Vade retro, “coisa-ruim”!...
O Vaticano acaba de abrir as portas para seu curso anual
de exorcismo em meio a uma demanda crescente de
comunidades católicas ao redor do mundo. Cerca de 250
padres, vindos de 50 países, chegaram a Roma para, entre
outras coisas, aprender a identificar uma "possessão
demoníaca", ouvir testemunhos de colegas e conhecer os
rituais para a expulsão de “demônios".
Em 2017, o Papa Francisco disse a clérigos que eles "não
deveriam hesitar" em encaminhar casos para exorcistas ao
notarem "distúrbios espirituais genuínos". Em 1999, a
Igreja Católica fez a primeira grande atualização nas
regras sobre exorcismo desde 1614, distinguindo a
possessão demoníaca de doenças físicas e psicológicas.
[1]
Em geral, o padre pratica o ritual usando uma túnica
branca de renda chamada sobrepeliz com uma estola roxa.
A pessoa possuída pode ser atada, e água benta deve ser
usada. O padre faz o sinal da cruz várias vezes em
frente à pessoa ao longo do procedimento. O padre
convoca santos, reza e lê trechos da Bíblia nos quais
Jesus expulsa demônios de pessoas.
Em nome de Jesus, ele pede ao demônio que se renda a
Deus e vá embora, tantas vezes quanto necessário. “Assim
que o padre se convence de que o exorcismo funcionou,
ele reza a Deus para que impeça o Espírito maligno de
importunar a pessoa afetada novamente, e que, em vez
disso, a ‘bondade e paz do nosso Senhor Jesus Cristo’ se
apossem dela.” [2]
O jornal Correio Braziliense [3] publicou em 3 de julho
de 2014 que o Vaticano reconheceu juridicamente a
Associação Internacional de Exorcistas (AIE). A notícia
foi espalhada pelo jornal L'Osservatore Romano,
confirmando que a Congregação para o Clero aprovou os
estatutos da associação através de um decreto. O ritual
do “exorcismo” foi restaurado pelo papa João Paulo II,
“quando a Igreja católica decidiu, depois de quase 400
anos, revisar o texto anterior de 1614, devido às
mudanças realizadas pelo Concílio Vaticano II
(1962-1965) e aos avanços da ciência no campo da mente.
[4]
Será que existem fundamentos coerentes à prática do
exorcismo? Consta que no ritual da Igreja romana tão
somente os bispos podem autorizar um sacerdote a fazer
“exorcismos”. Segundo relatos, no esconjuro, os "demos"
respondem com mentiras às indagações do “exorcista”
sobre a identidade e/ou os motivos da subjugação.
Amparados no bramido beneditino “vade retro, satanás!”,
os exorcistas exortam os Espíritos satânicos a saírem do
corpo dos possessos, valendo-se igualmente da invocação
do nome de Deus, de Cristo e todos os anjos. Ao fim das
extenuantes algazarras e invocações, sempre sob o arrimo
da “reza brava”, o resultado poderá aparecer de forma
ligeira, sem sustento duradouro.
Os espíritas compreendem que os tais “demônios”,
“capetas”, “coisa-ruim”, “lúcifer”, “diabo”, “satanás”,
“satã”, “cão”, “demo”, “besta” etc., no senso comum, não
são seres votados por Deus à prática do mal, e sim seres
humanos desencarnados que se desequilibraram em atitudes
infelizes perante a vida. “Na raiz do problema
encontramos a necessidade de considerar os chamados
‘Espíritos das trevas’ [demônios] por irmãos
verdadeiros, requisitando compreensão e auxílio, a fim
de se remanejarem do desajuste para o reequilíbrio neles
mesmos.” [5]
Se o célebre “exorcismo”, aplicado consoante os rituais
das igrejas, não funciona, como tratar o processo de
subjugação espiritual? Ora, a maioria dos Centros
Espíritas dispõe de trabalhos de desobsessão. Embora
saibamos que a tarefa de tratamento espiritual não é
simples, pois muitas vezes obsedado e obsessor comungam
um mesmo estado mental, dificultando a identificação de
quem é vítima de quem.
Há trabalhos de “desobsessão”, conforme garantem os
incautos, que são mais “fortes” e “imediatos”, contudo,
infelizmente, nesses estranhíssimos “tratamentos
espirituais”, é fixado apenas um imperativo urgente: o
afastamento rápido do obsessor. Mas será que esse
instantâneo banimento espiritual é possível? Ora, “como
rebentar, de um instante para outro, algemas [mentais]
seculares forjadas nos compromissos recíprocos da vida
em comum?” [6]
Portanto, são inteiramente inúteis as fórmulas e rituais
exteriores para “exorcismos”, o que importa é a
autoridade moral do doutrinador. Nesse sentido, a
técnica da conversação [doutrinação] com os
perseguidores do Além estabelece uma das grandes
contribuições do Espiritismo para a melhora das relações
entre encarnados e desencarnados. Em face disso, as
reuniões de desobsessão bem orientadas são de grandiosa
força revolucionária, por disseminar nas suas sessões o
convite amorável do Mestre sobre o amor e o perdão.
Referências bibliográficas:
[1] Disponível em bbc, acessado
em 4 de maio de 2018.
[2] Disponível em bbc
1, acessado
em 4 de maio de 2018.
[3] Disponível em correio.
[4] Disponível em globo, acesso
em 18/07/2014.
[5] XAVIER, Francisco Cândido. Caminhos de Volta,
ditado por Espíritos diversos, SP: edição GEEM, 1980.
[6] XAVIER, F. C. Missionários da Luz, pelo
Espírito André Luiz. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1970.
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