Estudando as obras
de Manoel Philomeno
de Miranda

por Thiago Bernardes

 

Entre os Dois Mundos

(Parte 25)


Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de  Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco no ano de 2004.


Questões preliminares


A. De que modo se apresentou na sessão de doutrinação o inimigo espiritual do médium Silvério?

Presente no recinto, assim que se apercebeu do que estava ocorren­do, o Espírito bradou, tomado de injustificável fúria: “Que desejam de mim, covardes espirituais?” Na sequência, extravasou todo o ódio que nutria por Silvério, cujas razões foram elucidadas na sequência do atendimento que lhe foi prestado pelo Mentor espiritual. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

B. Qual o recurso utilizado pelo Mentor para elucidação do caso?

A regressão de memória. Logo que, graças à ajuda dos benfeitores Ângelo e Germano, o Espírito se encontrava menos aflito e respirando com relativa calma, o Mentor propôs, em um transe superficial hipnó­tico, que ele recuasse. A palavra doce e profunda penetrou­-lhe nos arquivos do inconsciente, direcionando-o a deter­minado período próximo, e ele exclamou: “Vejo-me em uma furna sombria, iluminada por ar­chotes vermelhos, sob vigilância de figuras satânicas...” Começava desse modo a ser deslindado o problema que o ligava ao médium Silvério. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

C. Qual a origem do ódio que o obsessor nutria para com o médium Silvério?  

O ódio provinha de fatos ocorridos em uma época nefasta na história do mundo, quando os mouros situados em Granada, Espanha, em fins do século XV, foram cruelmente perseguidos e massacrados por religiosos ligados à Igreja Católica. As maldades começaram ali e tiveram seguimento nas décadas seguintes. Aquele Espírito, então partidário da religião muçulmana, sofrera horrores nas mãos dos seus algozes. Silvério era um deles. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)


Texto para leitura


218. Ante as palavras do Mentor, Almério replicou: “Odeio-o com razão, porque ele demitiu-me sem dó nem piedade. Arrependo-me de haver-me confessado a ele após o desmaio”. O esclarecedor esclareceu, no entanto, que Silvério havia agido com misericórdia em relação aos seus atos, não o denunciando às autoridades policiais por tráfico de drogas e pelo inominável crime de manter o vício entre aqueles que lhe foram entregues para tratamento. Ante a argumentação segura do Benfeitor, o infeliz refugiou-se no silêncio e na meditação. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

219. Perfeitamente lúcido e acostumado a transitar em situações assim, o médium Silvério Carlos encontrava-se em ati­tude respeitosa, receptiva, porque havia percebido que seria utilizado mediunicamente no deslindar do drama que deve­ria ser atendido naquela oportunidade. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

220. Manoel Philomeno de Miranda foi, então, concitado psiquicamente pelo Mentor a despertar o Espírito que influenciara Almério à agressão contra Silvério, o que ele fez aplicando-lhe energias nos chacras coronário e cerebral. O Espírito lentamente se apercebeu do que estava ocorren­do e, tomado de injustificável fúria, bradou: “Que desejam de mim, covardes espirituais?” O Mentor respondeu-lhe: “O amigo poderá denominar-nos como lhe aprouver, nunca, porém, como covardes, desde que não agimos na sombra da obsessão, nem nos escondemos na noite do crime. Antes, estamos sempre diante da grande luz da verdade e do dever. Nosso objetivo, porém, vai além do debate de pala­vras insensatas, havendo-te convocado para responsabilida­de mais grave”. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

221. A um sinal especial, o médium Silvério concentrou­-se no adversário desencarnado, que foi atraído como uma limalha de ferro na direção de poderoso ímã. Manoel Philomeno viu-o en­volver o perispírito do intermediário em desdobramento, praticamente fundindo-se nos campos vibratórios sutis, transfigurando-o, plasmando uma fácies de ferocidade, qua­se animalesca. Baba peçonhenta começou a escorrer-lhe dos cantos da boca retorcidos, esgares nervosos sacudiram-no e num movimento brusco abandonou a postura convencional em que estava na cadeira, afastando-se grotescamente. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

222. Dr. Arquimedes manteve-se em grande serenidade, demonstrando saber o que iria acontecer, enquanto todos oravam com surpresa e piedade, constatando a infinita variedade de ocorrências e fenômenos que permanecem ocultos no ser imortal. O comunicante tentou expressar-se verbalmente, mas não foi além de gemidos e sons desconexos que mais o afli­giam e revoltavam. O amigo Germano foi convidado a aplicar-lhe bioe­nergia, retirando as espessas camadas vibratórias em que se debatia prisioneiro, para logo concentrar o esforço no plexo solar e na área cardíaca, que expeliam densas vibrações, que logo eram diluídas no ambiente. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

223. Em descontrole quase total, o Espírito, incorporado nas delicadas engrenagens perispirituais de Silvério, ten­tando desembaraçar-se das forças asfixiantes, terminou por atirar-se ao solo, estorcegando dolorosamente. Tratava-se de um espetáculo constrangedor. Era triste a constatação de como o ser prefere progredir à força de graves aflições, quando poderia eleger a suavidade do amor com feli­zes rendimentos emocionais. A realidade, porém, ali estava em toda a sua patética. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

224. O Mentor falou-lhe: “Meu irmão, que fizeste de ti mesmo? Onde a tua racionalidade, onde as tuas conquistas morais? Retornas, psiquicamente, a faixas inferiores das quais já te deverias haver libertado. O ódio que acumulas injustificavelmente deforma-te, ferindo-te a constituição modeladora e volves ao primarismo. Embora a teimosia e revolta, continuas filho de Deus, e o Pai Generoso concede-te esta oportunidade para que te recuperes... Não temas, nem te debatas inutilmente, não lutes contra o aguilhão”. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

225. Enquanto falava, emanavam do Mentor ondas especiais que envolviam o pa­ciente, acalmando-o, quase lhe provocando choro renovador. Convocados a auxiliar, Ângelo e Germano ergueram­-no do solo e o conduziram a uma das camas preparada para recebê-lo. Sentindo-se menos aflito e respirando com relativa calma, o Mentor propôs, em um transe superficial hipnó­tico, que ele recuasse. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

226. A palavra doce e profunda penetrou­-lhe nos arquivos do inconsciente, direcionando-o a deter­minado período próximo, e ele exclamou: “Vejo-me em uma furna sombria, iluminada por ar­chotes vermelhos, sob vigilância de figuras satânicas... Es­tou deitado e deverei passar por um tratamento cirúrgico... Adormeço... Sinto dores ao despertar... Fizemos-lhe um implante – afirmou um dos cirurgi­ões, verdadeiro monstro espiritual – para ser comandado a distância por nós. A partir de agora você fará exatamente o que desejarmos. O nosso inimigo é o Crucificado naza­reno, a Quem detestamos. Na impossibilidade momentâ­nea de atingi-lO, iremos desestimular o trabalho de Silvério Carlos, Seu subalterno e cupincha, objetivando retirá-lo do corpo. Você é nosso robô... Agora vá e encontre lugar para a desincumbência do seu trabalho”. O diálogo reproduzido pela regressão prosseguiu: “Por que eu? Qual a minha liga­ção com o infame a quem devo destruir?” (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

227. Nesse ponto da regressão, o Mentor lhe disse: “Recue mais. Viaje atra­vés do tempo. Estamos longe, por volta de 1490, em Granada, na Espanha... A velha cidade fundada pelos mouros, no século VIII, houvera atingido o auge do progresso desde o século XIII, tornando-se-lhes a última fortaleza, considerada inex­pugnável, nesse país, quando foi quase destruída e reconquis­tada pelos reis Fernando e Isabel, embora os 60.000 homens convocados para defendê-la, tombando, em definitivo, em 1492, logo depois se tornando sede de arcebispado, portanto, sob a governança clerical. Passados 118 anos, em face do de­creto de expulsão dos mouros da Espanha, Granada entrou em decadência, nada obstante as glórias da sua cultura e de suas edificações que permanecerão para o futuro. Detenha-se, na primeira fase, em 1492”. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

228. Estimulado a recuar, o Espírito começou a transfigu­rar-se, a mover-se em dolorosas contrações, em rudes espas­mos que o afligiam. De imediato, assumindo outro aspecto, com caracte­rísticas mouras, começou a blasfemar: “Quando os abjetos cristãos irão entender que esta terra é nossa?! A nossa fé é sublime e nossos projetos são dignificadores. Matar-nos-ão, sim, em face do número de soldados de que dispõem, porém, não destruirão o Islã, con­tra o qual lutam encarniçadamente, há séculos... Dizem que o Seu Guia morreu numa cruz, e o mere­ceu, porque a humildade que pregava não passava de uma farsa para atrair os miseráveis como Ele, a fim de conquistar o trono de Israel. Fracassado o golpe infeliz, voltam-se con­tra nós, os libertadores da ignorância e do mal”. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

229. O Mentor preferiu não discutir, sugerindo: “Recorde-se mais, revivendo os acontecimentos que tiveram lugar, após a queda da cidade”. A entidade então rememorou: “Estou encarcerado num imundo porão com outros heróis que sucumbiram no fragor da batalha desigual... Corpos apodrecidos multiplicam-se sobre as palhas fétidas. A ferros, preso a uma parede imunda, acompanho o julgamento das vítimas. As sombras sórdidas dos religiosos são projetadas pelas labaredas crepitantes da fornalha que arde. Arrastam-me, escouceiam-me, aplicam-me o látego aguçado com pontas metálicas, que mais me dilaceram as carnes rasgadas. Sou um destroço humano... Exigem-me arrependimento, que me confesse, que revele onde se en­contram os nossos tesouros guardados na Alhambra... Vejo o infame espanhol. Aspecto cadavérico, frio e inclemente, manda que me torturem, golpeando-me os ór­gãos genitais, que produzem dores insuportáveis... Desmaio e desperto sob jorros d´água de imundos baldes. E as vozes gritam-me que revele o lugar onde estão o ouro e as joias, e que serei perdoado... Não posso raciocinar... Não tenho forças para falar... Arrancam-me as unhas, uma a uma... Desfaleço... Uma lança mal aplicada encerra minha vida... Não morro... Enlouqueço e sou recebido por uma horda de extravagantes alucinados que me arrebatam”. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

230. Disse-lhe o Mentor: “Realmente, meu irmão, aí começam os ódios irracionais que os jungirão, você e o nosso Silvério Carlos. O passado é o leito onde dormem as nossas desavenças, que despertam no tempo, carregadas de infelicidades, exigindo-nos modificação de atitude”. O obsessor interveio dizendo: “O maldito que me destruiu, em nome do seu Pastor, continua a Seu soldo... É justo, portanto, que nossos maiorais, defendendo nossa crença, exijam-lhe a hedionda existência, a fim de que também seja julgado e atirado aos infernos, de onde procedo, por sua culpa”. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.)

231. O Mentor, então, lhe disse: “Ainda, porém, não é tudo. Você necessita, agora, de avançar no tempo, deixando para trás aquele momento insano de ambas as vidas. Direcione o seu pensamento para o ano de 1610, quando aconteceu a expulsão dos mouros da Espanha. Recorde-se”. Movendo-se, dolorosamente, o Espírito começou a gritar: “Ei-lo de volta, o insaciável, que me persegue... Sigo Maomé e sou fiel ao Corão... O desalmado prossegue mascarado de religioso e é inclemente. Erguendo uma cruz, que me golpeia a face, impreca: ‘Renega à heresia e salva a tua alma, já que não podes salvar o teu corpo’. Estou numa fogueira prestes a arder. A gritaria é infrene e o desespero toma conta da cidade. Soldados e mercenários matam, estu­pram, roubam, incendeiam... A alucinação tomou conta da cidade. Não vejo mais quase nada, exceto as labaredas cre­pitantes que me devoram o corpo, a fumaça que me asfixia e a voz do desgraçado impondo-me a apostasia impossível... Sufoco, morro... Novamente as forças do mal me arrastam”. (Entre os dois mundos. Capítulo 17: Tribulações no Ministério.) (Continua no próximo número.)

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita