Boas maneiras
O desenvolvimento da humildade, em nós, é um convite
perene do amado Mestre para um viver mais feliz e mais
pleno de realizações, entendendo-se a humildade como um
sentimento contrário ao orgulho. Vestes simples, pouca
instrução ou poucas posses materiais, como sinônimo de
humildade, é ideia falsa, pois que encontramos muitos
ricos de bens materiais e ricos em humildade; como
também nos deparamos com pobres de bens materiais e
ricos em orgulho.
Como vários outros ensinamentos de Jesus, este também
aparece no Evangelho, em muitas passagens, no campo da
simbologia, mas, também, como todos os outros, podemos
deslocá-lo para a vida comum, aquela que experimentamos
todos os dias.
Isto significa que as recomendações do Cristo, os
convites que nos faz à reflexão prestam-se a situações
em que nos vejamos convocados a examinar algo novo, por
exemplo, nossas atitudes baseadas no orgulho, junto aos
semelhantes, principalmente para todos aqueles que já
receberam as palavras do Mestre em espírito e verdade.
Constantemente o Excelso Amigo nos chama a abandonar o
orgulho, a nos humilharmos, a nos tornarmos pequenos,
tendo em vista que, segundo Ele, e não segundo nosso
imperfeito entendimento, o menor da Terra será o maior
no reino dos céus. Percebemos que é comum aos
orgulhosos, que querem ostentar grandeza, ocuparem na
sociedade em que vivem as posições de destaques mais
distintas para atrair atenções, muitas vezes sem o
devido preparo para ocupar tais postos. Por essa razão,
aconselha-nos ainda a nos sentarmos nos últimos lugares,
longe de destaques, para que não venhamos a ser
convidados a nos retirarmos deles, dando lugar a quem de
fato os mereça.
Ficamos assim em um impasse diante dos convites de
Jesus: de que maneira podemos entender essa sua sugestão
se o progresso é uma lei natural e se o nosso destino é
evoluir? Como poderemos conciliar o ensinamento
evangélico com a realidade da lei do progresso, que
podemos constatar em toda criação?
Basta para isso observarmos a evolução que se processa
em todos os reinos da natureza. É suficiente que
prestemos atenção à própria história da Humanidade e o
quanto temos evoluído, desde o homem da caverna, que
pouco diferia de um animal, até o homem da civilização
científica e tecnológica. Entretanto, se no campo
intelectual o homem conquistou tão grande progresso, no
campo moral não aconteceu o mesmo. Eis aqui a razão do
sofrimento humano: somos todos vitimados pelo nosso
próprio comportamento, distanciados que estamos das leis
de Deus. Justifica-se, assim, o porquê de Jesus nos
alertar para a necessidade de despertarmos, em nós, as
virtudes da humildade e da simplicidade.
Não é difícil encontrarmos pessoas que justificam suas
atitudes prepotentes e arrogantes, de não se humilharem
e nem se rebaixarem diante de ninguém, por acreditarem
que somente aqueles que se impõem vencem no mundo.
Pobres companheiros que ignoram que, segundo Jesus,
humildade nada tem a ver com servilismo. Na excelência
de sua pedagogia, quando o Mestre nos ensina
simplesmente que “todo aquele que se eleva será
rebaixado”, reporta-se ao sentimento de orgulho, porque
toda elevação pessoal que tem por base o orgulho é
ilusória. Assim, todo aquele que utiliza o mal como
alavanca de elevação será rebaixado, pois só o bem que
cultivamos em nós é indestrutível e nos oferece base
sólida para todas as realizações.
A vida em sociedade estimula a competição, mas, longe de
ser uma competição saudável, ela tem levado as criaturas
a perderem o bom senso, a razão e a se comportarem como
se vivessem não entre companheiros, mas entre
adversários. Nas situações comuns da vida, julgam ter
“vencido”, na maioria das vezes, os que usam a esperteza
– no sentido negativo do termo – esquecidos de que todas
as posições são transitórias, e que mais cedo ou mais
tarde serão rebaixados por não possuírem a base sólida
do amor em suas conquistas, situação essa que lhe
reclamará reajustes, mais tarde.
A nossa vitória só será real quando conquistarmos a
elevação sobre nós mesmos, na consciência daquele que
diz: hoje, eu cresci em conhecimento; hoje, eu fui
melhor do que fui ontem; hoje, eu sou mais paciente,
tenho mais coragem moral, sou mais prudente, mais calmo;
hoje, eu cresci nos meus valores afetivos, nas minhas
qualidades positivas...
Dos vários momentos da vida comum de Jesus, no convívio
com seus discípulos, encontramos muitos nos quais Ele
aproveita para nos ensinar sobre a humildade. Deles,
vamos destacar um que nos parece bastante significativo:
Estando em uma festa e observando o comportamento dos
convidados, ensinou que, quando convidados, nunca
tomássemos assento entre os primeiros lugares, para que,
ao chegar outro convidado mais considerado, o anfitrião
não precisasse nos pedir para ceder nossos lugares. Mas,
ao contrário, que buscássemos os últimos lugares, para
que fosse motivo de glória o anfitrião nos convidar a
tomar lugar de maior destaque.
Eis a valorização da humildade, pois só aquele que
compreende a sua condição de aprendiz da vida por ser
Espírito imortal, em constante processo de aprendizagem,
pode ser humilde; e só pode ser humilde aquele que
compreende que a posição de superioridade é acréscimo de
responsabilidade espiritual para produzir o Bem, para
amparar, para servir. Quanto mais sabemos, maior será
nossa responsabilidade com esse saber e com o uso que
fizermos dele.
Auxiliar a todos para que todos ao nosso redor se
elevem, assim como desejamos também nos elevar é algo
possível, realizável. Precisamos despertar e ver que
milhões de criaturas, em posição inferior à nossa, nos
pedem que estendamos nossas mãos, que abramos nossos
corações em irradiações de entendimento, fraternidade,
ajudando-as incondicionalmente.
Meus amigos, quando um cristão pronuncia as sagradas
palavras “Pai Nosso”, está reconhecendo não só a
Paternidade de Deus, mas aceitando também, por sua
família, a Humanidade inteira. Portanto, é nosso dever
moral a assistência incondicional ao necessitado em
qualquer esfera da existência, não importa onde, não
importa quando e nem a quem.
Então, com vistas a isso, podemos nos fazer algumas
perguntas todos os dias:
1 – Acredito na vitória do bem sem que me disponha a
trabalhar para isso?
2 – Admito minha capacidade de errar a fim de aprender
ou, acaso, me julgo infalível?
3 – Nas horas de crise, consigo me colocar no lugar da
pessoa em dificuldade para melhor ajudar?
4 – Quando digo que não perdoo quem me ofende, por acaso
estarei acreditando que amanhã não precisarei do perdão
de alguém?
5- É possível que determinados companheiros me incomodem
presentemente, no entanto, será que tenho vivido, até
agora, sem incomodar ninguém?
Assim, a partir do momento em que modificarmos a nossa
postura de orgulho diante da vida, já poderemos nos
sentir, imediatamente mais felizes, porque
bem-aventurados. Por essa razão Jesus ensinava
incansavelmente o princípio da humildade como condição
essencial à felicidade prometida.
Bibliografia:
KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos – questão
573.
KARDEC, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo –
Cap. 7.
XAVIER, F.C. - Caminho, Verdade e Vida – pelo
Espírito Emmanuel – 17ª edição, Editora FEB,
Brasília/DF, lição 120.