Entre os Dois
Mundos
(Parte 23)
Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do
livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de
Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P.
Franco no ano de 2004.
Questões preliminares
A. Um vulto aguardava, às ocultas, a oportunidade matar
o médium Silvério. Quem era ele?
O rapaz chamava-se Almério.
Até uma semana antes era ele funcionário do complexo
médico da Instituição, onde eram atendidos dependentes
químicos, alcoólicos e afins. Mas, em vez de dedicar-se
à atividade de enfermagem para a qual fora contratado,
não resistiu à ganância e passou a vender drogas a
alguns dos pacientes, aos quais deveria atender com
respeito e disciplina. Como esses dependentes não
melhorassem o quadro, embora sob cuidadosa assistência
especializada, o fato chamou a atenção do nosso amigo
Silvério que, em companhia do diretor clínico, chegou à
conclusão de que alguém estaria violando os estatutos
da Casa. Resolvidos a observar e descobrir o que se
passava, terminaram por surpreender o incauto e perverso
funcionário.
(Entre os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de
bênçãos.)
B. Em face da descoberta, Almério foi despedido?
Sim. Contudo, tomados de
comiseração pelo infeliz, Silvério e o diretor clínico
evitaram denunciá-lo à polícia, o que seria o correto,
resolvendo aplicar a misericórdia que emana do
Evangelho, chamando-o à responsabilidade e demitindo-o
com todos os direitos que lhe eram atribuídos pela
legislação de trabalho vigente. O desatinado, porém, ao
invés de tornar-se reconhecido aos seus benfeitores
generosos, tomou-se de profundo ressentimento pelo
médium, sob a inspiração de inimigos violentos e cruéis
com os quais sintonizava. E planejara assassiná-lo
naquela mesma noite, aguardando-o como um felino
traiçoeiro que espera a vítima indefesa.
(Entre os dois mundos.
Capítulo 16: O santuário de bênçãos.)
C. O crime foi consumado?
Não, graças à ajuda do Dr.
Arquimedes, mentor espiritual do grupo socorrista do
qual Manoel Philomeno de Miranda fazia parte. Assistindo
à cena, o benfeitor acercou-se do rapaz e do grupo de
espíritos que o inspiravam, concentrando-se de modo
especial em Almério. Miranda viu, então, que sucessivas
ondas luminosas partiam-lhe da mente e alcançavam o
tresvariado, produzindo choques especiais nos seus
comparsas desencarnados, que se afastaram psiquicamente,
blasfemando e gritando palavras chulas, menos um deles
que se lhe fixava ao chakra cerebral, telecomandando-o.
Dr. Arquimedes aproximou-se mais e aplicou-lhe energias
vigorosas que interferiram no acoplamento psíquico,
desligando-lhe o plugue da tomada e fazendo-o tombar sob
o impacto do choque. O paciente, liberado rapidamente
da violenta força que o impelia ao crime, cambaleou e,
atendido pelo Mentor que transmitiu nova carga,
sentiu-se entontecer, sendo acometido de um desmaio no
momento exato em que Silvério, sua quase vítima,
passava. (Entre
os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de bênçãos.)
Texto para leitura
201. Sucediam-se no
recinto os necessitados, que adentravam a saleta
assinalados pelo sofrimento de grande variedade, dali
saindo renovados, com outro aspecto, banhados de
especial claridade balsamizante que os penetrava. Em
outras salas, igualmente simples, diversos médiuns e
passistas dedicados atendiam as pessoas sofredoras,
infundindo-lhes bom ânimo e coragem para a luta.
Iniludivelmente, tratava-se de um verdadeiro santuário
de bênçãos, acolhendo o sofrimento e diminuindo-o nas
vidas e nos corações. O intercâmbio com plano espiritual
era contínuo, porquanto se adentravam laboriosos
servidores do bem, acompanhando outros espíritos em
situação deplorável, diversos portando angústias e
ansiedades, grande número em hebetação e loucura.
(Entre os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de
bênçãos.)
202. Na grande sala realizavam-se, naquele momento,
estudos evangélicos direcionados a esses visitantes
espirituais em rudes padecimentos. Nobre Entidade
discorria sobre a coragem na luta e a resignação
ante os acontecimentos que os tornaram aflitos em
decorrência da insensatez de cada um. Ao mesmo tempo,
elucidava a respeito das imensas possibilidades que lhes
estavam ao alcance, desde que se entregassem ao programa
de reabilitação. Em razão da diversidade dos
assistentes, o clima psíquico era compreensivelmente
agitado. Um ambulatório médico para atendimento de
emergência sempre se encontra em movimentação e com
bulha, cabendo aos seus administradores e equipes
especializadas a manutenção da ordem e do equilíbrio.
Ali ocorria o mesmo, porquanto a finalidade era esta:
socorro de emergência!
(Entre os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de
bênçãos.)
203. Passava da meia-noite
quando Silvério desincumbiu-se do atendimento fraternal
que lhe fora reservado. Apresentava-se bem disposto e
jovial, sem qualquer sinal de cansaço. Assessorado por
dois cooperadores que o aguardavam, dirigiu-se ao lar
dos idosos, onde a movimentação espiritual era também
expressiva. Aqueles que se encontravam inquietos sob
perturbações psíquicas e espirituais inferiores
receberam a cooperação dos passes renovadores, outros,
que ainda estavam despertos, foram gentilmente
visitados, ouvindo palavras de reconforto e de paz, a
todos dispensando bondade e afeto enriquecedor. Podia-se
perceber quanto era amado pelas filhas e filhos do
Calvário, que o bendiziam por sua vez, reconhecidos
pelo amparo de que eram objeto. A madrugada anunciava-se
muito suavemente. Naquela hora, o servidor de Jesus
despediu-se dos amigos e rumou na direção dos seus
próprios aposentos, em uma pequena construção na imensa
área arborizada onde se localizava a Instituição de amor
e de caridade.
(Entre os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de
bênçãos.)
204. Quando o
acompanhamos, a convite do Dr. Arquimedes, este
informou-nos que ali estavam para o socorro de
emergência que deveríamos oferecer ao dedicado seareiro
de nossa esfera, em pleno ministério de autoiluminação.
Apontando na direção de vetustas árvores carregadas de
frutos tropicais, que projetavam sombra espessa pela
vereda por onde seguia o trabalhador, nosso Mentor
chamou-nos a atenção para um vulto que se esgueirava
por detrás de um dos troncos mais volumosos, armado de
punhal, apresentando-se inquieto e perturbado. “Trata-se
de Almério – informou, gravemente. Até há uma semana era
funcionário do complexo médico da Instituição, onde
estão internados alguns dependentes químicos,
alcoólicos, etc. Em vez de dedicar-se à atividade de
enfermagem para a qual fora contratado, não resistiu à
ganância e passou a vender drogas a alguns dos
pacientes, aos quais deveria atender com respeito e
disciplina. Como esses dependentes não melhorassem o
quadro, embora sob cuidadosa assistência especializada,
o fato chamou a atenção do nosso amigo Silvério que, em
companhia do diretor clínico chegou à conclusão de que
alguém estaria violando os estatutos da Casa.
Resolvidos a observar e descobrir o que se passava,
terminaram por surpreender o incauto e perverso
funcionário, logo recorrendo a providências para
dispensar-lhe os serviços.”
(Entre os dois mundos.
Capítulo 16: O santuário de bênçãos.)
205. Segundo o Mentor
relatou, tomados de comiseração pelo infeliz, evitaram
denunciá-lo à polícia, o que seria justo, resolvendo
aplicar a misericórdia que emana do Evangelho,
chamando-o à responsabilidade e demitindo-o com todos
os direitos que lhe são atribuídos pela legislação de
trabalho vigente. O desatinado, contudo, ao invés de
tornar-se reconhecido aos seus benfeitores generosos,
tomou-se de profundo ressentimento pelo médium, sob a
inspiração de inimigos violentos e cruéis com os quais
sintoniza. Conhecendo-lhe os hábitos e a movimentação
constante, planeja assassiná-lo dentro de breves
momentos, aguardando-o como um felino traiçoeiro que
espera a vítima indefesa. Completamente aturdido pelos
adversários espirituais da Humanidade, espreita-o para
apunhalá-lo, quando ele se dirigir à sua habitação.
Naquele momento de expectativa, pôde-se notar a
algazarra dos desencarnados em volta do invigilante,
que se encontrava possesso pelo ódio que acalentara
injustamente e pelo que lhe era insuflado pela horda de
espíritos perversos.
(Entre os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de
bênçãos.)
206. Embora Silvério se
encontrasse sob o amparo do seu guia espiritual, nobre
espírito responsável pelo trabalho que ele vinha
desenvolvendo no imenso complexo de assistência e de
serviço social, o Mentor acercou-se do grupo inamistoso
e concentrou-se profundamente em Almério. Miranda viu
que sucessivas ondas luminosas partiam-lhe da mente e
alcançavam o tresvariado, produzindo choques especiais
nos seus comparsas desencarnados, que se afastaram
psiquicamente, blasfemando e gritando palavras chulas,
menos um deles que se lhe fixava ao chakra cerebral,
telecomandando-o. Dr. Arquimedes aproximou-se mais e
aplicou-lhe energias vigorosas que interferiram no
acoplamento psíquico, desligando-lhe o plugue da tomada
e fazendo-o tombar sob o impacto do choque. O paciente,
liberado rapidamente da violenta força que o impelia ao
crime, cambaleou e, atendido pelo Mentor que transmitiu
nova carga, sentiu-se entontecer, sendo acometido de um
desmaio no momento exato em que sua quase vítima
passava. (Entre
os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de bênçãos.)
207. Colhido pela
surpresa, o médium reconheceu-o, ficando surpreso por
ver a arma que se desprendera da sua mão também caída ao
solo, e, inspirado, ergueu o quase criminoso,
massageou-lhe o peito, chamou-o pelo nome, após o que o
mesmo despertou suarento e, dando-se conta do que lhe
ocorrera, pareceu idiotizado, sem saber o que dizer ou o
que fazer. O bondoso instrumento do bem o auxiliou a
levantar-se e o conduziu à pequena sala de refeições no
próprio domicílio. Prontificou-se a ajudá-lo, preparando
um chá morno e colocando-se-lhe às ordens mediante
palavras de compreensão e de compaixão. Não se podendo
evadir da realidade, o infame contou o plano que
arquitetara para tirar-lhe a existência, dominado pelos
sentimentos infelizes que acalentava desde antes de ser
despedido. Confessou-lhe que mantinha contra ele
sentimentos conflituosos de despeito, de inveja, de
ciúme, de mágoa... Como vingança pessoal, alimentava o
vício de alguns pacientes mediante boa remuneração,
objetivando também comprometer o hospital, o que não lhe
parecia empresa difícil.
(Entre os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de
bênçãos.)
208. Ouvindo-o, todos do
pequeno grupo de socorro ficaram surpresos ante a
narração assinalada por sincero arrependimento. Depois
de ouvir a confissão de Almério, o abnegado servidor de
Jesus aconselhou o revel dizendo-lhe: “A nossa
existência no mundo físico é o que dela fazemos. O bem
e o mal caminham lado a lado, cabendo a cada um de nós a
eleição daquele que nos é o melhor. De acordo com a
opção, viveremos ao compasso das suas consequências,
não podendo transferir responsabilidade futura para
ninguém. O amigo, infelizmente, tem preferido o
desequilíbrio e a insensatez. Oportunidades de
crescimento e de valorização da vida não lhe têm
faltado. A sua teimosia em permanecer no desvio do
dever granjeia-lhe dissabores e desgraças para o porvir,
de que muito se arrependerá. Aceitamo-lo como
funcionário de nossa clínica e a você aprouve a
delinquência sem qualquer justificação, como se, de
alguma forma, o crime tivesse algo que o justificasse. O
seu salário era justo e próprio para mantê-lo dignamente
na sociedade, enquanto que, mediante o trabalho,
poderia exercer a caridade junto aos pacientes que
necessitam de nós. Você escolheu, porém, a sombra
criminosa, homiziando na mente e no coração as induções
do mal e da perversidade. Demitido, após ser
surpreendido na prática odienta, não o acusamos às
autoridades, a fim de dar-lhe uma nova chance, e você
optou por ceifar-me a existência dedicada ao bem, quando
deveria agradecer-me a conduta mantida em relação aos
seus deslizes morais”.
(Entre os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de
bênçãos.)
209. Na sequência, Silvério disse ao infeliz Almério:
“Realmente, isto é uma grande infelicidade para você.
Nada obstante, você terá nova oportunidade, porque os
céus misericordiosos interditaram-lhe a mão covarde e o
coração ingrato. Os mesmos espíritos vigilantes que o
impediram da ação nefasta, numa outra oportunidade
poderão agir de maneira diversa para ensinar-lhe
equilíbrio, utilizando-se de recursos severos... Não se
brinca inutilmente com a vida, nem se pode zombar de
Deus e das Suas leis indefinidamente, sem que os efeitos
dessa conduta alucinada não se façam presentes”. Dando
margem a que Almério raciocinasse, pois que ele parecia
ainda aturdido pelo acontecimento, o benfeitor
encarnado concluiu: “Recorde-se de Jesus, quando dizia
aos enfermos do corpo e da alma, aos quais recuperava: –
Eis que já estás são; não peques mais, para que não te
suceda alguma coisa pior”.
Envergonhado e trêmulo, Almério gaguejou uma desculpa e
saiu quase a correr, tentando esconder o desequilíbrio.
(Entre os dois mundos. Capítulo 16: O santuário de
bênçãos.)
210. Recuperado e
intimamente agradecido a Deus, o infatigável servidor
buscou o leito, após os cuidados precedentes. A
consciência do dever retamente cumprido de imediato
levou-o ao sono, desdobrando-se parcialmente e vindo ao
encontro da equipe socorrista. Identificando o Dr.
Arquimedes, saudou-o jubilosamente, logo se recordando
do incidente que terminara de forma feliz e compreendeu
que fora a sua providencial presença que resolvera a
questão. Enquanto conversavam, Miranda interrogou
Germano: “Os mentores do nosso amigo não poderiam haver
resolvido a trama que se desenhara? Estaria a tragédia
inscrita na ficha do processo atual de sua reencarnação?
Caso houvesse acontecido, como seria vista pelos
encarregados do seu ministério?” O amigo, que parecia
bem informado sobre o assunto, respondeu-me com
afabilidade: “Sem qualquer dúvida, os instrutores
encarregados de orientar o nosso Silvério dispõem de
recursos hábeis para impedir acontecimentos dessa
natureza. Apesar disso, embora informados do que estava
sendo programado contra o seu tutelado, sabiam também
que o nosso Mentor estava investido da responsabilidade
de solucionar o assunto, por motivos pertinentes à
nossa visita e em atendimento ao estabelecido pelo irmão
Policarpo, a quem diretamente ele se vincula. Como não
desconhecemos, em nossos labores sempre deve ser
preservado o respeito hierárquico mediante cujo
mecanismo aprendemos obediência, respeito e serviço”.
(Entre os dois
mundos. Capítulo 16: O santuário de bênçãos.)
(Continua no próximo número.)