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por Maria de Lurdes Duarte

 

Os conflitos na Síria, à luz da Doutrina Espírita


Há alguns dias atrás, tendo entre mãos a obra “Raio-X do Livro Espírita”, que me encontro, de momento, a estudar, dei com a seguinte afirmação:

“Reflito também que Jesus está no leme e, por isso, o grande barco que é o planeta Terra — abençoada escola — não está à deriva, muito menos ao sabor dos ventos globalizantes. Navegando no mar de provas e expiações, é natural que as tempestades (consumismo, crises sociais, políticas e financeiras) açoitem os passageiros de todas as classes”.

De repente, senti-me bastante grata ao autor da obra, Eurípedes Kühl, porque me dei conta de como estava precisada dessa chamada de atenção, tão premente, face aos graves acontecimentos da atualidade.

Refiro-me, concretamente, aos conflitos na Síria, que diariamente nos entram em casa pelos meios de comunicação social, e cujos horrores nos invadem os sentidos e a alma. É certo que guerras e rumores de guerras sempre os tivemos. O século XX, em particular, foi palco de duas grandes guerras que se estenderam pelo mundo e em que assistimos às maiores atrocidades e atropelos aos direitos humanos. Depois dessas, muitas outras, em determinados pontos do planeta, disseminaram destruição, fome, doença, mostrando, enfim, o quanto a humanidade terrena ainda se encontra presa aos interesses mesquinhos do egoísmo e do orgulho.

Mas nunca como hoje fomos tocados, de uma maneira tão forte, pela dor e o sofrimento que a estes conflitos estão associados. Isso deve-se, a meu ver, a dois fatores. Por um lado, os meios atuais que permitem, cada vez mais, aos repórteres, estarem presentes nos cenários de guerra, colhendo imagens e transmitindo-as em tempo real, graças às mais avançadas tecnologias, para os quatro cantos do planeta. Por outro lado, a nossa sensibilidade, apurada ao longo do caminho evolutivo que temos vindo a percorrer, vai-nos permitindo perceber e assimilar a dor dos outros, mesmo dos que não conhecemos e se encontram distantes de nós, de uma forma que antes não acontecia.

Ou seja, não somos os mesmos que fomos em épocas anteriores. Ou, explicando-me melhor, embora sejamos as mesmas individualidades, já alguma coisa certamente aprendemos, graças às oportunidades com que Deus, na Sua infinita misericórdia nunca nos faltou. Desse modo, as atrocidades em que, quantas vezes, participamos outrora, hoje causam-nos espanto e horror. Já não nos parece compatível tanto desrespeito, tanta desumanidade, tanta insensibilidade perante o sofrimento de um povo, numa época de tão grandes avanços civilizacionais.

Isto porque evoluímos. E se assim é… demos graças a Deus que tantas oportunidades nos concede, através de todas as reencarnações, que não são mais do que repetição das lições abençoadas nesta escola da vida que é o ambiente terreno.

Mas, voltando à análise da situação em causa, fácil nos é perceber que, muito naturalmente, o Mundo se encontra faminto, não só de consolo, mas também de esclarecimento. Um esclarecimento que sustente a Fé, já que, nos dias de hoje, já não basta a fé cega, dogmática; só uma fé raciocinada, esclarecida, tem sustentabilidade e encaminha o Homem para Deus.

É neste ponto que temos todas as razões para nos sentirmos abençoados pela luz que a Doutrina Espírita nos proporciona. Vejamos, então, o que nos diz a este respeito a Codificação.

No capítulo VI de O Livro dos Espíritos, Lei de Destruição, mais especificamente sobre as guerras, encontramos as seguintes questões postas por Kardec, seguidas das respetivas respostas dos Espíritos:

“742. Qual é a causa que leva o homem à guerra?

- Predominância da natureza animal sobre a espiritual e satisfação das paixões. No estado de barbárie os povos só conhecem o direito do mais forte, e é por isso que a guerra, para eles, é um estado normal. À medida que o homem progride ela se torna menos frequente, porque ele evita as suas causas e quando ela se faz necessária ele sabe adicionar-lhe humanidade.

743. A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?

- Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Então, todos os povos serão irmãos.”

E, mais adiante, sobre o destino dos culpados, Kardec pergunta:

“745. Que pensar daquele que suscita a guerra em seu proveito?”

Ao que os Espíritos respondem:

“- Esse é o verdadeiro culpado e necessitará de muitas existências para expiar todos os assassínios de que foi causa, porque responderá por cada homem cuja morte tenha causado para satisfazer a sua ambição”.

Das respostas dos Espíritos, facilmente se depreende que todo o efeito tem uma causa e que toda a causa terá, a seu tempo, e sobre a supervisão divina, o seu devido efeito. Isso, como em tudo na lei de Deus, aplica-se também à guerra e aos seus causadores. Nada acontece por acaso e nada acontece ao acaso. É a Lei.

Mas, por que ainda hoje continuamos a sofrer e a presenciar tais atrocidades em que os abusos parecem não ter limites? Por que Deus, em sua divina sabedoria e misericórdia não se apieda do sofrimento humano e permite este estado de coisas? Por que não afasta de vez da Terra aqueles que só oferecem entraves à felicidade alheia e ao progresso geral? Talvez sejam estas algumas das questões postas por aqueles que buscam compreender e não encontram solução a contento.

O Evangelho segundo O Espiritismo oferece-nos as respostas a estas interrogações, proporcionando-nos a Luz que não devemos pôr debaixo do alqueire e constituindo-se o Consolador Prometido por Jesus. Se não, vejamos.

No capítulo III, Há Muitas Moradas Na Casa De Meu Pai, encontramos o seguinte esclarecimento do Codificador, a propósito das maldades e paixões inferiores com que deparamos na Terra:

“Consideremos a Terra como um arrabalde, um hospital, uma penitenciária, um pantanal, porque ela é tudo isso a um só tempo, e compreenderemos porque as suas aflições sobrepujam os prazeres. Porque não se enviam aos hospitais as pessoas sadias, nem às casas de correção os que não praticaram crimes, e nem os hospitais, nem as casas de correção, são lugares de delícias”.

Mas, mais adiante, o Espírito Santo Agostinho assevera, deixando claro que este estado de coisas não será para sempre:

“19. O progresso é uma das leis da natureza. Todos os seres da Criação, animados e inanimados, estão submetidos a ela, pela bondade de Deus, que deseja que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que parece, para os homens, o fim das coisas, é apenas um meio de levá-las, pela transformação, a um estado mais perfeito, pois tudo morre para renascer, e nada volta ao nada. (…) A Terra, seguindo essa lei, esteve material e moralmente num estado inferior ao de hoje, e atingirá, sob esses dois aspetos, um grau mais avançado. Ela chegou a um de seus períodos de transformação, e vai passar de mundo expiatório a mundo regenerador. Então os homens encontrarão nela a felicidade, porque a lei de Deus a governará”.

As ideias expressas nesta afirmação de Santo Agostinho ajustam-se sobremaneira aos tempos a que assistimos na atualidade. Ao passar por este processo de transição planetária, muitos Espíritos estão tendo as suas últimas oportunidades de reajuste, porque Deus a ninguém falta com a Sua misericórdia. Vítimas, algozes, observadores, todos nós estamos passando por este processo de expiação das nossas culpas e prova de aptidão para fazer parte da Terra nessa nova fase de mundo de regeneração. Todos somos culpados; todos somos necessitados desta aprendizagem. Se fosse de outro modo, já estaríamos em mundos mais felizes.

Deus não precisa impedir este estado de coisas. As suas leis são sábias, perfeitas, assertivas, tudo preveem e a tudo proveem. O progresso é um imperativo; é Lei. Ninguém foge, apenas dependendo de nós, alcançá-lo mais rapidamente, pelo amor, ou de forma mais lenta, impulsionados pela dor. Evidentemente, se o quisesse, poderia acelerar o processo. Mas, reflitamos: Qual seria o nosso mérito? Que merecimento e que condições teríamos para habitar mundos felizes se não nos desprendêssemos do egoísmo e do orgulho, em suma, se não nos ajustássemos verdadeiramente às leis de Amor do Pai, únicas que nos hão de conduzir à verdadeira felicidade dos justos?

Por isso, não desanimemos. Foi o próprio Jesus quem nos prometeu consolo: “1. Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mateus, XI: 28-30); (O Evangelho segundo O Espiritismo, Capítulo VI, O Cristo Consolador.)

Qual é, afinal, o jugo leve de que fala o Cristo? O seu exemplo, os seus ensinamentos, as leis do Pai que veio pôr ao nosso alcance. Ele é o Mestre, veio trazer a luz que ilumina o nosso caminho e, com ele, devemos animar-nos a trabalhar pela paz no mundo. De que modo? Começando por trabalhar a paz dentro de nós, a paz em nosso redor, sendo exemplo e testemunho vivo num mundo tão carecido de iluminação e de orientação.

A hora não é de cruzar os braços. Compreender e aceitar não é resignarmo-nos perante o mal. Jesus amou e perdoou os pecadores mas nunca deixou de recriminar o mal. Sigamos o caminho que Ele nos aponta e confiemos.

O barco em que navegamos, a Terra, não está à deriva. Tem Jesus ao leme. A prova disso é o Espiritismo, o Consolador Prometido por Jesus. Os tempos são duros. Por isso, tal como o Espírito de Verdade nos exortou: “Espíritas, amai-vos e instruí-vos”. Nisto encontraremos a força que nos auxiliará a manter e aprofundar a Fé.

Oremos pelo povo da Síria, para que, ajudados pela Espiritualidade Superior, vejam a onda de destruição e horror cessar, e possam seguir, rumo ao progresso, em liberdade e respeito pela sua dignidade.

 

Maria de Lurdes Duarte reside em Alvarenga, Arouca, Portugal.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita