Amparo legal
Há expressões com as quais lidamos diariamente. Quase
sempre não extraímos a profundidade de suas palavras.
Buscamos continuamente preservar nossos direitos e que
garantam uma sobrevivência aparentemente tranquila.
Essas expressões situam-se bem próximas à consciência e
as utilizamos sempre, até mesmo como clichês. Uma dessas
expressões refere-se ao amparo legal. Termo jurídico,
aparentemente, mas que se estende a outras dimensões
quase sempre esquecidas no porão do inconsciente ou até
mesmo ainda não formuladas pelo mesmo. Estamos chegando
a um tempo de muitas transformações individuais e
sociais. Muito embora elas quase sempre não se mostrem,
mas ocorrem de forma dinâmica, precisa e permanente.
Noutro dia vi um menino que olhava para a linha do
horizonte. Estava muito sério, embora suas feições
transmitissem paz. Tentei conversar com ele, mas não
ousei. Percebi ali que não se tratava de um menino e sim
de um Espírito antigo em busca das suas riquezas
íntimas. Fiquei observando-o a distância e analisando no
que deveria estar pensando. Provavelmente se um familiar
ali comparecesse, utilizaria da sua imprópria autoridade
e o abordasse com dizeres comuns, desses assim:
- Vem almoçar, menino.
- Já escovou os seus dentes?
- Hoje vamos à festa na casa do...
Essas falácias são ditas centenas e centenas de vezes
por quase todos em todos os dias. Porém refletem apenas
o interesse pessoal ao qual se refere a questão 895 de
O Livro dos Espíritos. Será que aquele
menino estava pensando em seu amparo legal?
Uma vez também fiquei olhando para a linha do horizonte
e percebi quanto sou amparado por Deus. A legalidade
deste amparo garante minha existência. Sem ela de nada
adiantariam as buscas pela sobrevivência do corpo, uma
vez que é o Espírito que o sustenta, concluindo-se daí
que o amparo legal é aquele que sustenta o Espírito. E
qual é essa sustentação espiritual? Sabe-se que somos
criados individualmente e de formas singulares com Deus.
Assim sendo Ele dá a cada um segundo suas necessidades
evolutivas. Este amparo chega na razão direta dos
imperativos do agora. Agora é o instante adequado, pois
dele dependerá nosso próximo passo. Dar o passo
representa ação dinâmica, sem volteios ou busca de
comiserações alheias quando, na verdade, todos já
estamos potencializados para as vitórias através do
amparo legal de Deus. Quando chegamos a este ponto de
entendimento as coisas começam a funcionar melhor. Já
não somos mais eternos pedintes e sim caminheiros que
buscam porque sabem o que querem.
Esta é outra questão importante: saber o que quer.
Nossas buscas referem-se apenas às satisfações dos
interesses daqui, do plano físico, ou já conseguimos
olhar um pouco mais à frente, na espiritualidade, e até
noutra existência? Este é o deslanchar natural da mente
que insistimos por deixá-la engessada nesta cata obscura
do ego inferior, quase sempre através de um passado de
breu, como bem disse o poeta cantador.
A Doutrina Espírita consola e liberta, contudo,
necessitamos estudá-la com propriedade. Não basta
dizer-se espírita e frequentar semanalmente uma Casa de
Estudos Espíritas. Isso é apenas o começo. Um compêndio
da grandeza do Espiritismo necessita ser consultado o
tempo todo, uma vez que ele é o reflexo do Evangelho do
Divino Governador deste planeta e tutor das nossas
almas.
O amparo legal verdadeiro inicia-se com nossos
conhecimentos sobre o que é a vida, o que ela representa
para nós e como nos funcionamos dentro das suas
dinâmicas. “A cada um segundo suas obras”, disse-nos o
Divino Pastor. Desta forma, eu me amparo legalmente
quando pratico meus deveres de forma concisa e sem os
eternos jogos dos interesses pessoais.
Aquele menino devia estar pensando como amparar-se
legalmente neste mundo de incertezas e contradições onde
cada um, quase sempre, busca salvar-se! Amemo-nos como
irmãos: eis a chave da vitória. No mais, são procuras
constantes aos juízes terrenos tão atarefados e imersos
em leis transitórias que, provavelmente, irão demorar
muito em conceder um amparo que já nasce conosco, desde
que fomos criados por Deus.