e bem) em campanhas contra o aborto, a eutanásia, contra a pena de morte.

No entanto, ficam amorfos perante a corrupção social e política, ficam quietos perante situações sociais fracturantes, com receio, quiçá, de perderem adeptos ou para darem uma imagem de gente boazinha e caridosa, disfarçando assim a sua preguiça e pró-actividade social.

Este é o grande equívoco dos espíritas.

Kardec refere, e bem, que o mal se insinua, pela ausência dos bons.

O espírita, como ser social deve empenhar-se em todas as áreas da vida, sem limite de qualquer espécie, levando a todos os departamentos da sociedade a luz da doutrina espírita.


Perigosamente, vemos espíritas válidos, a demitirem-se das suas obrigações sociais, devido a uma abordagem doutrinária igrejeira, mística, amorfa, pseudoespiritualizada, que nada tem a ver com a visão de Kardec.


Quem não desejaria que os governantes fossem espíritas honestos, os banqueiros também o fossem, o sistema financeiro, os empresários das multinacionais e por aí fora?

Certamente ficaríamos todos felizes.

No entanto, ficamos pachorrentamente, em casa ou no centro espírita, lendo, meditando, orando, e esperando que Deus faça aquilo que compete aos homens fazer: transformar a sociedade, transformando-se interiormente em primeiro lugar.

Freitas Nobre, no Brasil foi político reconhecido.

Bezerra de Menezes foi deputado (teve de fazer campanha eleitoral) e isso não o impediu de desempenhar o seu cargo com honradez.

Gandhi foi um revolucionário político, talvez o maior, depois de Jesus de Nazaré.

Talvez fosse útil reler os livros de José Herculano Pires (filósofo e escritor brasileiro, espírita), que foi, na opinião do médium Francisco Cândido Xavier, o metro que melhor mediu Kardec.

Para muitos espíritas, as actividades sociais são previamente seleccionadas, por uma espécie de novo “Vaticano”, que vai disseminando “directrizes”, em contraciclo com as exigências sociais, bem como os deveres naturais de qualquer cidadão e, mais ainda, de qualquer espírita.

Veja o que gosta de fazer, qual a sua tendência, e embrenhe-se bem na sociedade, levando à mesma a honestidade, autenticidade, tolerância e fraternidade que, são apanágio da filosofia e moral espíritas.

Como nos recorda o Evangelho, a fé sem obras de nada vale…

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita