Pão da alma
“Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa
toda?” – Paulo. (I Coríntios, 5:6.)
Ninguém vive só, porque, se assim fosse, Deus não nos
teria criado como seres gregários, necessitando viver em
sociedade para que, juntos aos outros, pudéssemos
evoluir. É no encontro com o outro que posso ensinar –
quando alguém quer aprender; aprender – quando me
disponho a aceitar que não sei tudo; a ajudar – quando
encontro alguém que queira ser ajudado; e,
principalmente, ser ajudado – quando me aceito limitado
física e espiritualmente.
Justamente pelo fato inconteste de necessitarmos viver
cercados por outros seres – a família representa a
síntese desse agrupamento – é que nos achamos
magneticamente ligados ou associados uns aos outros. A
consciência desse estado real é tão importante que
precisamos saber que espécie de forças estamos
projetando para aqueles que nos cercam, direta ou
indiretamente, bem como quais forças estamos captando
desses companheiros, sejam eles encarnados ou
desencarnados. Mister se faz perguntarmos a nós
próprios: que escolhas estamos fazendo para nós? De que
forma estamos conduzindo nossa existência?
Emmanuel recorda que “Nossa vida é sempre fermento
espiritual com que influenciamos as existências
alheias”¹, embora estejamos mais preocupados com as
escolhas que os outros fazem. Somos, em suma, uma imensa
multidão de seres sonolentos, preguiçosos demais e
vaidosos em excesso para percebermos que, muitas vezes,
gestos insignificantes alcançam o outro, provocando
inesperadas decisões pelas quais, queiramos ou não,
somos corresponsáveis.
A atmosfera espiritual ao redor dos nossos passos, da
qual somos construtores e gestores, mistura-se à de
outras pessoas – encarnadas e desencarnadas –
engrossando-as com elementos positivos ou negativos, que
as equilibram ou desarmonizam. Assim, palavras, atos e
atitudes – nosso corpo tem linguagem muito expressiva –
geram comportamentos em quem nos ouve, lê ou vê,
provocando imitações, interferindo, muitas vezes, na
elaboração das forças mentais dos nossos semelhantes.
Se interferimos, também absorvemos essas forças – lei de
fluxo e refluxo – e a única forma segura de evitarmos
sugestões menos felizes é aceitar, sempre, as
orientações para o bem, praticando-as, vivenciando-as, a
cada dia da nossa existência, sem temor, num processo de
multiplicação dessas ações. Daí a importância de
percebermos a forma pela qual estamos dirigindo nossa
existência, que escolhas estamos fazendo.
O capítulo 18 de O Evangelho segundo o Espiritismo
é muito rico nessa advertência. É um convite a pensarmos
sobre essas questões, porque temos muita dificuldade em
saber se estamos certos ou errados, se devemos ou não
fazer determinada coisa; enfim, temos tantas dúvidas que
nos sentimos como crianças diante de muitos brinquedos
sem saber qual escolher para brincar. E é por conta
disso, que ainda precisamos dos ensinamentos de Jesus,
como orientação e sustentação nas nossas determinações.
Entretanto, se essas determinações têm origem na ideia e
se a mente é o berço dela – não importa onde estivermos
ou quando –, então, mudando-se a ideia, muda-se o homem,
melhorando-se o mundo. Emmanuel é claro quando afirma
que aquilo que geramos na mente é fermento espiritual,
porque estabelece atitudes, que geram hábitos, passando
a governar expressões e palavras, “através das quais a
individualidade influencia na vida e no mundo”.¹
E ele prossegue: “Acautela-te, pois, com o alimento
invisível que forneces às vidas que te rodeiam.
Desdobra-se-nos o destino em correntes de fluxo e
refluxo. As forças que hoje se exteriorizam de nossa
atividade voltarão ao centro de nossa atividade,
amanhã”.²
Não sem razão, Herculano Pires deixou-nos essa joia para
reflexão: “Deus no Centro (considerando a palavra
Centro como o Universo – grifo meu) é Deus em nós,
ajudando-nos a crescer com o fermento da fraternidade
que Ele, pouco a pouco, aumenta em nossa medida de
farinha, na proporção em que a farinha do nosso egoísmo
absorve o fermento e se transforma no pão que nos
alimenta a alma”.³
Bibliografia:
1 – XAVIER, F. C. – Fonte Viva – ditado pelo Espírito
Emmanuel - Rio de Janeiro/RJ: Federação Espírita
Brasileira – 3ª. Ed., 2005, lição 76.
2 – --------------------, lição 108.
3 – PIRES, J. Herculano, O Centro Espírita, São
Paulo/SP. 4ª edição – LAKE Editora, 1992, Cap. V, P. 41.
4 – KARDEC, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo,
Cap. 18.