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por Bruno Abreu

  
Falo contigo ou comigo?!


Um dos maiores problemas da humanidade é a comunicação. Temos tido muita dificuldade em lidar com este problema de tal forma que continuamos sem nos entender uns com os outros.

A comunicação parece-nos algo muito simples e se olharmos apenas para o fator ruidoso, este é extremamente simples. Há um barulho e é simplesmente um barulho.

Jesus alertou várias vezes que tínhamos ouvidos mas não ouvíamos, mostrando-nos que ouvir é muito mais do que simplesmente escutar. Quando falo em escutar estou a discriminar o ato de recepção do som por parte do aparelho auditivo.

Ouvir é muito mais do que isso, ouvir engloba o ato de compreensão e é aqui que tudo se embaralha.

Ouvir, em termos teóricos, poderá se dividir em diferentes ações. Escutar o som, recepção cerebral, decodificação daquele som, resposta mental.

Por exemplo: Alguém diz – Tenho em casa uma mangueira. A pessoa que ouve recepciona a mensagem, corre na base de dados de seu conhecimento à procura da imagem de interpretação; uns pensarão na mangueira árvore, outros na mangueira para regar e os terceiros que se aperceberem que a palavra serve à descrição de várias coisas perguntarão a qual se referia. Se a imagem de quem recepciona for diferente daquela a qual teve a intenção de ser transmitida pelo dono da mensagem, o que é muito normal, instalam-se duas mensagens completamente diferentes sem se aperceberem.

Imaginem que tenho a necessidade de falar com alguém em Inglês e o meu Inglês é fraco. Aquilo que a pessoa  disser eu tentarei traduzir dentro do meu limitado conhecimento da língua para que eu possa compreender. Como não me apercebo do que perco, e pensando eu que apanhei o que ele quis dizer, tenho uma perda de informação muito grande com a certeza de que correu bem.

A Espiritualidade superior aconselha que os médiuns estudem precisamente por causa do problema da limitação do conhecimento; quanto menor for, mais complicado é de se transmitir a mensagem.

O nosso conhecimento é todo o nosso passado, as nossas experiências, os nossos estudos, a nossa educação etc… Ultrapassa a base de dados, passando mesmo a ser a forma como funcionamos com ela. Se tenho determinada forma de ser, tem a ver com a minha vivência do passado, ou seja, a totalidade de nosso ser, desde o que sei ao que sou, a forma que ajo, os medos que tenho, os desejos que me impulsionam, a forma que ouço, os valores que dou, a totalidade de meu ser é todo um adquirir de meu passado, não só desta reencarnação mas na totalidade do caminho, por isso mesmo, serem os irmãos gêmeos diferentes.

A soma de tudo o que foi referenciado no parágrafo atrás é demonstrado em nossas respostas diárias ao longo da vida, se a tudo isso juntarmos o hábito de viver, para este ser individual temos os princípios do orgulho, egoísmo, vaidade etc…, hábito que será desprendido com a evolução do ser. Não nos diz a Espiritualidade Superior que fomos criados simples e ignorantes e que a finalidade é a sabedoria?

A pessoa que transmite a mensagem também se depara com o problema do conhecimento. As coisas aparecem em nossa mente de forma clara, em seguida traduzimos para palavras, para que possamos transmitir a ideia. Começa logo com o problema do vocabulário, se for diminuto, terei dificuldade de escolher as melhores palavras que se coadunam naquela imagem. Mas partamos de um princípio que o vocabulário é bom no emissor e receptor, o que poderia ter mais importância do que a forma de estar ou forma de ser, e isto é, sem dúvida, diferente nos dois casos.

- Um homem chega todos os dias à casa e deixa as botas de trabalho no meio da sala onde se senta, perturbando sua esposa com o seu ato. A importância do ato é igual para os dois? Ele não vê maldade naquilo, é a casa dele, ela fica indignada porque tem que ser ela a arrumar e não quer as coisas desarrumadas. Por muito que tentem conversar sobre aquele ato eles não se irão entender, têm formas de ver diferentes, as palavras que pulam de um para o outro têm teores diferentes na saída e na chegada da mensagem.

Na comunicação ficamos presos ao sentido individual que damos às palavras, sem procurarmos ter a certeza do que o outro queira transmitir. Isto dá-se em todas as formas de comunicação, mesmo nas de leitura. Cada  vez que leio alguma parte de “O Livro dos Espíritos” entendo-o de uma forma que gosto de chamar “mais completa”, na verdade, um pouco diferente, por poder contar com mais algum conhecimento de minha parte na intrepertação da mensagem.

A interpretação, ato de decodificar com base no conhecimento adquirido, é a maior dificuldade na harmonização da mensagem, fazendo com que hajam compreensões completamente diferentes nos envolvidos das conversas sem consciência disso. Acabamos por estar a conversar conosco próprios, pensamos que o outro entende o que dizemos, com toda a certeza que o estamos a compreender, no que nos é transmitido.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita