E agora, por que te deténs?¹
“Pois aquilo que o homem semear, também ceifará.” –
Paulo (Gálatas, 6:7)
Muitos de nós, beneficiários do Evangelho, permanecemos
presos a obstáculos de toda sorte “na península nebulosa
da queixa”, conforme assevera o benfeitor espiritual
Emmanuel. Lastimamos não haver recebido nos dias de
juventude e de facilidades materiais os ensinos
reveladores da luz evangélica. Todavia, na madureza da
existência terrena, continuamos a praticar os mesmos
atos infelizes, sustentando as mesmas tendências
perniciosas que impedem nosso crescimento espiritual.
Insistimos na manutenção da exterioridade de quem se
dispõe a ajudar o próximo, mas, quando chamados ao
serviço ativo, encontramos mil desculpas para não nos
apresentarmos: é a falta de tempo, de recursos
materiais, de saúde, de forças...
A contradição entre o parecer ter vontade de ajudar e o
realizar de fato está sempre nos cercando. Quando há
oportunidade de serviço e a saúde está perfeita, não
temos tempo; quando doentes, sentimos falta de não
sermos convidados a ele, porque ouvimos dizer que o
trabalho no bem ajuda a termos saúde. Essas
manifestações destrutivas precisam ser combatidas em
nossa personalidade se desejarmos nos manter a salvo de
envolvimentos espirituais que mais nos adoecem física e
espiritualmente.
Existe muito trabalho na seara do Pai Celestial, em
qualquer tempo, em qualquer situação, em qualquer lugar.
As possibilidades de se fazer alguma coisa, qualquer
coisa, em benefício do próximo e de nós mesmos, está
presente ao nosso redor. Todo dia é dia de semear. Todo
dia é tempo de colher.
No evangelho de Mateus, capítulo 9, versículo 37, Jesus
afirma enfaticamente aos discípulos: “A seara é
realmente grande, mas poucos os ceifeiros”. Os
ensinamentos do Mestre são dirigidos, principalmente, à
turba de corações desalentados e errantes que se
assemelhava, segundo a narrativa do evangelista, a um
rebanho sem pastor: fisionomias tristes, olhos
suplicantes...
O símbolo da seara realmente grande usado por Jesus
representa um alerta para repensarmos nossas atitudes
diante do chamamento que o Evangelho nos faz, frente à
imensidão de dores e do nosso acomodamento. As palavras
benditas do Excelso amigo permanecem no mundo por
bendita dádiva celestial com o propósito de nos
enriquecer, entretanto, a percentagem de pessoas
realmente dispostas ao trabalho é muito reduzida.
É preciso erguer os olhos e nos levantarmos desse
comodismo no qual nos mantemos e colher valores novos,
enriquecendo-nos, nutrindo-nos através de um trabalho
laborioso de iluminação espiritual. Mas, para que isso
aconteça, mister se faz que nos elevemos a esferas mais
altas, buscando conhecimentos superiores, verdades
eternas que proclamam, segundo Emmanuel ² “que a
felicidade não é um mito; que a vida não constitui
apenas o curto período de manifestações carnais na
Terra; que a paz é tesouro dos filhos de Deus”.
Envolvendo tarefas nobres, o trabalho espiritual pesa,
consideravelmente, na contabilidade divina, pois será
através dele que a Justiça Divina atuará ante o
indefectível tribunal da consciência.
Em qualquer posição na qual estejamos e em qualquer
tempo no qual nos situemos, estamos cercados pelas
possibilidades de serviço com Jesus. E é para todos nós,
que já recebemos as dádivas divinas dessas
oportunidades, que o apóstolo Paulo de Tarso pronunciou
o desafio que ele próprio recebeu: E agora, por que te
deténs?
“Chegastes no tempo em que se cumprirão as profecias à
transformação da Humanidade. Felizes serão os que
tiverem trabalhado no campo do Senhor com desinteresse e
movidos apenas pela caridade.” ³
Se já sabemos que a Vida não termina no túmulo porque o
Espírito sobrevive ao corpo, se já assimilamos algum
conhecimento das lições benditas trazidas por Jesus, por
que tanto medo em agir diferente de alguns até hoje?
Necessário se faz refletirmos e identificarmos em nós os
fatores que impedem nossa renovação.
O apóstolo dos gentios reviu seus conceitos e aceitou
seguir Jesus, mesmo sofrendo todas as humilhações pelas
quais passaram os primeiros cristãos. Hoje, não
precisamos mais sofrer tudo o que sofreram, pois eles
nos abriram os caminhos. Então, por que tanta
resistência?
Bibliografia:
1 – ATOS, 22:16.
2 – XAVIER, F. C. – Vinha de Luz – 14ª edição –
FEB – Rio de Janeiro/RJ – lição 10.
3 – KARDEC, Allan - O Evangelho segundo o
Espiritismo – Cap. XX, item 5.
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