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por Temi Mary Faccio Simionato

 
Família, oficina de reparação


Da montanha de luz, a alma contempla o vale escuro que lhe compete trabalhar na aquisição de valores imperecíveis para voos mais altos. Sob o prisma adequado à nossa justa ascensão, apreciaremos aspectos da luta, onde iremos trabalhar um rico e profundo material para a conquista dos princípios mais elevados, através de sofrimentos e conflitos naturais, que são as experiências as quais partilharemos na vida do lar. Nele, encontraremos a escola que edificará nossas almas e o amor que agirá com o sentimento nobre, convocando-nos à compreensão e à generosidade diante de todos que caminham conosco. Neste santuário em que a bondade de Deus nos situa, recebemos o nosso primeiro mandato de serviço cristão, onde encontraremos o adversário de ontem convertido em parente próximo.

Podemos entender, então, que a família consanguínea é lavoura de luz da alma, dentro da qual vencem aqueles que se revestem de paciência e renúncia, aprendendo o respeito, a ternura de amar sem exigir reciprocidade, erguidos em estrutura sólida do exemplo de desvelo, da compaixão, do amor, da cooperação, e da bondade. Assim, nos habilitaremos a servir com vitória as grandes experiências.

Os laços de família vão mais além do que a herança genética. Para a Doutrina Espírita, a família é oficina de reparação onde esses laços serão fortalecidos nas diversas oportunidades reencarnatórias, através da função educativa e regenerativa da vivência sadia, pautada nos princípios morais e da justiça. Para isso, é preciso respeitarmos o lar como local sagrado, onde viveremos com nossos familiares, não permitindo que se transforme em lugar de vibrações negativas e posturas inadequadas.

No mundo atual, assistimos às disputas, sofrimentos e aversões familiares, quando nos deixamos levar pela ambição, ciúmes e egoísmo dentro do próprio recinto doméstico. Porém, seja qual for o tipo de família em que cada um de nós esteja situado, cumpre-nos o dever do amor filial e fraternal, mantendo a gentileza e a educação no trato com todos que vivem conosco, amenizando as lutas que enfrentaremos lá fora, onde não existem o respeito e o aconchego do lar, cumprindo assim, as tarefas que ficaram na escuridão dos equívocos passados. Desta forma, a família bem estruturada em bases cristãs terá melhores chances de minimizar os conflitos e desajustes do grupo, do qual fazem parte.

Asseveram os Espíritos superiores, na questão 775 de O Livro dos Espíritos, que a família é o alicerce da sociedade e nela se assenta a base da harmonia dos povos.

Toda problemática de existências anteriores ressurge convidando-nos à abnegação e ao perdão aos que criam dificuldades no grupo familiar. Santo Agostinho, em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 14, item 9, aclara: “acolhei-os, portanto, como irmãos; auxiliai-os e depois, no mundo dos Espíritos, a família se felicitará por haver salvo alguns náufragos que, a seu turno, poderão salvar outros”. No mesmo capítulo, Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, esclarece: “De todas as provas, as mais duras são as que afetam o coração. Aquele que suporta com coragem a miséria e as provações materiais sucumbe ao peso das amarguras domésticas, esmagadas pela ingratidão dos seus”. Com esse comentário, ainda neste mesmo capítulo, Santo Agostinho analisa as dores sentidas pelos que sofrem no lar a desarmonia, as incompreensões e a ingratidão, mencionando que “somente encontrarão a coragem moral os que conseguirem entender as causas dos conflitos que dilaceram as almas mais sensíveis”.

Precisamos entender que é necessário fazer, a cada dia, um capítulo de serviço e bondade no livro de nossas relações ante a vida e os nossos semelhantes, permitindo que a alegria, a esperança, o otimismo e a fé nos iluminem a estrada, mesmo quando estivermos induzidos a libertar nossas aflições em forma de lágrimas.

Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e sintonia que conseguiremos tecer por intermédio do amor bem vivido, mas, também, as algemas do constrangimento e da aversão, nas quais recolheremos de volta as banalidades inquietantes que nós mesmos plasmamos de lembranças passadas, e que necessitamos desfazer à custa de trabalho, sacrifício e humildade; recursos com que faremos nova produção de reflexos espirituais passíveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior conturbada e infeliz.

Segundo a benfeitora espiritual Joanna de Ângelis: “O mandamento maior preconizado por Jesus recomenda que o amor deve ser incessante e inevitável, coroando-se de perdão pelas ofensas recebidas. No grupo familiar, esse amor deve ser mais expressivo conduzindo o perdão a um tão elevado grau que quaisquer ressentimentos de ocorrências infelizes se façam ultrapassadas pela compreensão das dificuldades emocionais em que os genitores viviam em razão da sua imaturidade moral, e mesmo de sutis causas que remanesciam de existências anteriores, gerando antipatia e mal-estar, que não raro se fazem recíprocos.... Amar, sempre é o impositivo existencial”, conforme encontramos no livro Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, capítulo Amor Filial.

Deste modo, vamos absorvendo, através do exercício deste amor, para sermos conduzidos ao equilíbrio e à verdadeira felicidade.

Compreendendo, assim, à luz da Doutrina Espírita, que o nosso lar é o primeiro estágio no aprendizado sublime; é a vida de relação proporcionando-nos meios de enfrentar as lutas e responsabilidades com o que enriqueceremos nossos Espíritos nos momentos de testemunho, e na busca crescente do conhecimento e da paz que tanto almejamos.

 

Bibliografia:


XAVIER, C. Francisco – Pronto-Socorro – ditado pelo Espírito Emmanuel – 1ª edição – Brasília/DF/ Editora FEB - 2015 – Capítulo 21.

XAVIER, C. Francisco – Família – ditado por Espíritos diversos – 1ª edição – Brasília/DF/Editora FEB – 2016 – páginas 11, 16, 24, 73, 79.

FRANCO, P. Divaldo – Amor imbatível Amor – ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis - 1ª edição – Salvador / BA/ Editora Leal – capítulo 61.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita