Kardec e o vocábulo
moral
Alguns vocábulos utilizados por Kardec possuíam, em sua
época, uma conotação distinta dos dias de hoje, e outros
termos, frequentemente usados em nossos dias, sequer
eram empregados no século XIX. O termo moral é um
desses termos. Investigando o tema, encontramos em O
Livro dos Espíritos, três usos diferentes do
vocábulo moral:
a) como bom ânimo ou disposição, como se vê na frase
“usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não
para os esmagar com o seu orgulho”. (OLE, item
918)
b) como mental ou psíquico, como na seguinte citação: “os
Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e
mesmo sobre o mundo físico” (OLE, Int. item 6). O
vocábulo psicológico e também o termo psicologia possuem
hoje uma conotação diferente do que possuíam à época de
Kardec. A psicologia era entendida, então, como a
ciência da alma - alma como ser, inteligência que
comanda o corpo, independentemente da crença em sua
sobrevivência. Kardec não se utiliza do vocábulo
psíquico, amplamente utilizado em nossos dias. Kardec
emprega os termos mente e mental como sinônimos de
pensamento. A psicologia, como o estudo dos fenômenos
psíquicos e de comportamento do ser humano por
intermédio da análise de suas emoções, suas ideias e
seus valores, inexistia àquela época. O primeiro
laboratório psicológico foi fundado pelo
fisiólogo alemão
Wilhelm Wundt,
em
1879.
c) como regras de conduta, bons costumes, como se
verifica em “a moral consiste na regra de bem
proceder. O homem procede bem quando faz tudo pelo bem
de todos” (OLE, item 629).
Esse último conceito de moral, o mais empregado em
nossos dias, implica obrigatoriamente em uma relação com
outra pessoa, relação esta que interfere no bem-estar do
outro.
Nossos atos são imorais quando lesam,
desconsideram, prejudicam, minoram etc. outra pessoa,
ou, de forma mais planetária, os seres sencientes. Estes
atos inserem o faltoso na lei de causa e efeito,
mecanismo divino, que tem como finalidade a educação da
alma em trânsito para projetos superiores de vida.
Não se encontra na obra kardequiana o vocábulo ética.
Pelo exposto, Kardec, ao se referir a moral como o certo
e o errado, não fazia distinção entre moral e ética. Tal
distinção é encontrada na Ética como disciplina
filosófica, onde a ética é a teoria ou ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade e, por
moral, entende-se um conjunto de normas e regras
destinadas a regular as relações dos indivíduos numa
comunidade social.
Assim, a avaliação cuidadosa do contexto em que Kardec
emprega o termo “moral” em seus textos pode contribuir
para seu melhor entendimento.