A. A explicação física da origem das espécies
reforça a visão materialista do mundo e das
coisas?
Não. Segundo Flammarion, a explicação científica
da origem das espécies não arrebata o cetro das
mãos do Governador do mundo. E quanto a isso,
ele reproduziu uma declaração do próprio Darwin
a favor do sentimento religioso, tal qual
disseram alguns de seus discípulos. Carlos Lyell
emitiu os mesmos conceitos, citando uma
declaração do geólogo Asa Grei em que este
evidencia claramente que a doutrina da variação
e da seleção natural não tende a destruir os
alicerces da Teologia natural.
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
B. No tocante às relações do homem com os
animais que o precederam, que dizia Pascal?
Disse Pascal: “É perigoso demonstrar ao homem o
quanto ele se iguala aos animais, sem lhe
mostrar ao mesmo tempo a sua grandeza. Perigoso,
também, mostrar-lhe a sua grandeza, sem lhe
fazer sentir sua baixeza. Mais perigoso, ainda,
é deixá-lo na ignorância de ambas”.
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
C. A resistência à admissão de fatos novos no
campo da Ciência é algo frequente em nosso
mundo?
Sim. Faz muito tempo que o geólogo Agassiz
emitiu este conceito, frequentemente
justificado: Todas as vezes que um fato novo se
revela no campo da Ciência, logo o averbam de
apócrifo; depois, que é contrário à Religião; e,
por fim, que há muito era sabido. É que, diz
Flammarion, a experiência comprova que a verdade
tem geralmente duas espécies de adversários: os
cépticos do materialismo, e os cépticos do
dogma.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
Texto para leitura
549. Esta explicação física da origem das
espécies não arrebata o cetro das mãos do
Governador do mundo. Já assinalamos acima a
declaração de Darwin a favor do sentimento
religioso e parece-nos que, sobre as
consequências imediatas de qualquer doutrina,
devemos reportar-nos antes à opinião do mestre
que à dos discípulos. Carlos Lyell emite os
mesmos conceitos, citando a seguinte declaração
do geólogo Asa Grei, em que este evidencia
claramente que a doutrina da variação e da
seleção natural não tende a destruir os
alicerces da Teologia natural e que a hipótese
da derivação das espécies em nada contraria
qualquer dos sãos princípios da História
Natural.
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
550. Diz ele:
“Podemos imaginar que os acontecimentos e em
geral as operações da Natureza ocorrem,
simplesmente, em virtude de forças comunicadas
desde o início e sem qualquer ulterior
intervenção, ou podemos admitir tenha havido, de
tempos em tempos, e somente de tempos em tempos,
uma intervenção da Divindade. E podemos, enfim,
supor ainda que todas as mudanças produzidas
resultem da ação metódica e constante, mas,
infinitamente variada, da causa inteligente e
criadora.
“Os que pretendem, de um modo absoluto, que a
origem de um indivíduo, tanto quanto a de uma
espécie ou de um gênero, não se possa explicar
senão por ato direto de uma causa criadora,
podem, sem renunciar à teoria favorita, admitir
a teoria da transmutação, que lhe não é
incompatível. O conjunto e sucessão dos
fenômenos naturais podem não ser mais do que a
aplicação material de um plano preconcebido; e
se essa sucessão de fatos pode explicar-se pela
transmutação, a perpétua adaptação do mundo
orgânico a condições novas deixa, mais valioso
que nunca, o argumento de um plano e,
conseguintemente, de um arquiteto.”
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
551. Quanto à pecha de materialismo imputada a
todas as modalidades da teoria transformista, já
vimos que a teoria da gravitação e grande número
de outras descobertas foram averbadas de
subversivas da Religião. Mas, onde iríamos parar
se houvéssemos de ouvir os lamentos de todos os
teologistas sobressaltados? Longe de possuir
tendência materialista, esta hipótese da
intermissão na Terra, em épocas geológicas
sucessivas, primeiramente da vida, depois da
sensação, do instinto e da inteligência dos
mamíferos superiores convizinhos da
racionalidade e, finalmente, da razão
perfectível do próprio Homem, parece-nos, ao
invés, o desdobramento de um plano grandioso,
apresentando-nos o quadro da predominância
crescente do espírito sobre a matéria.
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
552. Temos sido assaz prolixos no encarar as
relações do homem com os animais que o
precederam, sem embargo da névoa de mistério que
ainda as envolve. É que acreditamos, com Pascal,
que essas comparações sempre têm algum valor. “É
perigoso – dizia o autor de Pensamento –
demonstrar ao homem o quanto ele se iguala aos
animais, sem lhe mostrar ao mesmo tempo a sua
grandeza. Perigoso, também, mostrar-lhe a sua
grandeza, sem lhe fazer sentir sua baixeza. Mais
perigoso, ainda, é deixá-lo na ignorância de
ambas.”
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
553. Ainda que o problema da antiguidade e
origem da espécie humana varie para o geólogo,
para o arqueólogo e para o etnólogo, nem por
isso deixa de averiguar-se que a Humanidade
procede de época muito mais remota do que se
pudera crer. Ainda que esse mesmo problema se
definisse divergente para a Zoologia ou para a
Teologia, não é menos provável, tampouco, que os
nossos antepassados foram inferiores a nós e que
o progresso se manifestou na Humanidade tal como
na escala de toda a Criação.
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
554. Perguntamos, então, aos espíritos de boa
fé: – Em que, a crença na ancianidade do homem,
e mesmo na sua origem simiesca, colide com a
crença num absoluto? Que a vida tenha surgido na
Terra, que se tenha desenvolvido mediante leis
orgânicas e que, do vegetal ao homem, a criação
antediluviana não tenha formado senão uma
unidade, em que pode esta hipótese destruir a
ação divina? Aqui, como no que precede, a
matéria não obedeceu às suas forças? E a vida
dos seres não é uma força especial, regente de
átomos, diretora de todos os movimentos?
Particularmente, na teoria da seleção natural,
não é a força vital que dirige a marcha do
mundo? Aqui, como por toda a parte, a matéria
não é a escrava e a força a soberana? Mesmo se
admitindo a mais alta influência dos meios na
transformação dos órgãos, essa transformação não
será, sempre, o efeito da vida e vida regida
pela inteligência e dotada de uma espécie de
obediência ativa à lei intelectual do progresso?
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
555. Abordando a tese da apropriação dos órgãos
às funções que lhes incumbe executar, bem como
da construção homogênea de cada espécie, dos
dentes aos pés, segundo o seu papel no cenário
do mundo, entramos nos domínios da destinação
dos seres e das coisas.
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
556. Assim, em resumo, vimos de demonstrar que,
seja do ponto de vista da circulação na matéria
dos seres vivos, seja no da origem e da
perpetuidade da vida, esta se constitui de uma
Força única e central para cada ser, que dispõe
a matéria organizável segundo um plano, do qual
o indivíduo deve ser a expressão física. Nesta
segunda, como na primeira parte, temos refutado
todos os pontos dos nossos adversários. Eles não
mais sustentam a sua hipótese materialista e,
com os seus exageros mais temerários, antes
auxiliam a nossa tese, pois conceituando a
matéria capaz de tudo fazer, mal se precatam que
apenas substituem a ideia da força.
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
557. Esperamos que esses inconsequentes
negadores fiquem agora mais satisfeitos com este
capítulo. E antes de passar ao seguinte,
pedimos-lhes notar, para edificação de sua
vaidadezinha, que os gregos e o próprio Arístoto
lhes marchara à frente, visto que para eles as
radicais força e vida eram sinônimos. O filósofo
de Stagira já houvera sustentado que – “a alma é
a causa eficiente e o princípio organizador do
corpo vivo”. Não vale a pena fazer tão grande
alarde de ciência, para ficar abaixo dos Gregos.
(Deus na Natureza – Segunda Parte. A Vida. A
Origem dos Seres.)
558.
O Cérebro –
Há muito tempo que o geólogo Agassiz emitiu este
conceito, frequentemente justificado: Todas as
vezes que um fato novo se revela no campo da
Ciência, logo o averbam de apócrifo; depois, que
é contrário à Religião; e, por fim, que há muito
era sabido. (Deus na Natureza – Terceira
Parte. A Alma. O Cérebro.)
559. Efetivamente, a verdade tem duas espécies
de adversários: os cépticos do materialismo, e
os cépticos do dogma. Se, com razão, nos
admiramos de ver os fisiologistas, adoradores da
matéria, ousadamente proclamarem com entonos de
autoridade e certeza que o homem, bem como o
parque integral da vida planetária, não passam
de produtos da matéria cega, com mais razão
devemos estranhar ainda existam, em nossos
tempos, espíritos cultos, e mesmo célebres, que
se deixem ficar completamente fora do movimento
das ciências físico-químicas, a ponto de fazerem
as objeções mais banais ao que essas ciências
apresentam ao idealismo, sem se precatarem das
modificações necessárias e derivadas desse
movimento em todas as concepções do pensamento
humano.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
560. Assim, temos ainda hoje sábios, filósofos,
teólogos, metafísicos e pensadores, cujos nomes
poderíamos aqui alinhar se houvesse
oportunidade, que nos falam de Deus, da
Providência, da prece, da alma, da vida futura e
presente, das relações da Divindade com o mundo,
das causas finais, da marcha dos acontecimentos,
da independência do espírito, das fórmulas de
culto, das entidades espirituais etc., no mesmo
sentido e nos mesmos termos da escolástica do
século 16.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
561. Os palradores anquilosados desta espécie
são ainda mais curiosos e inexplicáveis do que
os precedentes. Em os ouvindo afirmar, em tom
magistral, as proposições mais contestáveis; em
lhes observando a ignorância das rudes
dificuldades que espíritos mais clarividentes
tão penosamente venceram; em defrontá-los na sua
verve inesgotável e na calma ingênua com que
asseguram a inexpugnabilidade das suas pretensas
verdades – dir-se-ia estarem eles
verdadeiramente adormecidos nesse ano memorável
em que Copérnico, já moribundo, recebia o
primeiro exemplar do seu De Revolutionibus
– para só acordarem hoje, na inconsciência das
revoluções operadas.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
562. Sendo numerosos, ai de nós! esses
espíritos, e porque ainda lhes gravite em torno
um número considerável de partidários, é bom dar
a todos uma ideia dos fatos que lhes deveriam
interessar, mostrando-lhes não ser a eles que
incumbe guardar o depósito crescente do tesouro
humano, uma vez que persistem adormecidos no seu
triste letargo.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
563.
Todos os que descrevem, minudentes, a natureza e
as funções da alma; que explicam perfeitamente
em que momento e por qual meio ela se incorpora
no ventre materno e a porta por onde se escapa
com o derradeiro suspiro; que contam como
comparece ela perante Deus e recebe, no outro
mundo, o prêmio ou castigo temporário ou eterno
de seus atos neste mundo; que evidenciam o
processo de comunicação com o Criador; que a
estimam completamente independente do organismo
e regendo a matéria mediante ideias inatas, que
traz consigo ao encarnar, e que pode dominar
essa matéria como coisa estranha, perseguindo o
corpo com o recusar-lhe em jejuns, macerações e
abstinências, a satisfação das próprias
necessidades; que expõem minuciosamente a
história da alma, puro espírito baixado à Terra
como a um vale de provações – numa palavra,
enfim, todos quantos, em qualquer religião, em
qualquer escola, em qualquer país gastam a sua
eloquência e o seu tempo a propor soluções que
nada resolvem e símbolos que nada significam[i]
– esses, repito, devem ser convidados a meditar
as observações de ano em ano carreadas pelo
progresso das ciências positivas. E, como essas
observações constituem precisamente a base das
conclusões materialistas, temos o duplo dever de
as expor preliminarmente, a fim de julgar depois
se as conclusões foram legitimamente concluídas.
(Deus na Natureza – Terceira Parte. A Alma. O
Cérebro.)
(Continua no
próximo número.)
[i] “Preciso
confessar – dizia Voltaire com muita
franqueza (Dic. Philosophique art. Am)
– que, quando examinei o Infalível
Arístoto, o doutor evangélico, o divino
Platão, concluí não passarem tais
epítetos de meros apelidos. Não vi em
todos esses filósofos que trataram da
alma, mais que cegos cheios de
temeridade, e hábeis no esforço de
persuadir que tinham vistas aquilinas. E
outros curiosos e loucos, que acreditam
de oitiva, e também pensam que veem
alguma coisa.