Os conflitos na Síria, à luz da
Doutrina Espírita
Há alguns dias atrás, tendo entre mãos a obra “Raio-X do
Livro Espírita”, que me encontro, de momento, a estudar,
dei com a seguinte afirmação:
“Reflito também que Jesus está no leme e, por isso, o
grande barco que é o planeta Terra — abençoada escola —
não está à deriva, muito menos ao sabor dos ventos
globalizantes. Navegando no mar de provas e expiações, é
natural que as tempestades (consumismo, crises sociais,
políticas e financeiras) açoitem os passageiros de todas
as classes”.
De repente, senti-me bastante grata ao autor da obra,
Eurípedes Kühl, porque me dei conta de como estava
precisada dessa chamada de atenção, tão premente, face
aos graves acontecimentos da atualidade.
Refiro-me, concretamente, aos conflitos na Síria, que
diariamente nos entram em casa pelos meios de
comunicação social, e cujos horrores nos invadem os
sentidos e a alma. É certo que guerras e rumores de
guerras sempre os tivemos. O século XX, em particular,
foi palco de duas grandes guerras que se estenderam pelo
mundo e em que assistimos às maiores atrocidades e
atropelos aos direitos humanos. Depois dessas, muitas
outras, em determinados pontos do planeta, disseminaram
destruição, fome, doença, mostrando, enfim, o quanto a
humanidade terrena ainda se encontra presa aos
interesses mesquinhos do egoísmo e do orgulho.
Mas nunca como hoje fomos tocados, de uma maneira tão
forte, pela dor e o sofrimento que a estes conflitos
estão associados. Isso deve-se, a meu ver, a dois
fatores. Por um lado, os meios atuais que permitem, cada
vez mais, aos repórteres, estarem presentes nos cenários
de guerra, colhendo imagens e transmitindo-as em tempo
real, graças às mais avançadas tecnologias, para os
quatro cantos do planeta. Por outro lado, a nossa
sensibilidade, apurada ao longo do caminho evolutivo que
temos vindo a percorrer, vai-nos permitindo perceber e
assimilar a dor dos outros, mesmo dos que não conhecemos
e se encontram distantes de nós, de uma forma que antes
não acontecia.
Ou seja, não somos os mesmos que fomos em épocas
anteriores. Ou, explicando-me melhor, embora sejamos as
mesmas individualidades, já alguma coisa certamente
aprendemos, graças às oportunidades com que Deus, na Sua
infinita misericórdia nunca nos faltou. Desse modo, as
atrocidades em que, quantas vezes, participamos outrora,
hoje causam-nos espanto e horror. Já não nos parece
compatível tanto desrespeito, tanta desumanidade, tanta
insensibilidade perante o sofrimento de um povo, numa
época de tão grandes avanços civilizacionais.
Isto porque evoluímos. E se assim é… demos graças a Deus
que tantas oportunidades nos concede, através de todas
as reencarnações, que não são mais do que repetição das
lições abençoadas nesta escola da vida que é o ambiente
terreno.
Mas, voltando à análise da situação em causa, fácil nos
é perceber que, muito naturalmente, o Mundo se encontra
faminto, não só de consolo, mas também de
esclarecimento. Um esclarecimento que sustente a Fé, já
que, nos dias de hoje, já não basta a fé cega,
dogmática; só uma fé raciocinada, esclarecida, tem
sustentabilidade e encaminha o Homem para Deus.
É neste ponto que temos todas as razões para nos
sentirmos abençoados pela luz que a Doutrina Espírita
nos proporciona. Vejamos, então, o que nos diz a este
respeito a Codificação.
No capítulo VI de O Livro dos Espíritos, Lei de
Destruição, mais especificamente sobre as guerras,
encontramos as seguintes questões postas por Kardec,
seguidas das respetivas respostas dos Espíritos:
“742. Qual é a causa que leva o homem à guerra?
- Predominância da natureza animal sobre a espiritual e
satisfação das paixões. No estado de barbárie os povos
só conhecem o direito do mais forte, e é por isso que a
guerra, para eles, é um estado normal. À medida que o
homem progride ela se torna menos frequente, porque ele
evita as suas causas e quando ela se faz necessária ele
sabe adicionar-lhe humanidade.
743. A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?
- Sim, quando os homens compreenderem a justiça e
praticarem a lei de Deus. Então, todos os povos serão
irmãos.”
E, mais adiante, sobre o destino dos culpados, Kardec
pergunta:
“745. Que pensar daquele que suscita a guerra em seu
proveito?”
Ao que os Espíritos respondem:
“- Esse é o verdadeiro culpado e necessitará de muitas
existências para expiar todos os assassínios de que foi
causa, porque responderá por cada homem cuja morte tenha
causado para satisfazer a sua ambição”.
Das respostas dos Espíritos, facilmente se depreende que
todo o efeito tem uma causa e que toda a causa terá, a
seu tempo, e sobre a supervisão divina, o seu devido
efeito. Isso, como em tudo na lei de Deus, aplica-se
também à guerra e aos seus causadores. Nada acontece por
acaso e nada acontece ao acaso. É a Lei.
Mas, por que ainda hoje continuamos a sofrer e a
presenciar tais atrocidades em que os abusos parecem não
ter limites? Por que Deus, em sua divina sabedoria e
misericórdia não se apieda do sofrimento humano e
permite este estado de coisas? Por que não afasta de vez
da Terra aqueles que só oferecem entraves à felicidade
alheia e ao progresso geral? Talvez sejam estas algumas
das questões postas por aqueles que buscam compreender e
não encontram solução a contento.
O
Evangelho segundo O Espiritismo oferece-nos
as respostas a estas interrogações, proporcionando-nos a
Luz que não devemos pôr debaixo do alqueire e
constituindo-se o Consolador Prometido por Jesus.
Se não, vejamos.
No capítulo III, Há Muitas Moradas Na Casa De Meu Pai,
encontramos o seguinte esclarecimento do Codificador, a
propósito das maldades e paixões inferiores com que
deparamos na Terra:
“Consideremos a Terra como um arrabalde, um hospital,
uma penitenciária, um pantanal, porque ela é tudo isso a
um só tempo, e compreenderemos porque as suas aflições
sobrepujam os prazeres. Porque não se enviam aos
hospitais as pessoas sadias, nem às casas de correção os
que não praticaram crimes, e nem os hospitais, nem as
casas de correção, são lugares de delícias”.
Mas, mais adiante, o Espírito Santo Agostinho assevera,
deixando claro que este estado de coisas não será para
sempre:
“19. O progresso é uma das leis da natureza. Todos os
seres da Criação, animados e inanimados, estão
submetidos a ela, pela bondade de Deus, que deseja que
tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que
parece, para os homens, o fim das coisas, é apenas um
meio de levá-las, pela transformação, a um estado mais
perfeito, pois tudo morre para renascer, e nada volta ao
nada. (…) A Terra, seguindo essa lei, esteve material e
moralmente num estado inferior ao de hoje, e atingirá,
sob esses dois aspetos, um grau mais avançado. Ela
chegou a um de seus períodos de transformação, e vai
passar de mundo expiatório a mundo regenerador. Então os
homens encontrarão nela a felicidade, porque a lei de
Deus a governará”.
As ideias expressas nesta afirmação de Santo Agostinho
ajustam-se sobremaneira aos tempos a que assistimos na
atualidade. Ao passar por este processo de transição
planetária, muitos Espíritos estão tendo as suas últimas
oportunidades de reajuste, porque Deus a ninguém falta
com a Sua misericórdia. Vítimas, algozes, observadores,
todos nós estamos passando por este processo de expiação
das nossas culpas e prova de aptidão para fazer parte da
Terra nessa nova fase de mundo de regeneração. Todos
somos culpados; todos somos necessitados desta
aprendizagem. Se fosse de outro modo, já estaríamos em
mundos mais felizes.
Deus não precisa impedir este estado de coisas.
As suas leis são sábias, perfeitas, assertivas, tudo
preveem e a tudo proveem. O progresso é um imperativo; é
Lei. Ninguém foge, apenas dependendo de nós, alcançá-lo
mais rapidamente, pelo amor, ou de forma mais lenta,
impulsionados pela dor. Evidentemente, se o quisesse,
poderia acelerar o processo. Mas, reflitamos: Qual seria
o nosso mérito? Que merecimento e que condições teríamos
para habitar mundos felizes se não nos desprendêssemos
do egoísmo e do orgulho, em suma, se não nos
ajustássemos verdadeiramente às leis de Amor do Pai,
únicas que nos hão de conduzir à verdadeira felicidade
dos justos?
Por isso, não desanimemos. Foi o próprio Jesus quem nos
prometeu consolo: “1. Vinde a mim, todos os que
andais em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos
aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de
mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis
descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave
e o meu fardo é leve. (Mateus, XI: 28-30); (O Evangelho
segundo O Espiritismo, Capítulo VI, O Cristo
Consolador.)
Qual é, afinal, o jugo leve de que fala o Cristo?
O seu exemplo, os seus ensinamentos, as leis do Pai que
veio pôr ao nosso alcance. Ele é o Mestre, veio trazer a
luz que ilumina o nosso caminho e, com ele, devemos
animar-nos a trabalhar pela paz no mundo. De que modo?
Começando por trabalhar a paz dentro de nós, a paz em
nosso redor, sendo exemplo e testemunho vivo num mundo
tão carecido de iluminação e de orientação.
A hora não é de cruzar os braços. Compreender e aceitar
não é resignarmo-nos perante o mal. Jesus amou e perdoou
os pecadores mas nunca deixou de recriminar o mal.
Sigamos o caminho que Ele nos aponta e confiemos.
O barco em que navegamos, a Terra, não está à deriva.
Tem Jesus ao leme. A prova disso é o Espiritismo, o
Consolador Prometido por Jesus. Os tempos são duros. Por
isso, tal como o Espírito de Verdade nos exortou:
“Espíritas, amai-vos e instruí-vos”. Nisto
encontraremos a força que nos auxiliará a manter e
aprofundar a Fé.
Oremos pelo povo da Síria, para que, ajudados pela
Espiritualidade Superior, vejam a onda de destruição e
horror cessar, e possam seguir, rumo ao progresso, em
liberdade e respeito pela sua dignidade.
Maria de Lurdes Duarte reside em Alvarenga, Arouca,
Portugal.