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Diz Joanna de Ângelis que somos todos
eternos aprendizes da vida |
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Espírita desde 1997 e vinculado à Seara Espírita Joanna
de Ângelis, em Campinas (SP), tendo já presidido a
instituição, nosso entrevistado, Augusto Cantusio Neto
(foto), é natural da mesma cidade, onde também
reside. Engenheiro civil e estudioso atento da obra
produzida pelo espírito Joanna de Ângelis, fala-nos
sobre a importância da Série Psicológica da conhecida
autora espiritual.
Como e por que surgiu o interesse pela obra de Joanna de
Ângelis?
Em 1997, quando iniciei minha presença no Espiritismo,
fui convidado por uma hoje grande amiga, Vera Menni, a
uma entrevista através do Atendimento Fraterno
disponibilizado pela Seara. A partir de então me foi
possível adentrar as propostas do Espiritismo, sendo a
primeira obra que li O Livro dos Espíritos e, em
sequência, as demais obras do Pentateuco, sem me
preocupar na ocasião com estudo mais aprofundado sobre
os temas ali apresentados, apenas uma leitura
introdutória do conteúdo doutrinário.
Posteriormente, mais consciente da lógica espírita, até
talvez pela formação em Engenharia que nos leva sempre a
buscar a lógica, me aprofundei nas leituras das obras
básicas, agora buscando estudá-las. A próxima etapa, até
por informação de amigos espíritas, foi a leitura dos
dezesseis livros psicografados pelo saudoso Chico
Xavier, de autoria de André Luiz, o que sempre imaginei
ser uma grande equipe de espíritos que adotaram o nome
André Luiz.
Uma vez compreendendo mais os ensinamentos espiritistas,
entendi ser necessária a leitura e estudo das obras de
Joanna de Ângelis, uma vez que era, de início, apenas
mais um frequentador dos trabalhos públicos na
instituição que leva seu nome.
Confesso que me deparei com imensa dificuldade em
relação à compreensão do significado de algumas palavras
escritas nas obras da Nobre Mentora, o que me levou, de
imediato, a buscar o auxílio de um dicionário. E foi o
que me salvou de abandonar as leituras propriamente
ditas.
O que mais lhe chama atenção em todo o conjunto do
trabalho produzido por esse espírito?
Dentro do conjunto de livros ditados por Joanna de
Ângelis, o que mais me chamou a atenção foi a chamada
Série Psicológica, hoje composta por dezesseis livros.
Alguns anos antes da leitura e estudo dessas obras, em
uma conversa informal com Hernani Guimarães Andrade, o
maior pesquisador espírita em nosso país e possivelmente
no mundo, profundo conhecedor dos processos da
reencarnação, ele apontou algo que me chamou a atenção.
Ele havia acompanhado o médico psiquiatra Dr. Ian
Stevenson, notoriamente conhecido por ter estudado mais
de três mil casos sugestivos de reencarnação, por
ocasião de sua visita ao Brasil na década de 1960, o
qual, logo depois, escreveu a obra “Vinte Casos
Sugestivos de Reencarnação”, na qual traz uma abordagem
a respeito das recordações espontâneas de crianças
acerca de suas vivencias passadas, fato que havia sido
denominado pelo Prof. Hemendra Nath Banerjee de “Memória
Extracerebral”. Após essa sua obra inicial, o Dr.
Stevenson passou a ampliar o leque de estudos sobre a
reencarnação e outros livros surgiram, a maioria ainda
sem tradução e edição no Brasil, onde traz a lume as
recordações espontâneas de vidas anteriores agora
associadas a “marcas de nascença”, na maioria dos casos
oriundas de fatos traumáticos do passado.
Pois bem, o Dr. Hernani, na conversa que tivemos,
sugeriu que além das recordações associadas às marcas de
nascença (bith marks), também deveríamos
observar, e muito atentamente, aquelas que ele denominou
“marcas psicológicas”, pois essas seriam ainda mais
objetivas, pois praticamente todos nós as carregamos de
um passado próximo ou remoto. Associando essa proposta
do Dr. Hernani à Série Psicológica de Joanna de Ângelis,
compreendi que ali se encontravam dados substanciais
para podermos compreender as nossas marcas psicológicas,
pois na referida série a autora espiritual se utiliza
dos temas desenvolvidos pela Psicologia tradicional e
seus famosos autores, agora ampliada dentro de uma
perspectiva não mais materialista e cerebrocêntrica, mas
analisando-se o ser dentro das suas características
espirituais e sua gigantesca carga psicológica das
experiências transatas, nas reencarnações que operam
nosso desenvolvimento, como tão bem analisa a autora, do
ponto de vista sociopsicológico e biológico.
Dos livros estudados, qual o seu preferido e por quê?
Essa talvez seja a questão mais difícil de responder,
mas vamos tentar. Dentre as obras fora do contexto da
Série Psicológica, muito embora considere todas as obras
da autora dentro desse contexto psicológico, tive um
prazer muito grande na leitura e diversas releituras de
“Dias Gloriosos”. É uma obra, como o próprio título
aponta, uma análise de nossos tempos e o desenvolvimento
a que estamos expostos nos auxiliando ao crescimento em
todos os aspectos da vida, a um momento de evolução
social e moral como em poucas outras eras tivemos à
nossa disposição.
Dentro da Série Psicológica, a análise é ainda mais
complexa, mas como tenho de escolher uma delas, ficaria
com “Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda”.
É uma espetacular abordagem a respeito da presença real
de Jesus junto de nós, mostrando sua condição de Homem
encarnado, diluindo as propostas enganosas que ainda
pairam sobre o movimento espírita de que Jesus teria
vivido junto de nós sob a condição de um corpo fluídico,
o que seria de uma tremenda hipocrisia, frontalmente em
oposição à proposta de Mestre Galileu e também em
contraposição à resposta dos Nobres Espíritos a Allan
Kardec em “O Livro dos Espíritos”, quando responderam na
questão 625 sobre qual o espírito que Deus nos teria
permitido conhecer como Modelo e Guia: Jesus. Dessa
maneira, somente um Jesus Homem encarnado, e diga-se de
passagem, pela primeira e única vez no planeta Terra,
vivenciando as dores e complexidades do mundo é que
poderia ser a “Luz do Mundo”.
E como tem sido o trabalho de exposição nas palestras a
respeito desse conteúdo?
Seguindo a proposta de um amigo muito querido, Élcio
Menni, começamos a realizar mensalmente na Seara
Espírita Joanna de Ângelis palestras com o conteúdo das
obras da Série Psicológica. O trabalho foi de muitos
meses até que tivéssemos a oportunidade de abordar doze
das dezesseis obras.
Quero crer que ainda existem muitas dificuldades para
entendimento dessa temática. Quando se fala em Joanna de
Ângelis, infelizmente ainda muitos espíritas costumam
dizer que é uma obra muito difícil de ser compreendida;
ao contrário, sendo o Espiritismo uma doutrina de
cultura e conhecimento, cabe a cada um de nós o esforço
necessário para o estudo incessante e buscar através de
palestras sobre os temas da autora, e que são muitas em
nosso país, a elucidação de certos aspectos abordados
nas referidas obras.
Procuro nas palestras que realizamos, sempre que
possível, trazer comparações com o cotidiano através de
estórias inseridas no contexto de experiências
vivenciadas por pessoas do mais diversos matizes.
De que forma sente o público diante das informações
levadas em palestras?
Como é a repercussão?
Na grande maioria das vezes, as pessoas nos vêm
perguntar algo a respeito de um determinado ponto que
tenha sido abordado, e também recebemos de muitos
narrativas de experiências pessoais, semelhantes às que
abordamos durante a preleção.
Sempre gostamos de pensar que o resultado seja
satisfatório. Certa vez ouvi de Divaldo Franco uma frase
marcante. Disse-nos que todas as vezes que participamos
de uma palestra de caráter realmente doutrinário saímos
dali renovados, saímos dali de maneira diferente de
quando adentramos o local.
Para quem vai iniciar estudos e pesquisas em torno de
toda a obra, qual sua recomendação para iniciar?
Acredito que uma maneira de se compreender a obra de um
autor, é buscarmos estudá-la seguindo a ordem
cronológica adotada na sua elaboração. No caso de Joanna
de Ângelis, iniciamos dessa maneira e fomos, de certa
forma, acompanhando o desenvolvimento do raciocínio da
autora, pois, como já expusemos, todas as suas obras
trazem em si uma análise psicológica. Divaldo Franco, em
entrevista publicada em DVDs, esclarece que a Mentora
estudou por cinquenta anos os temas relacionados à
Psicologia, daí se pode compreender que desde sua
primeira obra, “Messe de Amor”, uma vez que o Amor é
algo que aprendemos ao longo de nosso desenvolvimento
psicológico, a abordagem tem uma sequência que vale a
pena ser analisada.
Destaque um dos raciocínios mais marcantes desse nobre
autor.
Somos todos eternos aprendizes da vida...
De suas lembranças com esses estudos e pesquisas, o que
lhe vem à mente imediatamente?
Sempre Jesus.
Algo em especial que gostaria de destacar aos leitores?
Jamais desistir diante do que quer que seja.
Suas palavras finais.
Antes de mais nada espero não ter-me alongado em algumas
respostas além do razoável.
Temos vivido dias bastante tumultuados, aqui em nosso
país e no restante do mundo. Observamos com certa
angústia as redes sociais, que deveriam ser de troca de
ideias e de ideais, perdendo-se em discussões
infrutíferas, de desprezos mútuos, de cizânias
desnecessárias, certamente por falta de Paz em nossos
corações. Então, gostaria de finalizar com esta mensagem
de Joanna de Ângelis na obra “Diretrizes para o Êxito”:
“O pacifismo é um movimento que se origina no imo do ser
humano e se exterioriza em forma de justiça social,
harmonia espiritual, equilíbrio moral.
Conquista valiosa do homem e da mulher de bem, a sua
bandeira se levanta para indicar rumos de felicidade
para o organismo social.
Harmonizando indivíduos que vibram na mesma faixa de
ideal, jamais se utiliza de recursos ignóbeis para
alcançar o seu objetivo, perseverando na paciência e no
amor, cujo calor dissolve as mais grosseiras cadeias do
ódio e dissipa as mais densas nuvens do ressentimento.
O pacifista sabe que o seu apostolado é de longo curso,
e por isso não investe com pressa, gerando perturbação e
impondo-se, porque trabalha nas heranças do primarismo
humano de forma que os instintos agressivos sejam
transformados em emoções de solidariedade que geram a
lídima fraternidade entre todos.”
A todos, nossos sinceros votos de Muita Paz.