Adulações elogiosas são peçonhas
na forma verbal
O que uma pessoa tende a valorizar mais: satisfação
sexual, dinheiro, comida, álcool, amigos ou elogios?
“Pesquisadores avaliaram os desejos e gostos de alguns
estudantes universitários sobre uma série de desejos e
gostos, e os resultados, para surpresa dos estudiosos,
indicaram que os voluntários dão mais valor a um elogio
ou uma avaliação positiva do que comer sua comida
preferida, satisfazer-se sexualmente, beber, receber o
salário do mês e até encontrar um melhor amigo.”(1)
Portanto, embora surpresos, os pesquisadores confirmaram
que o desejo de se “sentir valorizado”, através de
elogios, triunfa sobre qualquer outra situação
prazerosa. Cremos que estamos observando gerações em que
uma parcela gigantesca de cidadãos é constituída de
adultos condescendentes, imaturos para os obstáculos,
decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com
conflitos e dotados de uma alucinante certeza de que o
mundo lhes deve algo, por isso, exigem ser adulados.
Não há dúvida de que a ausência de palavras e frases
motivadoras, cada vez mais incomuns nos ambientes
domésticos, prejudica a relação parental. Raramente
observam-se muitos homens estimulando com palavras
edificantes suas mulheres e vice-versa, não se constata
regularmente chefes estimulando com sinceridade o
trabalho de seus subordinados, não é muito comum pais e
filhos estimulando-se com palavras afetuosas.
Óbvio que o bom profissional, inobstante não almeje,
valoriza uma palavra e estímulo; o bom filho gosta de
ser reconhecido; o bom pai ou a boa mãe exultam de ser
avaliados positivamente; o bom amigo, a boa dona de
casa, a mulher que se cuida, o homem que se dedica,
enfim, vivemos numa sociedade em que um precisa do
outro; é impossível um homem viver sozinho, e as
palavras motivadoras (que não podem resvalar para
elogios) são a oxigenação de ânimo na vida de qualquer
pessoa.
Desde que adentramos nos portais dos ensinos
kardecianos, aprendemos que o elogio (ainda que
bem-intencionado) nos amolece e ilude. E nada existe de
mais frágil que uma criatura iludida a seu próprio
respeito. É verdade, os Benfeitores nos advertem a fim
de que não percamos nossa independência construtiva a
troco de considerações humanas (bajulações), posto que a
armadilha que pune o animal criminoso é igual à que
surpreende o canário negligente.
Até mesmo nos momentos de agruras de alguém, “nas horas
difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas
sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo,
é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio”.
(2) Sussurra a prudência cristã que nunca cederíamos
campo à vaidade se não vivêssemos reclamando o deletério
coquetel da lisonja ao nosso egocentrismo doentio.
Invariavelmente ficamos submissos às injunções sociais
quando buscamos aprovação (bajulações) dos outros,
“quando permanecemos na posição de permanentes escravos
e pedintes do aplauso hipócrita e do verniz, da lisonja,
condicionando-nos a viver sem usufruir de liberdade de
consciência, submetendo-nos a ser manipulados pelos
juízos e opiniões alheias”. (3)
O elogio nos arremessa à presunção, a afetação nos
remete à vaidade. Nesse insofreável desejo de chamar a
atenção alheia, queremos ser aplaudidos e reverenciados
perante os outros. Atualmente adota-se assustadoramente
o hábito dos dirigentes incautos de elogiar e exaltar
oradores em público. Essas pompas e grandiloquências,
observadas à volta de alguns oradores famosos, é bem a
repetição dos faustos do cristianismo sem o Cristo.
A rigor, se alguém vem a público dizer que um orador é
"maravilhoso", "fantástico", "brilhante",
"inesquecível", "insubstituível" e outras bajulices,
logicamente está elogiando e jamais estimulando ou
motivando tal “homenageado”.
Por essas razões, importa vigiarmos as próprias
manifestações, não nos julgando indispensáveis e
preferindo a autocrítica ao autoelogio, recordando que o
exemplo da humildade é a maior força para a nossa
transformação moral. “Toda presunção evidencia
afastamento do Evangelho.” (4)
É imprescindível não elogiar (adular) as pessoas que
estejam agindo de conformidade com as nossas
conveniências, para não lhes criar empecilhos à
caminhada enobrecedora, embora nos constitua dever
prestar-lhes assistência e carinho para que mais se
agigante nas boas obras. O elogio (adulação) é peçonha
em forma verbal. Por essa razão, não esqueçamos que
“ainda quando provenha de círculos bem-intencionados,
urge recusar o tóxico da lisonja, pois no rastro do
orgulho, segue a ruína”. (5)
Bibliografia:
(1) Disponível
no site https://goo.gl/FhH7Mm
-
acessado em 24/03/2011.
(2) XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva, ditado pelo
Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, Cap.
37.
(3) XAVIER, Francisco Cândido. Saudação do Natal –
Mensagem “Trilogia da vida”, ditado pelo Espírito
Cornélio Pires, SP: Editora CEU, 1996.
(4) VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo
Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1972, Cap.
18.
(5) idem, cap. 20.
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