Cristianismo, esperança sublime
Jesus é o mais notável Ser da humanidade. Sua vida e
obra são as mais comentadas dentre todas as que já
passaram pela civilização através dos tempos. Na Terra,
foi demonstração sublime de amor puro e desinteressado
que se deu a conhecer. O Ser Divino, o filho mais
próximo de Deus, revestiu-se do corpo da matéria por
amor e viveu entre os encarnados cumprindo com sabedoria
a missão para a qual veio ao mundo físico. Vivendo em
uma época em que predominava a ignorância em forma de
sombra individual e coletiva, qual ocorre nestes dias,
embora em menor escala, Jesus cindiu o lado escuro da
sociedade e das criaturas, iluminando as consciências
com a proposta de libertação pelo conhecimento da
verdade e integração nos postulados soberanos do amor.
Incompreendido, assediado pela astúcia e perversidade,
perseguido, jamais se deixou vencer ou descuidar-se do
objetivo para o qual veio, conseguindo perturbar os
adversários inclementes com respostas sóbrias e lúcidas
calcadas no reino de Deus cujas fronteiras se ampliavam,
agasalhando todos os seres humanos sedentos de justiça,
famintos de paz, carentes de amor.
Jesus pregou, orou e curou. Incansável em Suas
demonstrações de fé revelou a vida futura, respeitando e
compreendendo o grau de adiantamento dos povos, no dever
sagrado de desvendar o véu que encobria a verdade. Mas,
devido a esse adiantamento ser ainda pequeno naquela
época, poucos o compreenderam e, ainda hoje, muitos não
conseguem assimilar Suas palavras para não ter de
reformular seu coração para o bem e aceitar o próximo
como legítimo irmão.
O Mestre, no campo supremo das últimas horas terrestres,
mostrava-se absoluto senhor de si, ensinando-nos a
sublime identificação com os propósitos de Deus como o
mais avançado recurso de domínio próprio. Sabendo de
tudo que iria acontecer, que era chegada a Sua hora,
apossou-se D’Ele um desejo ardente de estar com o Pai.
Suas palavras se tornavam cada vez mais doces e ternas.
Seu semblante resplandecia como jamais os discípulos o
tinham visto. A claridade brilhante que o transfigurava
irradiava-se à sua volta.
Os discípulos observavam fascinados o Mestre, atentos
para não deixar escapar nenhuma de suas palavras.
Contudo, ainda não conseguiam entender a verdadeira
dimensão do que estava acontecendo. Sentiam que Jesus
lhes falava de Sua pátria de luz e que queria
transmitir-lhes algo que pudesse enriquecer suas pobres
vidas. Nenhum deles ousava interrompê-lo. Então, num
magnífico elo de amor, intercede por Si, por eles e por
nós. Ele sabia que diante dos acontecimentos que estavam
por vir, ficariam inseguros, temerosos, pois se Ele,
Jesus, o escolhido por Deus, tinha sido incompreendido,
o que iria acontecer com eles, seus seguidores?
Certamente, naquele momento, todos iriam se sentir
fracos e desamparados. Necessitava, pois, encorajá-los
não somente com palavras, mas com o seu imenso amor,
prevenindo-os das dificuldades pelas quais iriam passar
após a Sua partida. Na verdade Jesus estava anunciando
sacrifícios e sofrimentos, não somente para eles, mas
para todos que estivessem dispostos a seguir Seus
ensinamentos. Entretanto, deixava claro que apesar das
dificuldades nunca estariam sós; jamais lhes faltaria o
amparo, a consolação, suplicando ao Pai que os
santificasse na condição humana.
Anunciava sacrifícios e sofrimentos, mas nunca estariam
órfãos. Seriam convocados a interrogatórios humilhantes,
contudo, não lhes faltaria inspiração. Seguiriam
atribulados, mas não angustiados; perseguidos, mas nunca
desamparados. Receberiam golpes e decepções, mas não
lhes seriam negadas a esperança e o conforto. Sofreriam
flagelos no mundo, no entanto, suas dores abasteceriam
os celeiros da graça e da consolação dos aflitos. O
Senhor não prometeu aos companheiros senão continuado
esforço contra as sombras até a vitória final do bem.
Por isso, o discípulo do Evangelho não deve esperar
repouso quando o Mestre continua absorvido no espírito
de serviço. Ele não veio nos livrar das faltas, mas
ensinar-nos o caminho para superá-las. Não veio tomar
sobre seus ombros os encargos de nossas transgressões,
mas indicar-nos por meio das palavras edificantes dos
Evangelhos como aprimorar nossas qualidades e
aproximar-nos da perfeição possível. É impossível
aguardar em Cristo um doador de vida fácil. Ninguém se
aproxime dele sem o desejo sincero de aprender a
melhorar-se. Se o Cristianismo é esperança sublime, amor
celeste e fé restauradora é também sacrifício e
aperfeiçoamento incessante.
De nada vale partirmos do planeta se ainda nossos males
não foram exterminados convenientemente. Podemos trocar
de residência, mas a mudança é quase nada se nossas
feridas nos acompanharem. Somos discípulos de Jesus e
sabemos que todo aquele que serve o Senhor será forte
candidato a habitar mundos melhores. Muitas são as
moradas do Pai e um dia poderemos fazer parte delas.
Mundos melhores a esperar por nós, mas para que possamos
habitá-los, teremos que passar por transformações e
nenhuma delas ocorrerá sem sacrifícios e com alguns
momentos de desajustes.
Depois do Sermão do Cenáculo, os apóstolos ficaram
encarregados de preparar as gerações, ainda que houvesse
muito a ser dito. O Espírito da Verdade ficaria
encarregado dessa missão e os benfeitores invisíveis
estariam sempre com todos que quisessem receber os
ensinamentos. E é por isso que a Doutrina Espírita, na
condição de Evangelho Redivivo, traça orientação clara e
segura que nos traz esperança e consolo e,
principalmente, a nos guiar, educando nossos sentimentos
de solidariedade, fraternidade, para que sejamos um, em
sintonia com os desígnios do Supremo Senhor.
Tantos séculos após a morte do Cristo, legiões de
Espíritos permanecem ensinando aos seus irmãos da Terra
a Lei de progresso, realizando a promessa de Jesus,
restaurando a Sua doutrina.
O Espiritismo dá-nos a chave do Evangelho, trazendo
moral superior definitiva, espalhando a verdade sobre os
povos para que ninguém a possa destruir. Não é mais um
homem, não é mais um grupo de apóstolos que se encarrega
de fazê-la conhecida da humanidade. As vozes dos
Espíritos proclamam-na sobre todos os pontos do mundo.
Assim, a moral espírita edifica-se sobre os testemunhos
de milhões de almas em todos os lugares, através dos
médiuns que vêm revelar a vida além-túmulo, desvendando
suas sensações, alegrias e dor.
Quando a mediunidade avança com o Evangelho,
harmonizando-se com ele na plenitude do seu ideal,
abre-se então como uma flor que vai despertando,
transformando, perfumando onde quer que esteja, educando
suas forças, disciplinando todos os impulsos na ordem
divina de amar.
No Evangelho de Mateus, capítulo dez, versículo
trinta e oito, Jesus nos diz: “E quem não
tomar a sua cruz, e não seguir após mim, não é digno de
mim”. Seguir os passos do Mestre requer
renúncia, dedicação, entrega e esforço. Assim sendo,
cada um de nós deve estar ciente da sua tarefa no mundo,
tomando a sua cruz, carregando-a com amor incondicional,
para que dessa maneira possamos superar os desafios,
renovando-nos espiritualmente. Nenhum de nós procure
destaque injustificável. Na direção ou na
subalternidade, basta-nos o privilégio de cumprir o
dever que a vida nos assinala, discernindo e elucidando,
auxiliando e amparando sempre. O coração motor da vida
trabalha oculto, e Deus, que é para nós o Anônimo
Divino, palpita em cada ser sem jamais individualizar-se
na luz do bem.
Bibliografia:
HENRIQUES, Sonia Tozzi – ditado pelo Espírito Luiz
Ricardo – Sob a luz do Evangelho – Editora
Panorama – São Paulo / SP - 2002 – página 9.
DENIS, Léon – Depois da Morte – 28ª edição –
Editora FEB – Brasília /DF – 2008 – páginas 240 e 314.