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por Rogério Coelho

 

O bem que falta e o mal que sobra


É no estado espiritual que o Espírito colhe os frutos do progresso realizado pelo trabalho na reencarnação


"Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço." - Paulo. (Ro., 7:19)


Quando o "homem-velho" começa a vislumbrar o horizonte espiritual que lhe cumpre palmilhar, e, olhando para dentro de si mesmo verifica quão vazios estão os alforjes para a viagem, queda-se em mil perplexidades embrenhando-se nas intricadas e traiçoeiras regiões do desânimo...                              

A Doutrina Espírita, revelando a reencarnação de forma cristalina e insofismável, vem em socorro dessas limitações, explicando, consoante ensino do Mestre Lionês[1]: "(...) uma só existência corporal é manifestamente insuficiente para o Espírito adquirir todo o bem que lhe falta e eliminar o mal que lhe sobra.

Como poderia o selvagem, por exemplo, em uma só encarnação, nivelar-se moral e intelectualmente ao mais adiantado europeu? É humana e materialmente impossível possibilidade! Deve ele, pois, ficar eternamente na ignorância e barbárie, privado dos gozos suavíssimos da Alma que só o desenvolvimento das faculdades pode proporcionar-lhe? O simples bom senso repele tal suposição, que seria não somente a negação da Justiça e Bondade Divinas, mas das próprias Leis evolutivas e progressivas da Natureza. Mas Deus, que é soberanamente justo e bom, concede ao Espírito tantas encarnações quantas forem as necessárias para atingir o seu objetivo: a perfeição relativa.

Para cada nova existência de permeio à matéria, entra o Espírito com o cabedal adquirido nas anteriores, em aptidões, conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade. Cada existência é assim um passo avante no caminho do progresso.

A encarnação é inerente à inferioridade dos Espíritos, deixando de ser necessária desde que estes, transpondo-lhe os limites, ficam aptos a progredir no estado espiritual, ou nas existências corporais de Mundos Superiores, que nada têm da materialidade terrestre. Da parte desses, a encarnação é voluntária, tendo por fim exercer sobre os encarnados uma ação mais direta e tendente ao cumprimento da missão que lhes compete junto aos mesmos. Desse modo aceitam abnegadamente as vicissitudes e sofrimentos da encarnação.

No intervalo das existências corporais o Espírito torna a entrar no Mundo Espiritual, onde é feliz ou desgraçado segundo o bem ou o mal que fez.

Uma vez que o estado espiritual é o estado definitivo do Espírito e o corpo espiritual não morre, deve ser esse também o seu estado normal. O estado corporal é transitório e passageiro. É no estado espiritual, sobretudo, que o Espírito colhe os frutos do progresso realizado pelo trabalho na reencarnação; é também nesse estado que se prepara para novas lutas e toma as resoluções que há de pôr em prática no seu retorno à humanidade.

O Espírito progride igualmente na Erraticidade, adquirindo conhecimentos especiais que não poderia obter na Terra, e modificando as suas ideias. O estado corporal e o espiritual constituem a fonte de dois gêneros de progresso, pelos quais o Espírito tem de passar alternadamente, nas existências peculiares a cada um dos dois mundos”.

Concluímos assim, com Kardec, que continuaremos submetidos aos dolorosos processos palingenésicos em consonância com o acervo de mal não erradicado que onera nossa economia espiritual; emancipando-nos, porém, dessa situação, tão logo o Bem e o ajuste às Leis de Deus consigam instalar-se no terreno ainda sáfaro de nossa alma.

Desde já podemos aferir nossa posição evolutiva, auscultando com isenção e humildade os mais esconsos refolhos do coração, procedendo ao levantamento do bem e do mal que existe em nós. Se já conseguimos fazer o bem que queremos e evitar o mal que não queremos, podemos nos considerar no limiar da tão almejada fronteira da promoção espiritual que nos fará gravitar para os Mundos de Regeneração.

Se, pelo contrário, ainda não fazemos o bem que queremos e só logramos realizar o mal que desejamos evitar, muito ainda teremos que nos ver com as acerbas dores e causticantes pesares em dolorosos processos de reajustamento.

A escolha é individual: somos livres para escolher; só não temos essa liberdade com relação à colheita, que é compulsória, e dentro da recíproca revelada pelo Cristo, conforme registro de Mateus em seu Evangelho, no capítulo dezesseis, versículo vinte e sete:  "a cada um será dado de acordo com as suas obras".


 

[1] - KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 1ª parte, cap. III, itens 9 e 10.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita