No
quarto de hotel, Clementino, o repórter, passava os
olhos pelos poemas do outro mundo e registrava as
próprias sensações nas páginas de O Globo: Nossos
olhos correm, a um tempo curiosos e ansiosos, sobre
aquelas páginas incríveis, que o caixeiro bisonho e
humilde afirma ter recebido, em transe, do mundo das
sombras invisíveis, que ficam para lá das nossas
percepções normais. Devemos crer nesse parnaso do além?
Esqueçam por hora as dúvidas. Fique para mais tarde a
análise.
Nem
tudo era poesia na série de reportagens. Clementino
também divulgou um texto atribuído a Emmanuel, a quem
sempre se referia como o "guia" de Chico. O artigo,
sobre o "corpo espiritual", soava como grego escrito de
trás para frente. A vida, em suas causalidades
profundas, escapa aos vossos escalpelos, e apenas o
embriogenista observa, na penumbra e no silêncio, a
infinitésima fração do fenômeno assimilatório das
criações orgânicas.
O
repórter se empolgou e decidiu, então, submeter o matuto
de Pedro Leopoldo a uma série de testes. Chico aceitou o
desafio. Questionários elaborados por especialistas
foram entregues a ele. As primeiras perguntas, sobre
economia, vieram do gerente do Banco Agrícola de Sete
Lagoas, Francisco Teixeira da Costa. Chico levou a prova
para casa iria submetê-la aos espíritos - e apresentou
as respostas na manhã seguinte.
A
primeira questão era muito difícil: Dado o aumento da
população mundial e a escassez de ouro necessário à
circulação, a socialização do sistema monetário, tendo
por base certa percentagem de exportação de cada país,
conseguiria, pela emissão naquela base, regular o
fenômeno da troca?
A
resposta veio em economês à altura, se arrastou por
parágrafos e mais parágrafos, repletos de referências ao
lastro regulador e às emissões fiduciárias, e terminou
com a assinatura do português Joaquim Pedro d 'Oliveira
Martins, ex-deputado, ex-ministro da Fazenda e ex-membro
da Academia de Ciências de Lisboa, morto em 1894.
Do livro As vidas de Chico Xavier,
de Marcel Souto Maior.
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