Eliminando o bullying
Ao que tudo indica, os sintomas do bullying têm ladeado
– em maior ou menor grau – a evolução humana. Quem não
foi alvo de gozações, brincadeiras de mau gosto,
intimidações ou provocações em algum momento da sua
existência? Quem não passou pela experiência de ser
“infernizado” por alguém em razão do seu sobrenome,
característica física ou jeito de ser? O fato é que
muito dificilmente alguém consegue passar incólume por
tais dissabores e/ou inconveniências. Portanto, se o
bullying – seja com outra denominação ou não – permeou e
continua permeando as nossas vidas, o que mudou, então,
é a forma como se lida com esse fenômeno.
Aliás, a constatação de que ainda se pratica bullying em
nossas sociedades denota a nossa dificuldade em
assimilar inteiramente os exemplos dignificantes de
comportamento humano, bem como conviver cordialmente com
aqueles que são diferentes de nós. Mas como não é
possível eliminar o bullying por decreto, a maneira como
se reage a ele pode ser determinante para a trajetória
vitoriosa ou fracassada de um adolescente ou jovem.
As tragédias recentemente ocorridas em nosso país, assim
como outras que aconteceram em grandes nações,
protagonizadas por adolescentes e jovens alvos de
bullying, clamam por mudanças e ações firmes em várias
dimensões. Diante deste quadro assombroso, é imperioso
que haja um envolvimento muito maior dos pais na vida
dos seus filhos. Afinal, as evidências demonstram
claramente que os adolescentes e jovens perpetradores de
tais atos inomináveis carregam em suas almas graves
distúrbios nem sempre facilmente detectáveis.
Em poucas palavras, são indivíduos inteligentes, embora
espiritualmente doentes. Muitos desfrutam de condições
sociais altamente favoráveis. No entanto, os seus
corações são como vulcões adormecidos, prontos a
irromper violentamente a qualquer momento, ceifando tudo
à sua volta. Ao que parece, um turbilhão de sentimentos
desencontrados envolve esses seres infelizes, que não
conseguem trabalhar pelo próprio ajustamento psicológico
da vida em sociedade. De fato, qualquer adversidade por
eles sofrida serve de ignição, em suas mentes
desequilibradas, para ações brutais contra os seus
pares. Em síntese, é o que se tem observado como
elemento comum em tais lamentáveis acontecimentos.
Reconhecemos que os pais contemporâneos têm diante de si
muitos desafios na criação e encaminhamento dos seus
filhos. Além disso, seria um enorme exagero dizer que
estes sejam, em sua maioria, Espíritos efetivamente
maduros. Há, seguramente, uma grande quantidade de almas
encarnadas iniciando uma jornada reparadora e
precisando, por conta do passado comprometedor, de muito
apoio, encorajamento, amor e, sobretudo, de severa
vigilância. Ademais, fornecer-lhes igualmente as bases
educacionais da moral cristã espírita nos parece medida
vital para a obtenção de uma vida exitosa.
Na verdade, só conseguiremos avançar na eliminação do
bullying em nosso mundo se as nossas crianças forem
ensinadas, desde cedo, sobre a importância de se
praticar as virtudes da empatia, solidariedade, respeito
e amor. Como bem observa o Espírito Ermance Dufaux, na
obra Diferenças Não São Defeitos: A Riqueza da
Diversidade nas Relações Humanas (psicografia de
Wanderley Oliveira), “Se a fraternidade é o pulsar do
coração no respeito incondicional às diferenças, a
solidariedade é o abraço de amor aos diferentes na
atitude concreta de amar”. O Espiritismo pode,
obviamente, servir de lastro nesta direção por meio dos
recursos da evangelização infantil, do estímulo às
leituras edificantes, entre outras tantas providências,
mas não subtrai, em hipótese alguma, o papel dos pais no
processo.
Nesse sentido, a missão da paternidade envolve o
encaminhamento dos filhos na senda do bem para que eles,
por sua vez, venham a adotar um comportamento cidadão
quando forem convocados para tal. Os pais que se omitem
nesta tarefa certamente terão muito a lamentar. Quanto
aos filhos, por fim, espera-se que honrem o sobrenome
recebido e façam jus a todo esforço empreendido em
benefício deles dos dois lados da vida.