A mão, o
olho e o pensamento!
Na maioria dos crentes,
independentemente da
religião, sonham por um
paraíso futuro após
desencarne. Buscam
através da oração, como
é conhecida (conversa
com Deus), melhorarem-se,
pedindo perdão e ajuda
em suas tarefas.
A sugestão do Mestre que
nos foi trazida através
do Novo Evangelho acerca
da oração são três
conselhos:
- Recolhe-te aos teus
aposentos e em silêncio
ora.
- Dize poucas palavras.
- Pede força e coragem.
Nestes três conselhos,
podemos perceber que as
palavras não são de
grande importância, pois
tal como na continuação
do segundo conselho,
Deus que tudo sabe, sabe
o que necessitamos mesmo
antes de nós sabermos.
O excesso de palavras
tem em nós uma força
magnética possante,
variando conforme nossos
profundos desejos
terrenos, deixando-nos
em uma bolsa mental
auto-hipnótica dentro da
fronteira da consciência
vivente terrena.
Mesmo quando oramos, na
maioria das vezes
pedimos “perdão para
mim”, ”ajuda-me a
fazer”, “melhora o meu
ser” etc.. Eu… mim…
meu... etc.,
fortalecendo a imagem do
eu ou do Ego,
alicerçando esta força
individual e divisória.
Ao buscarmos amparar
quem necessita em nossas
ações, teremos presente
conosco a melhor das
orações, segundo a Madre
Teresa. Com este ato
altruísta, somos levados
ao esquecimento do “eu”
e libertamo-nos
temporariamente da força
que nos tem mantido
estagnados na via do
progresso moral.
O “eu”, criação mental
através do pensamento, é
a mãe dos defeitos
terrenos, como o egoísmo
e orgulho, que só
existem quando vemos a
vida através desta forma
individualizada de
viver.
Isto pode-nos parecer
estranho porque não
concebemos outra forma
de viver senão com o
“eu”, nem sei se será
possível. Os iluminados
que passaram na Terra
dizem-nos que o sentido
da vida é a libertação
do jugo do Ego e a
anulação deste, a
vivência como um ser
total, unos com o
universo, onde a
caridade é ferramenta
indispensável por nos
levar a esquecer um
pouco de nós próprios.
Não consigo conceber uma
vivência sem o “eu”,
mas, em contrapartida,
consigo visualizar a
importância desmedida
que damos a este ser
terreno que todos
criamos e montamos
através do pensamento.
Jesus Cristo, em
determinado momento,
disse-nos:
“Mas, quando derdes
esmola, não saiba a
vossa mão esquerda o que
faz a direita; para que
a vossa esmola fique
escondida, e vosso Pai,
que vê o que fazeis em
segredo, vos
recompensará”. (Mateus,
VI: 1 a 4.)
O que será que quis
dizer com a mão esquerda
não saber o que a outra
fez, uma vez que as duas
mãos são minhas? Atrás
ele já nos tinha
alertado para não
mostrar aos outros
tocando a trombeta, mas
é mais profundo, como se
nos dissesse para
escondermos de nós
próprios, ou, neste
caso, do “eu” próprio.
Quando dou uma esmola
devo ficar feliz por mim
ou triste pelo outro?
Não seria melhor se o
nosso irmão que
necessita não precisasse
dela? Deveria ficar
feliz por cada pessoa
que eu passasse e não
precisasse de minha
esmola, mas, aquele
irmão que precisa, e
amanhã continuará a
precisar e eu já não
passarei por ele,
deveria ser motivo de
tristeza.
Na realidade isto
acontece quando nos toca
no coração
profundamente, tal como
o ver uma criança em mau
estado; nós não
conseguimos pensar em
nós, apenas naquela
pobre criança, e aí não
sentimos a satisfação da
dádiva, apenas a
compaixão com aquele
infeliz ser.
No primeiro caso, após
dar, sinto uma
satisfação por ter sido
“bom”, por ter ofertado
algo que o outro
precisava. De onde nasce
essa satisfação senão do
fortalecimento do Ego?
Fui uma boa pessoa, “Eu”
pude ajudar o outro.
Será que
inconscientemente
teremos “orgulho” de
nosso ato que nos leva a
caminho do “paraíso”? Se
eu não dissesse nada a
mim mesmo, através do
pensamento mudaria o
ato? Talvez esta seja a
mão esquerda que Jesus
nos falou, uma mão
interna que à semelhança
do “olho que é motivo de
escândalo e devemos
arrancá-lo”, é moral e
vive em nosso ser.
Jesus fala-nos,
sabiamente em seus
conselhos, para
abandonarmos a
importância do Ego,
esquecermos o eu, e
vivermos para o Universo
em nossas ações. Penso
que o que nos quer dizer
é para não voltarmos
tanto o pensamento a nós,
não vivermos a partir de
um ponto isolado da
individualidade criada
mentalmente, e que nos
leva aos conflitos com
os outros.
Será que nós
necessitamos
constantemente de
colocar em nossos
pensamentos este ser
egocentrista para
funcionar no dia a dia?
Ou poderei eu agir em
silêncio mental sem a
influência da imagem do
eu? Apenas agir… sem
benefícios mentais
criados pelo pensamento… |