Família, oficina de reparação
Da montanha de luz, a alma contempla o vale escuro que
lhe compete trabalhar na aquisição de valores
imperecíveis para voos mais altos. Sob o prisma adequado
à nossa justa ascensão, apreciaremos aspectos da luta,
onde iremos trabalhar um rico e profundo material para a
conquista dos princípios mais elevados, através de
sofrimentos e conflitos naturais, que são as
experiências as quais partilharemos na vida do lar.
Nele, encontraremos a escola que edificará nossas almas
e o amor que agirá com o sentimento nobre,
convocando-nos à compreensão e à generosidade diante de
todos que caminham conosco. Neste santuário em que a
bondade de Deus nos situa, recebemos o nosso primeiro
mandato de serviço cristão, onde encontraremos o
adversário de ontem convertido em parente próximo.
Podemos entender, então, que a família consanguínea é
lavoura de luz da alma, dentro da qual vencem aqueles
que se revestem de paciência e renúncia, aprendendo o
respeito, a ternura de amar sem exigir reciprocidade,
erguidos em estrutura sólida do exemplo de desvelo, da
compaixão, do amor, da cooperação, e da bondade. Assim,
nos habilitaremos a servir com vitória as grandes
experiências.
Os laços de família vão mais além do que a herança
genética. Para a Doutrina Espírita, a família é oficina
de reparação onde esses laços serão fortalecidos nas
diversas oportunidades reencarnatórias, através da
função educativa e regenerativa da vivência sadia,
pautada nos princípios morais e da justiça. Para isso, é
preciso respeitarmos o lar como local sagrado, onde
viveremos com nossos familiares, não permitindo que se
transforme em lugar de vibrações negativas e posturas
inadequadas.
No mundo atual, assistimos às disputas, sofrimentos e
aversões familiares, quando nos deixamos levar pela
ambição, ciúmes e egoísmo dentro do próprio recinto
doméstico. Porém, seja qual for o tipo de família em que
cada um de nós esteja situado, cumpre-nos o dever do
amor filial e fraternal, mantendo a gentileza e a
educação no trato com todos que vivem conosco,
amenizando as lutas que enfrentaremos lá fora, onde não
existem o respeito e o aconchego do lar, cumprindo
assim, as tarefas que ficaram na escuridão dos equívocos
passados. Desta forma, a família bem estruturada em
bases cristãs terá melhores chances de minimizar os
conflitos e desajustes do grupo, do qual fazem parte.
Asseveram os Espíritos superiores, na questão 775 de
O Livro dos Espíritos, que a família é o alicerce da
sociedade e nela se assenta a base da harmonia dos
povos.
Toda problemática de existências anteriores ressurge
convidando-nos à abnegação e ao perdão aos que criam
dificuldades no grupo familiar. Santo Agostinho, em O
Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 14,
item 9, aclara: “acolhei-os, portanto,
como irmãos; auxiliai-os e depois, no mundo dos
Espíritos, a família se felicitará por haver salvo
alguns náufragos que, a seu turno, poderão salvar
outros”. No mesmo capítulo, Allan Kardec, o
codificador do Espiritismo, esclarece: “De todas
as provas, as mais duras são as que afetam o coração.
Aquele que suporta com coragem a miséria e as provações
materiais sucumbe ao peso das amarguras domésticas,
esmagadas pela ingratidão dos seus”. Com esse
comentário, ainda neste mesmo capítulo, Santo
Agostinho analisa as dores sentidas pelos que sofrem
no lar a desarmonia, as incompreensões e a ingratidão,
mencionando que “somente encontrarão a coragem moral
os que conseguirem entender as causas dos conflitos
que dilaceram as almas mais sensíveis”.
Precisamos entender que é necessário fazer, a cada dia,
um capítulo de serviço e bondade no livro de nossas
relações ante a vida e os nossos semelhantes, permitindo
que a alegria, a esperança, o otimismo e a fé nos
iluminem a estrada, mesmo quando estivermos induzidos a
libertar nossas aflições em forma de lágrimas.
Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e
sintonia que conseguiremos tecer por intermédio do amor
bem vivido, mas, também, as algemas do constrangimento e
da aversão, nas quais recolheremos de volta as
banalidades inquietantes que nós mesmos plasmamos de
lembranças passadas, e que necessitamos desfazer à custa
de trabalho, sacrifício e humildade; recursos com que
faremos nova produção de reflexos espirituais passíveis
de anular os efeitos de nossa conduta anterior
conturbada e infeliz.
Segundo a benfeitora espiritual Joanna de Ângelis:
“O mandamento maior preconizado por Jesus recomenda
que o amor deve ser incessante e inevitável, coroando-se
de perdão pelas ofensas recebidas. No grupo familiar,
esse amor deve ser mais expressivo conduzindo o perdão a
um tão elevado grau que quaisquer ressentimentos de
ocorrências infelizes se façam ultrapassadas pela
compreensão das dificuldades emocionais em que os
genitores viviam em razão da sua imaturidade moral, e
mesmo de sutis causas que remanesciam de existências
anteriores, gerando antipatia e mal-estar, que não raro
se fazem recíprocos.... Amar, sempre é o impositivo
existencial”, conforme encontramos no livro Jesus
e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, capítulo
Amor Filial.
Deste modo, vamos absorvendo, através do exercício deste
amor, para sermos conduzidos ao equilíbrio e à
verdadeira felicidade.
Compreendendo, assim, à luz da Doutrina Espírita, que o
nosso lar é o primeiro estágio no aprendizado sublime; é
a vida de relação proporcionando-nos meios de enfrentar
as lutas e responsabilidades com o que enriqueceremos
nossos Espíritos nos momentos de testemunho, e na busca
crescente do conhecimento e da paz que tanto almejamos.
Bibliografia:
XAVIER, C. Francisco – Pronto-Socorro – ditado
pelo Espírito Emmanuel – 1ª edição – Brasília/DF/
Editora FEB - 2015 – Capítulo 21.
XAVIER, C. Francisco – Família – ditado por
Espíritos diversos – 1ª edição – Brasília/DF/Editora FEB
– 2016 – páginas 11, 16, 24, 73, 79.
FRANCO, P. Divaldo – Amor imbatível Amor – ditado
pelo Espírito Joanna de Ângelis - 1ª edição – Salvador /
BA/ Editora Leal – capítulo 61.