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por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo

 

Chico Xavier e crimes ocultos


Durante toda a década de 90, vivi experiência gratificante em contato com detentos da Cadeia Pública de Capivari. Ciente dos benefícios que a Lei concede ao prisioneiro trabalhador — ganho por produção, desempenho da função em ambiente fora do cárcere e redução da pena de um dia para cada três trabalhados —, repassei aos reeducandos o serviço de encadernação de dezenas de livros editados pela EME.

Além da terceirização de parte da produção aos reclusos, promovemos, dentro da cadeia pública, palestras com alguns dos nossos autores, diálogos com os reclusos no “galpão do sol” ou nas suas próprias celas. Muitos deles, após cumprimento da pena, contaram com carta de referência da Editora EME, que lhes garantiu retorno à vida profissional e familiar, evitando assim que, ao enfrentarem a sociedade, não caíssem outra vez nas malhas do crime.

Ao vê-los hoje integrados à vida social no pleno exercício da sua cidadania, sinto-me recompensado por haver tomado aquela decisão. Como dizia o médium Chico Xavier, a única diferença entre nós e os condenados é que eles foram descobertos em seus crimes, e os nossos ainda estão ocultos, porque ainda não foram desvendados.

Numa entrevista a um jornal, o médium contou que, antes de ficar doente, estivera por duas vezes em visita à Penitenciária de São Paulo, onde os livros espíritas entravam em grande quantidade. “A Diretoria da Casa pediu àqueles que quisessem ouvir a prece e a palestra que se inscrevessem. Surpresa: 542 se inscreveram”, contou o médium.

Um desses 542 detentos procurou o médium e lamentou que na Cadeia todos fossem identificados por números. O preso número 3, o preso 414 etc. “Isso dá muito desgosto”, falou o preso. Ao que Chico respondeu:

— Meu filho, quem de nós hoje que não é tratado por número? É número de RG, do CIC, do telefone, não sei de mais o quê... Nós ainda estamos com mais números que você. Só que agora estamos na cela ambulante, e vocês estão na fixa. Os presos riram muito. E o velho mineiro, com aquele coração amoroso, arrematou: “Há muita gente boa presa. Nós temos de compreender a situação deles...”

Em tom bem-humorado, completou em seguida: “Foi um encontro tão agradável que tive vontade de passar férias na cadeia. Não para ficar descansando, mas para conversar toda noite com os que pudessem conversar, mesmo na cela, porque lá há Espíritos brilhantes, maravilhosos”.

Um jornalista jovem que acompanhava o evento indagou do médium: 

- Você que tem sensibilidade de conversar e ver os Espíritos, porventura, pode dizer se está vendo os Espíritos obsessores ao lado deles?

Chico com o carinho de sempre respondeu:

– Não, meu amigo. Eles já conseguiram o que desejavam, o encarceramento de suas vítimas. Entretanto, noto aqui, ao lado dos reeducandos, pais amorosos e amigos espirituais trazendo alento e luz confortadora, estimulando-os à renovação e à liberação do mal em seus corações.

E nestes tempos de informação rápida, notamos que grande parcela da população tem sua mentalidade envenenada pelo crime e outra parcela vivendo com medo. E, por isso, 46% já pedem a pena de morte no Brasil, segundo pesquisas da CNI/Ibope, publicada na revista IstoÉ, edição 2.503.  Na internet, a campanha “Dez motivos para ser a favor, ou dez para ser contra a pena de morte” vem recebendo adesões dos dois lados. E você, de que lado está?

Para mim, a condenação extrema não resolve e não é a solução. Porque simplesmente transferimos, para o mundo espiritual, alguém que já era doente ou revoltado com um motivo a mais para se desequilibrar, o homicídio legalizado pelo Estado. O problema é complexo, de difícil solução. Mas um caminho sempre esteve aberto, o da sabedoria e do amor. Escola, educação, distribuição de renda e profissionalização dos reeducandos, esse deve ser o futuro.

Como bem assinalou o médium Chico Xavier, nas prisões estão os que foram descobertos em seus crimes. Do lado de fora estão, “ainda libertos”, muitos indivíduos (empresários, políticos, latifundiários e mesmo homens e mulheres comuns) que abdicaram da prática do bem, da honestidade, da ética e da fraternidade.

 

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é editor da Editora EME

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita