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por Leda Maria Flaborea

 

Boas maneiras


O desenvolvimento da humildade, em nós, é um convite perene do amado Mestre para um viver mais feliz e mais pleno de realizações, entendendo-se a humildade como um sentimento contrário ao orgulho. Vestes simples, pouca instrução ou poucas posses materiais, como sinônimo de humildade, é ideia falsa, pois que encontramos muitos ricos de bens materiais e ricos em humildade; como também nos deparamos com pobres de bens materiais e ricos em orgulho.

Como vários outros ensinamentos de Jesus, este também aparece no Evangelho, em muitas passagens, no campo da simbologia, mas, também, como todos os outros, podemos deslocá-lo para a vida comum, aquela que experimentamos todos os dias.

Isto significa que as recomendações do Cristo, os convites que nos faz à reflexão prestam-se a situações em que nos vejamos convocados a examinar algo novo, por exemplo, nossas atitudes baseadas no orgulho, junto aos semelhantes, principalmente para todos aqueles que já receberam as palavras do Mestre em espírito e verdade.

Constantemente o Excelso Amigo nos chama a abandonar o orgulho, a nos humilharmos, a nos tornarmos pequenos, tendo em vista que, segundo Ele, e não segundo nosso imperfeito entendimento, o menor da Terra será o maior no reino dos céus. Percebemos que é comum aos orgulhosos, que querem ostentar grandeza, ocuparem na sociedade em que vivem as posições de destaques mais distintas para atrair atenções, muitas vezes sem o devido preparo para ocupar tais postos. Por essa razão, aconselha-nos ainda a nos sentarmos nos últimos lugares, longe de destaques, para que não venhamos a ser convidados a nos retirarmos deles, dando lugar a quem de fato os mereça.

Ficamos assim em um impasse diante dos convites de Jesus: de que maneira podemos entender essa sua sugestão se o progresso é uma lei natural e se o nosso destino é evoluir? Como poderemos conciliar o ensinamento evangélico com a realidade da lei do progresso, que podemos constatar em toda criação?

Basta para isso observarmos a evolução que se processa em todos os reinos da natureza. É suficiente que prestemos atenção à própria história da Humanidade e o quanto temos evoluído, desde o homem da caverna, que pouco diferia de um animal, até o homem da civilização científica e tecnológica. Entretanto, se no campo intelectual o homem conquistou tão grande progresso, no campo moral não aconteceu o mesmo. Eis aqui a razão do sofrimento humano: somos todos vitimados pelo nosso próprio comportamento, distanciados que estamos das leis de Deus. Justifica-se, assim, o porquê de Jesus nos alertar para a necessidade de despertarmos, em nós, as virtudes da humildade e da simplicidade.

Não é difícil encontrarmos pessoas que justificam suas atitudes prepotentes e arrogantes, de não se humilharem e nem se rebaixarem diante de ninguém, por acreditarem que somente aqueles que se impõem vencem no mundo. Pobres companheiros que ignoram que, segundo Jesus, humildade nada tem a ver com servilismo. Na excelência de sua pedagogia, quando o Mestre nos ensina simplesmente que “todo aquele que se eleva será rebaixado”, reporta-se ao sentimento de orgulho, porque toda elevação pessoal que tem por base o orgulho é ilusória. Assim, todo aquele que utiliza o mal como alavanca de elevação será rebaixado, pois só o bem que cultivamos em nós é indestrutível e nos oferece base sólida para todas as realizações.

A vida em sociedade estimula a competição, mas, longe de ser uma competição saudável, ela tem levado as criaturas a perderem o bom senso, a razão e a se comportarem como se vivessem não entre companheiros, mas entre adversários. Nas situações comuns da vida, julgam ter “vencido”, na maioria das vezes, os que usam a esperteza – no sentido negativo do termo – esquecidos de que todas as posições são transitórias, e que mais cedo ou mais tarde serão rebaixados por não possuírem a base sólida do amor em suas conquistas, situação essa que lhe reclamará reajustes, mais tarde.

A nossa vitória só será real quando conquistarmos a elevação sobre nós mesmos, na consciência daquele que diz: hoje, eu cresci em conhecimento; hoje, eu fui melhor do que fui ontem; hoje, eu sou mais paciente, tenho mais coragem moral, sou mais prudente, mais calmo; hoje, eu cresci nos meus valores afetivos, nas minhas qualidades positivas...

Dos vários momentos da vida comum de Jesus, no convívio com seus discípulos, encontramos muitos nos quais Ele aproveita para nos ensinar sobre a humildade. Deles, vamos destacar um que nos parece bastante significativo: Estando em uma festa e observando o comportamento dos convidados, ensinou que, quando convidados, nunca tomássemos assento entre os primeiros lugares, para que, ao chegar outro convidado mais considerado, o anfitrião não precisasse nos pedir para ceder nossos lugares. Mas, ao contrário, que buscássemos os últimos lugares, para que fosse motivo de glória o anfitrião nos convidar a tomar lugar de maior destaque.

Eis a valorização da humildade, pois só aquele que compreende a sua condição de aprendiz da vida por ser Espírito imortal, em constante processo de aprendizagem, pode ser humilde; e só pode ser humilde aquele que compreende que a posição de superioridade é acréscimo de responsabilidade espiritual para produzir o Bem, para amparar, para servir. Quanto mais sabemos, maior será nossa responsabilidade com esse saber e com o uso que fizermos dele.

Auxiliar a todos para que todos ao nosso redor se elevem, assim como desejamos também nos elevar é algo possível, realizável. Precisamos despertar e ver que milhões de criaturas, em posição inferior à nossa, nos pedem que estendamos nossas mãos, que abramos nossos corações em irradiações de entendimento, fraternidade, ajudando-as incondicionalmente.

Meus amigos, quando um cristão pronuncia as sagradas palavras “Pai Nosso”, está reconhecendo não só a Paternidade de Deus, mas aceitando também, por sua família, a Humanidade inteira. Portanto, é nosso dever moral a assistência incondicional ao necessitado em qualquer esfera da existência, não importa onde, não importa quando e nem a quem.

Então, com vistas a isso, podemos nos fazer algumas perguntas todos os dias:

1 – Acredito na vitória do bem sem que me disponha a trabalhar para isso?

2 – Admito minha capacidade de errar a fim de aprender ou, acaso, me julgo infalível?

3 – Nas horas de crise, consigo me colocar no lugar da pessoa em dificuldade para melhor ajudar?

4 – Quando digo que não perdoo quem me ofende, por acaso estarei acreditando que amanhã não precisarei do perdão de alguém?

5- É possível que determinados companheiros me incomodem presentemente, no entanto, será que tenho vivido, até agora, sem incomodar ninguém?

Assim, a partir do momento em que modificarmos a nossa postura de orgulho diante da vida, já poderemos nos sentir, imediatamente mais felizes, porque bem-aventurados. Por essa razão Jesus ensinava incansavelmente o princípio da humildade como condição essencial à felicidade prometida.

 

Bibliografia:

KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos – questão 573.

KARDEC, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. 7.

XAVIER, F.C. - Caminho, Verdade e Vida – pelo Espírito Emmanuel – 17ª edição, Editora FEB, Brasília/DF, lição 120.

                 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita