Um sonho sonhado
Noite alta. Acordando assustado, o filho grita chamando
pela mãe que corre para ajudá-lo. Cheia de ternura ela o
abraça e diz: “calma, filhinho, foi só um sonho”. A
criança vencida pelo cansaço e no aconchego materno
volta a dormir. Episódio muito comum e que revela muito
mais verdade do que normalmente se supõe.
Para nós espíritas, o que se passa? Assunto que perturba
muitos, que intriga outros tantos, mas para a maioria é
deixado na prateleira dos assuntos sem importância.
Um dos princípios básicos do Espiritismo é a crença na
alma e na sua imortalidade. Não somos apenas um punhado
de matéria perecível. As manifestações humanas não são a
resultante ocasional da reação eletromagnética das
sinapses cerebrais, quer sejam a apreciação do que é
belo, da arte, quer sejam as conclusões lógicas da
ciência e da filosofia. Assim cremos. Dentre as muitas
questões que decorrem da existência de um princípio
inteligente que anima a matéria do corpo humano, uma em
especial será o objeto destas reflexões: o que acontece
com a alma durante o sono do corpo. Por óbvio, não se
pretenderá ter o assunto esgotado. Detenhamo-nos um
pouco nisso. Primeiramente é fundamental a distinção
entre sono, sonhos e atividade da alma durante o período
de adormecimento. São coisas distintas. Igualmente
importante a diferença entre os termos alma e espírito.
Almas são os Espíritos encarnados. Quando desencarnados
os denominamos somente de Espíritos.
Agora vejamos o sono. A chamada medicina do sono, ramo
da ciência médica, tem contribuído sobremaneira para a
saúde da humanidade, descobrindo e tratando inúmeros
distúrbios do sono. Por notório, o sono do corpo se dá
para refazimento das energias e recuperação das forças
para as lutas da vida em vigília; é o que diremos sobre
o sono, pois sobre esse tema melhor dirão os cientistas
da área.
Quanto aos sonhos e a atividade da alma durante o sono,
Allan Kardec perscrutou o assunto no mundo espiritual e
consignou o que apurou em O Livro dos Espíritos,
na segunda parte, no capítulo da emancipação da alma, na
questão 400 e seguintes. Concluiu que a alma não dorme,
pois não necessita de descanso, e durante o sono
mantém-se ativa, expande-se. A alma libertada
parcialmente do corpo aplica-se naquilo que lhe apraz,
ou naquilo que lhe permitem as Leis Divinas.
Relaciona-se com os Espíritos e/ou com outras almas.
Tais atividades estão sujeitas ao seu adiantamento
moral, e poderão constituir-se de aflições e sofrimento
ou alegrias e prazer.
Quanto aos sonhos, podemos dizer que não espelham a
realidade. Em alguns casos são lembranças ou recordações
do que se passou com a alma durante seu parcial
desprendimento, digo mesmo que são pálidas lembranças,
obnubiladas pela mente que, quando desperta, tem uma
percepção inexata do que se passou durante o sono. O
hábito da prece, notadamente antes de nos recolhermos ao
leito, pode sim, sob todos os aspectos, ser muito útil.
Pode preparar-nos para o desenlace definitivo do corpo,
caso isso se dê durante o sono. Pode, também, preparar a
jornada que a alma empreenderá na sua parcial liberdade.
São apenas alguns benefícios da prece antes de nos
deitarmos.
A realidade envolve a compreensão da vida em dois
planos. Nós espíritas aceitamos que não vivemos uma
realidade única, e que corpo, mente e espírito interagem
e que entre eles a virtude está no equilíbrio.