Falo contigo ou comigo?!
Um dos maiores problemas da humanidade é a comunicação.
Temos tido muita dificuldade em lidar com este problema
de tal forma que continuamos sem nos entender uns com os
outros.
A comunicação parece-nos algo muito simples e se
olharmos apenas para o fator ruidoso, este é
extremamente simples. Há um barulho e é simplesmente um
barulho.
Jesus alertou várias vezes que tínhamos ouvidos mas não
ouvíamos, mostrando-nos que ouvir é muito mais do que
simplesmente escutar. Quando falo em escutar estou a
discriminar o ato de recepção do som por parte do
aparelho auditivo.
Ouvir é muito mais do que isso, ouvir engloba o ato de
compreensão e é aqui que tudo se embaralha.
Ouvir, em termos teóricos, poderá se dividir em
diferentes ações. Escutar o som, recepção cerebral,
decodificação daquele som, resposta mental.
Por exemplo: Alguém diz – Tenho em casa uma mangueira. A
pessoa que ouve recepciona a mensagem, corre na base de
dados de seu conhecimento à procura da imagem de
interpretação; uns pensarão na mangueira árvore, outros
na mangueira para regar e os terceiros que se
aperceberem que a palavra serve à descrição de várias
coisas perguntarão a qual se referia. Se a imagem de
quem recepciona for diferente daquela a qual teve a
intenção de ser transmitida pelo dono da mensagem, o que
é muito normal, instalam-se duas mensagens completamente
diferentes sem se aperceberem.
Imaginem que tenho a necessidade de falar com alguém em
Inglês e o meu Inglês é fraco. Aquilo que a pessoa
disser eu tentarei traduzir dentro do meu limitado
conhecimento da língua para que eu possa compreender.
Como não me apercebo do que perco, e pensando eu que
apanhei o que ele quis dizer, tenho uma perda de
informação muito grande com a certeza de que correu bem.
A Espiritualidade superior aconselha que os médiuns
estudem precisamente por causa do problema da limitação
do conhecimento; quanto menor for, mais complicado é de
se transmitir a mensagem.
O nosso conhecimento é todo o nosso passado, as nossas
experiências, os nossos estudos, a nossa educação etc…
Ultrapassa a base de dados, passando mesmo a ser a forma
como funcionamos com ela. Se tenho determinada forma de
ser, tem a ver com a minha vivência do passado, ou seja,
a totalidade de nosso ser, desde o que sei ao que sou, a
forma que ajo, os medos que tenho, os desejos que me
impulsionam, a forma que ouço, os valores que dou, a
totalidade de meu ser é todo um adquirir de meu passado,
não só desta reencarnação mas na totalidade do caminho,
por isso mesmo, serem os irmãos gêmeos diferentes.
A soma de tudo o que foi referenciado no parágrafo atrás
é demonstrado em nossas respostas diárias ao longo da
vida, se a tudo isso juntarmos o hábito de viver, para
este ser individual temos os princípios do orgulho,
egoísmo, vaidade etc…, hábito que será desprendido com a
evolução do ser. Não nos diz a Espiritualidade Superior
que fomos criados simples e ignorantes e que a
finalidade é a sabedoria?
A pessoa que transmite a mensagem também se depara com o
problema do conhecimento. As coisas aparecem em nossa
mente de forma clara, em seguida traduzimos para
palavras, para que possamos transmitir a ideia. Começa
logo com o problema do vocabulário, se for diminuto,
terei dificuldade de escolher as melhores palavras que
se coadunam naquela imagem. Mas partamos de um princípio
que o vocabulário é bom no emissor e receptor, o que
poderia ter mais importância do que a forma de estar ou
forma de ser, e isto é, sem dúvida, diferente nos dois
casos.
- Um homem chega todos os dias à casa e deixa as botas
de trabalho no meio da sala onde se senta, perturbando
sua esposa com o seu ato. A importância do ato é igual
para os dois? Ele não vê maldade naquilo, é a casa dele,
ela fica indignada porque tem que ser ela a arrumar e
não quer as coisas desarrumadas. Por muito que tentem
conversar sobre aquele ato eles não se irão entender,
têm formas de ver diferentes, as palavras que pulam de
um para o outro têm teores diferentes na saída e na
chegada da mensagem.
Na comunicação ficamos presos ao sentido individual que
damos às palavras, sem procurarmos ter a certeza do que
o outro queira transmitir. Isto dá-se em todas as formas
de comunicação, mesmo nas de leitura. Cada vez que leio
alguma parte de “O Livro dos Espíritos” entendo-o de uma
forma que gosto de chamar “mais completa”, na verdade,
um pouco diferente, por poder contar com mais algum
conhecimento de minha parte na intrepertação da
mensagem.
A interpretação, ato de decodificar com base no
conhecimento adquirido, é a maior dificuldade na
harmonização da mensagem, fazendo com que hajam
compreensões completamente diferentes nos envolvidos das
conversas sem consciência disso. Acabamos por estar a
conversar conosco próprios, pensamos que o outro entende
o que dizemos, com toda a certeza que o estamos a
compreender, no que nos é transmitido.
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