Entre os Dois
Mundos
(Parte 19)
Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do
livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de
Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P.
Franco no ano de 2004.
Questões preliminares
A. Por que no tratamento da esquizofrenia, mesmo usando
os recursos espirituais tanto quanto os acadêmicos, a
recuperação do paciente se faz, muitas vezes, demorada?
Era esse exatamente o caso do irmão Arcanjo, descrito
neste livro. Segundo Dr. Ximenes (mentor espiritual
do dr. Emir Tibúrcio), a recuperação da saúde está
na razão direta da gravidade do delito, porque alguns,
não remodelados pelos camartelos do sofrimento, em
retornando à sociedade com discernimento, correm o
perigo de reincidir nos desequilíbrios com maiores
prejuízos. Assim, no caso do irmão Arcanjo, tem sido ele
beneficiário de muito socorro, em razão do investimento
de entidades nobres que por ele zelam e
contribuem em seu favor, não impedindo, porém, que
ressarça os gravames sérios que se permitiu. E para isso
o concurso do tempo se fazia providencial.
(Entre os dois mundos. Capítulo 14: Análise e
observações novas.)
B. Em casos semelhantes ao do irmão Arcanjo, obtida a
recuperação do paciente, são comuns as recaídas?
Sim. Dr. Ximenes disse que diariamente acompanhava
pessoas que possuíam tudo para fazer o bem, para o
correto procedimento, para uma vida equilibrada e, no
entanto, se deixavam desviar do rumo feliz pelas
atrações do mal em sintonia com seu psiquismo. E
acrescentou: “Conscientes dos perigos e ingratos a Deus
pelas concessões de que desfrutam, permitem-se abandonar
os bons propósitos, as realizações enobrecedoras a que
se vinculavam, optando pelo desbordar das paixões,
traindo, malsinando, ferindo com astúcia o seu próximo,
os afetos que lhes entregaram o coração e a vida... É
natural que recebam liberdade condicional na afecção ou
no transtorno de que se tornem portadores, mas sob
vigilância, a fim de utilizarem a parcial lucidez para
agir com dignidade e equilíbrio, acumulando méritos para
a total libertação”.
(Entre os dois mundos. Capítulo 14: Análise e
observações novas.)
C. O tratamento da vítima de uma obsessão deve abranger
também o causador da obsessão, o chamado obsessor?
Sim. Sempre se deve ter em
mente, durante os processos de atendimento de
desencarnados, conforme ocorre nas entidades espíritas
dedicadas à desobsessão, que a terapia essencial deverá
ser proporcionada ao hoje obsessor e não somente
direcionada em favor da liberdade do obsidiado. Do ponto
de vista moral o maior sofredor é o desencarnado que
prossegue em angústia, desespero e ódio em relação
àquele que o defraudou. Claro que o encarnado, hoje na
condição de vítima, inspira compaixão e parece merecer a
alforria. Mas o enfermo portador de maior gravidade é o
outro, sua vítima que, desde o momento em que foi
infelicitado, sofre até este momento, experienciando
tormentos inimagináveis.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 14: Análise e observações novas.)
Texto para leitura
168. Na sua fala
aos colegas médicos, Dr. Emir disse que um dia chegará,
não muito distante, em que a Medicina espiritual
substituirá os processos agressivos deste momento, como
já foram mudados os procedimentos antes considerados
valiosos das duchas, das sanguessugas, das sangrias, do
poço das serpentes, da solitária, da insulina, do
eletrochoque. Desde agora, porém, inicia-se um novo
período de psicoterapia com vistas ao futuro melhor da
Humanidade, no qual estão incluídos o amor, a oração, a
caridade em todas as suas expressões, além das terapias
acadêmicas. E observou: “Não será um compromisso de
fácil execução, como, afinal, nada é simples e aplaudido
no seu início, especialmente quando se trata de remover
preconceitos e procedimentos ditos únicos, em
desconsideração pelas novas pesquisas e conquistas do
conhecimento. Encontramo-nos, porém, dispostos a seguir
adiante, abrindo espaços para o futuro, como fizeram os
nossos predecessores, particularmente o apóstolo da
caridade, Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, o
eminente Dr. Inácio Ferreira, o inesquecível médium
Eurípedes Barsanulfo e muitos outros que se empenharam
em atender os distúrbios mentais gerados nas obsessões
de natureza espiritual”. O jovem psiquiatra assimilara
perfeitamente o pensamento do seu instrutor que, por sua
vez, encontrara nele o material indispensável para a
explanação. Dr. Ximenes (mentor do dr. Emir)
exteriorizava grande alegria ante os resultados obtidos
e convidou a todos do grupo socorrista que ficassem na
clínica participando das demais atividades, por mais
algum tempo, no que foi atendido de boa mente pelo
dirigente do grupo.
(Entre os dois mundos. Capítulo 13: Doutor Emir Tibúrcio
Reis, o missionário.)
169.
Análise e observações novas
–
Em
razão da gentileza demonstrada pelo Dr. Ximenes, que
facultara ao grupo a formulação de algumas questões,
Manoel Philomeno de Miranda propôs-lhe a seguinte
pergunta: “Em recordando a problemática de que é objeto
o nosso irmão Arcanjo, vitimado pela esquizofrenia e, ao
mesmo tempo, pela obsessão, não seria de esperar que,
recebendo a terapêutica acadêmica e a espírita,
adquirisse a recuperação total?” Muito amável e
pacientemente, Dr. Ximenes respondeu: “Seria, sim,
ideal que assim acontecesse. Nada obstante, devemos
considerar que o paciente psiquiátrico é, normalmente,
alguém que se utilizou da inteligência e do sentimento
com muita falta de responsabilidade, lesando os núcleos
perispirituais que plasmam no cérebro carnal as
necessidades de reparação. Imaginemos um médico, no uso
da sua missão de melhorar a qualidade de vida dos
enfermos, de amenizar-lhes os sofrimentos, de
prolongar-lhes a existência e até mesmo de recuperá-los
das doenças, que se utiliza do conhecimento intelectual
para a exploração dos seus recursos econômicos, sem
respeito pelo ser humano, que posterga terapias
valiosas, a fim de retê-los por mais tempo sob seus
cuidados, ou que se utiliza da Medicina para o
enriquecimento criminoso mediante o aborto, a
eutanásia, cirurgias desnecessárias; como despertará no
além-túmulo?”
(Entre os dois mundos. Capítulo 14: Análise e
observações novas.)
170. Continuou Dr. Ximenes: “Tenhamos em consideração um
escritor que intoxica as mentes dos seus leitores com
clichês de perversidade e de luxúria, de vandalismo e de
desrespeito; um ator ou atriz que, em nome da arte,
entrega-se aos despropósitos das sensações grosseiras,
arrastando multidões fanatizadas aos abismos morais; um
sacerdote ou pastor religioso, um pregador espírita,
muçulmano ou israelita, ou de outro credo qualquer, que
esgrime a palavra da sua fé religiosa como espada de
separação e de destruição de vidas, ou dela se utiliza
para a própria lubricidade mediante a sedução de
pessoas inexperientes para crimes sexuais, políticos,
de qualquer espécie; os maledicentes e acusadores
contumazes, que somente veem e comentam o que podem
destruir e infelicitar; um cientista que se utiliza do
comércio ignóbil de vidas para as suas experiências
macabras, para a venda de órgãos vitais, para a
conquista do poder, malsinando a inteligência; os
traficantes de drogas, de mulheres e crianças para o
comércio do vício, como despertarão depois da morte? O
remorso cruel, o desespero pelo acoimar das suas
vítimas, a angústia em constatar as alucinações que se
permitiram, o uso perverso que deram às suas aptidões,
aos seus pensamentos e técnicas, explodem-lhes no
espírito e levam-nos à loucura, que prosseguem
vivenciando quando recambiados à reencarnação”.
(Entre os dois mundos. Capítulo 14: Análise e
observações novas.)
171. Acrescentou o Guia espiritual: “As suas vítimas
seguem-nos empós, imantadas à área da
consciência de culpa
e ferreteando-os mais em duelos de ódios inimagináveis.
A nossa tarefa é de permitir-lhes melhores condições
para reparar os crimes, oportunidades mais longas para a
libertação de si mesmos dos grilhões e dos cárceres sem
paredes em que se atiraram espontaneamente. A
recuperação da saúde, portanto, está na razão direta da
gravidade do delito, porque alguns, não remodelados
pelos camartelos do sofrimento, em retornando à
sociedade com discernimento, correm o perigo de
reincidirem nos desequilíbrios com maiores prejuízos.
Assim, no caso em tela, nosso amigo tem sido
beneficiário de muito socorro, em razão do investimento
de entidades nobres que por ele zelam e
contribuem em seu favor, não impedindo, porém, que
ressarça os gravames sérios que se permitiu”. Em
seguida, ele disse que diariamente acompanhava pessoas
que possuem tudo para fazer o bem, para o correto
procedimento, para uma vida equilibrada e, no entanto,
se deixam desviar do rumo feliz pelas atrações do mal em
sintonia com o seu psiquismo. “Conscientes dos perigos e
ingratos a Deus pelas concessões de que desfrutam,
permitem-se abandonar os bons propósitos, as
realizações enobrecedoras a que se vinculavam, optando
pelo desbordar das paixões, traindo, malsinando, ferindo
com astúcia o seu próximo, os afetos que lhes
entregaram o coração e a vida... É natural que recebam
liberdade condicional na afecção ou no transtorno de que
se tornem portadores, mas sob vigilância, a fim de
utilizarem a parcial lucidez para agir com dignidade e
equilíbrio, acumulando méritos para a total libertação.”
(Entre os dois mundos. Capítulo 14: Análise e
observações novas.)
172. Finalizando, Dr.
Ximenes asseverou: “Um hospital, de qualquer
especialidade, é laboratório de recuperações sob a
direção da Divindade, que para ele recambia os
destroçados por si mesmos, a fim de serem remendados. O
psiquiátrico, porém, é também um grande presídio com
melhores recursos de renovação do que o cárcere
convencional. Todos quantos nele se hospedam,
temporária ou permanentemente, além de se encontrarem
em reconstrução, expungem os fluidos deletérios do mal
que se permitiram por longo período. É o caso do nosso
irmão Arcanjo. Liberado de uma das suas vítimas, a sua
conduta atrairá outras companhias compatíveis com as
aspirações que acalente. A medicação auxiliá-lo-á no
quimismo cerebral, trabalhando possibilidades de
equilíbrio e de discernimento, mas ele terá que
recompor-se interiormente e recuperar-se”. Ante o
silêncio natural, e porque lhe parecesse oportuno,
Manoel Philomeno indagou: “O adversário não prometeu
abandoná-lo, mas comprometeu-se em pensar na orientação
que lhe foi dada. Isso significa desistência?” O Mentor
respondeu: “Não necessariamente, mas uma forma de
anuência ao propósito de fraternidade e compaixão.
Sempre se deve ter em mente, durante os processos de
atendimento de desencarnados, conforme ocorre nas
respeitáveis entidades espíritas dedicadas à
desobsessão, que a terapia essencial deverá ser
proporcionada ao hoje obsessor e não somente direcionada
em favor da liberdade do obsidiado”.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 14: Análise e observações novas.)
173. Lembrou Dr. Ximenes,
em sua resposta, que do ponto de vista moral o maior
sofredor é o desencarnado que prossegue em angústia,
desespero e ódio em relação àquele que o defraudou.
Claro que o encarnado, hoje na condição de vítima,
inspira compaixão e parece merecer a alforria. É
compreensível, mas não é justo, visto que o enfermo
portador de maior gravidade é o outro, sua vítima que,
desde o momento em que foi infelicitado, sofre até este
momento, experienciando tormentos inimagináveis. A
aflição que impõe ao seu antigo algoz não representa uma
expressiva percentagem do que o combure interiormente.
Ao informar que iria pensar no assunto, o enfermo
desencarnado abriu espaço para a reflexão que se não
permitia antes, para o discernimento de quanto vem
aplicando mal o tempo numa reparação que somente o
mantém na desdita. Esse período em que ele irá pensar,
constituirá uma trégua na insânia da perseguição, que
resultará no abandono do propósito inditoso da vingança.
Dito isso, Dr. Ximenes informou que os espíritos que são
liberados do processo de vingança permanecem sob a
assistência da clínica, porque, desde antes da sua
construção material, os espíritos que a inspiraram
criaram na sua colônia um departamento especializado em
atendimentos de recuperandos. Logo são desligados dos
processos obsessivos, são eles conduzidos a esse núcleo.
Da mesma forma, outros nosocômios dispõem de centros de
recuperação e de atendimento para os seus internados que
desencarnam, com algumas exceções compreensíveis.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 14: Análise e observações novas.)
(Continua no próximo número.)