|
Lições do Parnaso
de Além-Túmulo |
|
O primeiro livro mediúnico de
Francisco Cândido Xavier foi
Parnaso de Além-Túmulo, uma
reunião de poemas de poetas
desencarnados.
No segundo semestre de 1927,
quando desabrochou a mediunidade
de Chico Xavier, seus amigos,
entre eles seu irmão José
Cândido Xavier, divulgaram em
jornais e revistas espíritas e
não espíritas, sem que o médium
quisesse, mensagens poéticas
recebidas por ele.
Esses amigos apagavam a autoria
espiritual dos trabalhos e os
enviavam para publicação,
colocando como autor o nome: F.
Xavier, embora Chico insistisse
que não o fizessem e procurasse
conscientizar os amigos sobre a
seriedade do assunto.
Em fins de 1931, Chico Xavier
remeteu poesias (assinadas) e
por ele psicografadas para o Rio
de Janeiro, destinando-as ao
vice-presidente da Federação
Espírita Brasileira, Manoel
Justiniano de Freitas Quintão,
solicitando que fosse feito um
exame criterioso da
identificação dos autores.
Manoel Quintão não conhecia
pessoalmente Chico Xavier, o que
só veio acontecer em março de
1936. Mas não duvidava da
moralidade do médium e da
autenticidade das poesias. Em
junho de 1932, Quintão lançou-as
no livro Parnaso de
Além-Túmulo.
Participam do Parnaso de
Além-Túmulo 56 poetas e são
registradas 259 poesias. É um
livro primoroso, do qual têm
sido impressas sucessivas
reedições, o que atesta a força
das mensagens nele contidas.
Como diz Manoel Quintão, no
prefácio:
"Romantismo, Condoreirismo,
Parnasianismo, aí se ostentam em
louçanias de sons e de cores,
para afirmar não mais subjetiva,
mas objetivamente, a
sobrevivência de seus
intérpretes.
É ler Casimiro e reviver
Primaveras; é recitar Castro
Alves e sentir Espumas
Flutuantes; é declamar
Junqueiro e lembrar A Morte
de D. João; é frasear
Augusto dos Anjos e evocar Eu.
Então, vejamos:
Oh! Que clarão dentro dalma.
Constantemente cismando,
O pensamento sonhando
E o coração a cantar,
Na delicada harmonia
Que nascia da beleza,
Do verde da natureza,
Do verde do lindo mar!
É Casimiro...
Há mistérios peregrinos
Nos mistérios dos destinos
Que nos mandam renascer;
Da luz do Criador nascemos;
Múltiplas vidas vivemos,
Para à mesma luz volver.
É Castro Alves...
Pairava na amplidão estranho
esplendor.
A natureza inteira em lúcida
poesia
Repousava, feliz, nas preces da
harmonia!...
Era o festim do amor,
No firmamento em luz,
Que celebrava
A grandeza de uma alma que
voltava
Ao redil de Jesus.
É Junqueiro...
Descansa, agora, vibrião das
ruínas,
Esquece os vermes, as carnes, os
estrumes.
Retempera-te em meio dos
perfumes
Cantando à luz das amplidões
divinas.
É Augusto dos Anjos..."
Os poetas do Parnaso de
Além-Túmulo ditaram lições à
Terra com toda a autoridade,
porque amaram e sofreram como
nós, lutaram, removeram as
montanhas das dificuldades. E só
se fala bem daquilo que se vive,
ou daquilo que se viveu. Melhor
ainda quando se sabe, ou se
soube, encontrar as soluções
para a resolução de cada
problema.
Esse detalhe não escapou à
argúcia e à observação de
Humberto de Campos (Espírito),
no introito que passou a ser
publicado a partir da segunda
edição:
"Parnaso de Além-Túmulo
sairá de novo, como a mensagem
harmoniosa dos poetas que amaram
e sofreram. Carmem Cinira com
seus sonhos desfeitos, de mulher
e de menina, Casimiro com sua
sensibilidade infantil,
Junqueiro com a sua ironia,
Antero com a sua rima austera e
dolorosa.
Todos aí estão, dentro de suas
características.
Os mortos falam e a Humanidade
está ansiosa, aguardando a sua
palavra.
– De pé os mortos!... -
exclama-se – porque os vivos da
Terra se perdem nos abismos
tenebrosos".
Humberto de Campos observa que
os céticos, ao lerem os poemas
do Parnaso, "Hão de
estranhar que os mortos
prossigam com as mesmas
tendências, tangendo os mesmos
assuntos que aí constituíam a
série de suas preocupações..."
Quando daqui partem, os
Espíritos maus continuarão maus,
até que se regenerem e se
conscientizem no bem, e os
Espíritos bons continuarão no
mesmo propósito de orientar e
ajudar o homem.
Esses céticos asseveram que se
os Espíritos progridem, como
dizem os espíritas, por que os
poetas do Além ficam presos ao
velho estilo que tinham, quando
em vida?
J. Herculano Pires, no prefácio
do livro Castro Alves Fala à
Terra - Edições Correio
Fraterno - com poesias
mediúnicas recebidas por
Francisco Cândido Xavier, Waldo
Vieira e Jorge Rizzini, fala
sobre Castro Alves o que, por
extensão, se aplica a todos os
poetas desencarnados:
"Se Castro Alves estivesse na
Terra, por um prolongamento de
sua vida ou através da
reencarnação, acompanharia
certamente os movimentos
literários modernos. Mas Castro
Alves continua, cem anos depois
da sua morte, no Mundo
Espiritual. (Nota: O prefácio
foi escrito em 1971.) Nas
condições existenciais de
Espírito a sua visão das coisas
materiais é muito diferente da
nossa. O seu objetivo ao fazer
poesia não é atingir a
virtuosidade poética terrena,
mas atingir o coração humano,
identificar-se perante os homens
que respeitam o seu nome e a sua
figura histórica".
Volta à Terra
– Sabe-se por informação dos
próprios Espíritos que muitos
deles voltarão à Terra, em
futuro próximo. Castro Alves
fala dessa sua volta no poema
Quando eu Voltar, recebido
pela psicografia de Francisco
Cândido Xavier:
Quando eu voltar a ser doce
criança,
Enchendo a casa de alvoroço e
risos,
Colhendo rosas, cravos e
narcisos,
A palmilhar na Terra o bom
carreiro,
Hei de encontrar o Amor e a
Esperança,
Entrelaçando irmãos do mundo
inteiro.
Quando eu voltar ao orbe velho e
amigo,
Negro abismo dos erros e das
dores,
Palco de lutas mil e mil
temores,
Onde tanto sofri... mas amei
tanto...
Hei de trazer, por Deus, junto
comigo,
O bálsamo que enxuga todo o
pranto,
Quando eu voltar ao orbe velho e
amigo.
Quando eu voltar a ter matéria
nova,
Moldável cera em santas mãos
plasmada,
Eu crescerei já palmilhando a
estrada
Da verdade e do Amor ao
Cristianismo.
Hei de então, jovem, são, nesta
áurea prova,
Triunfante demonstrar que o
Espiritismo
É a Doutrina do Cristo que se
renova.
Quando eu voltar à Terra
tenebrosa
Em cujas trevas, audaz, firme
mergulho,
Hei de ensinar que é ignorância
e orgulho
Egoísmo, ódio, ciúme e
crueldade.
Mostrarei que tem prova dolorosa
Quem abusa da Lei da Liberdade,
Quando eu voltar à Terra
tenebrosa.
Quando eu voltar à escola de
aflição,
Trarei no olhar a luz do
Evangelho
E um novo mundo surgirá do
velho,
Por que vivi nas asas da
verdade.
Numa das mãos trago o Esperanto
- a União,
Na outra o Espiritismo e a
Caridade
E o Evangelho a cantar no
coração.