O espírita na sociedade
Qual o papel do espírita na sociedade? Aparentemente
esta resposta é simples, mas, na prática afigura-se como
análise incómoda para muitos e, até fruto de ideias
muito diversas. Quem diria…
Quem é o espírita?
É o adepto da doutrina espírita (ou espiritismo), que é
uma filosofia de vida, um conjunto de ideias, com bases
experimentais e com consequências morais. Nada tem a ver
com religiões, seitas, bruxarias, magias, crendices,
etc.
Estudando a obra literária de Allan Kardec, vemos em “O
Livro dos Espíritos”, na “Lei de Sociedade”,
que vivemos na Terra, todos em conjunto, todos
diferentes, com capacidades díspares, para que possamos
evoluir, aprendendo uns com os outros e, treinando assim
a cooperação fraterna entre todos, a caminho de um mundo
melhor.
Existem espíritas que, acomodados dentro das 4 paredes
do seu centro espírita, pouco ou quase nada fazem fora
do mesmo.
Outros, pensam mesmo que o seu trabalho é de ajuda,
oração, serviço ao próximo, mas, ali dentro do centro
espírita, fora do bulício diário e das dificuldades
sociais, numa espécie de retrocesso aos conventos de
outrora.
Existem espíritas que pensam devermos ter um papel mais
activo na sociedade, mas não nas áreas mais difíceis,
mais polémicas. Essas, devemos deixar para os demais
e, remetermo-nos à oração, deixar tudo nas mãos de Deus,
que decerto resolverá os problemas sociais.
Ora, o espiritismo, como doutrina (conjunto de ideias)
filosófica de consequências morais, que revela as leis
que regem o intercâmbio entre o mundo espiritual e o
mundo corpóreo, tem grande responsabilidade social.
Já imaginaram se, fruto da boa vontade de uns, da
capacidade de comunicar de outros, do esforço de muitos,
se conseguisse passar a ideia da imortalidade (baseada
em factos), da reencarnação (baseada em factos) e, da
Lei de Causa e Efeito (baseada em factos) à Humanidade?
E se esta os assimilasse?
Como o mundo mudaria rapidamente, no que concerne à
parte moral…
Muitos espíritas empenham-se (e bem) em campanhas contra
o aborto, a eutanásia, contra a pena de morte.
No entanto, ficam amorfos perante a corrupção social e
política, ficam quietos perante situações sociais
fracturantes, com receio, quiçá, de perderem adeptos ou
para darem uma imagem de gente boazinha e caridosa,
disfarçando assim a sua preguiça e pró-actividade
social.
Este é o grande equívoco dos espíritas.
Kardec refere, e bem, que o mal se insinua, pela
ausência dos bons.
O espírita, como ser social deve empenhar-se em todas as
áreas da vida, sem limite de qualquer espécie, levando a
todos os departamentos da sociedade a luz da doutrina
espírita.
Perigosamente, vemos espíritas válidos, a demitirem-se
das suas obrigações sociais, devido a uma abordagem
doutrinária igrejeira, mística, amorfa,
pseudoespiritualizada, que nada tem a ver com a visão de
Kardec.
Quem não desejaria que os governantes fossem espíritas
honestos, os banqueiros também o fossem, o sistema
financeiro, os empresários das multinacionais e por aí
fora?
Certamente ficaríamos todos felizes.
No entanto, ficamos pachorrentamente, em casa ou no
centro espírita, lendo, meditando, orando, e esperando
que Deus faça aquilo que compete aos homens fazer:
transformar a sociedade, transformando-se interiormente
em primeiro lugar.
Freitas Nobre, no Brasil foi político reconhecido.
Bezerra de Menezes foi deputado (teve de fazer campanha
eleitoral) e isso não o impediu de desempenhar o seu
cargo com honradez.
Gandhi foi um revolucionário político, talvez o maior,
depois de Jesus de Nazaré.
Talvez fosse útil reler os livros de José Herculano
Pires (filósofo e escritor brasileiro, espírita), que
foi, na opinião do médium Francisco Cândido Xavier, o
metro que melhor mediu Kardec.
Para muitos espíritas, as actividades sociais são
previamente seleccionadas, por uma espécie de novo
“Vaticano”, que vai disseminando “directrizes”, em contraciclo com
as exigências sociais, bem como os deveres naturais de
qualquer cidadão e, mais ainda, de qualquer espírita.
Veja o que gosta de fazer, qual a sua tendência, e
embrenhe-se bem na sociedade, levando à mesma a
honestidade, autenticidade, tolerância e fraternidade
que, são apanágio da filosofia e moral espíritas.
Como nos recorda o Evangelho, a fé sem obras de nada
vale…