Artigos

por Bruno Abreu

 

Tranquilidade ou intranquilidade?


No tempo em que vivemos, a velocidade a que se dá o nosso movimento é estonteante. Levantamo-nos de manhã a correr para poder arranjar-nos, e quem tem filhos fica com as tarefas redobradas para que possam orientar estes pequenos para a sua labuta diária. Nossa vida é feita a correr atrás dos ponteiros do relógio de tal forma que apelidamos de qualidade de vida o termos um pouco mais deste precioso bem.

Mal temos tempo seja para o que for, e com a interiorização deste movimento, que faz a nossa cabeça andar a 150 por cento, tentamos organizar o dia que teremos e perturbamo-nos com os problemas de ontem, sem conseguirmos nos preocupar uns com os outros.

Tranquilidade é um estado de espírito que por vezes alcançamos, na nossa maioria, muito poucas vezes. O correto seria o contrário, já que deveríamos mantê-la constante e, de vez em quando, perdê-la.

Será possível viver tranquilamente da forma que vivemos hoje em dia?

Jesus Cristo desencarnou de forma tranquila no meio de um “inferno” causado pelo povo. Estêvão impressionou Paulo ao se manter tão sereno e tranquilo na hora de seu violento desencarne.  Mandela geriu o problema do apartheid de forma tranquila após um encarceramento violento de 28 anos em meio de uma guerra.

Estes irmãos de sabedoria impressionante conseguiram conviver de forma tranquila em situações extremamente adversas. Claro que não nos podemos comparar a eles, somos seus irmãos mais novos a aprender a viver de forma serena, mas podemos tentar perceber como é possível algo que nos parece impossível, e se conseguiram viver tranquilos em um mar tão revoltoso, por que não conseguimos nós alguma tranquilidade em uma vida acelerada?

A tranquilidade é um estado de espírito natural quando não se dão alterações emocionais em nós. O que é que isto nos quer dizer?

Quando me deparo com um problema que me deixa preocupado, minha tranquilidade vai embora. Na verdade ela não foi embora, o problema é que a fez desaparecer como as nuvens escondem o sol quando tapam completamente o céu.

Outro exemplo, vou no trânsito e alguém, para entrar à frente de mim, quase que bate no meu carro... Fico enervado com aquela situação e a minha tranquilidade vai embora.

Parece-nos que foram as situações externas que nos tiraram a tranquilidade, eu digo para comigo: aquele condutor roubou a minha tranquilidade com o seu ato, mas não foi ele que me roubou a tranquilidade; eu que a joguei fora com a permissão dada ao crescimento das emoções negativas e alimentação destas dentro de mim. Nossos irmãos acima citados mostraram-nos na prática que a tranquilidade pode ser mantida em situações de muita adversidade.

Então, devemos buscar a tranquilidade ou lidar com a intranquilidade?

O que nos é possível é lidar com a intranquilidade, porque esta é que é latente e existente em nós. A tranquilidade é um estado de espírito natural, emergente da ausência da intranquilidade. Quando esta última aparece, a serenidade desaparece.

Posto desta forma e pensando que as pessoas buscam a tranquilidade, mostra-se que lidamos com uma pescada de rabo na boca.

A busca pela tranquilidade é a intranquilidade em si, ou seja, ninguém busca aquilo que já tem, mas, quando buscamos a tranquilidade, esse desejo deixa-nos extremamente intranquilos, dizemos para nós próprios: “gostaria tanto de ter alguma tranquilidade” e causamos a ansiedade em nós.

Então qual será a solução?

Como o Mestre nos indicou: Vigiai e Orai. O vigiai ultrapassa o estado de alerta quando vamos cometer um erro, mas este próprio ato nos ajuda a nos conhecermos e compreendermos o que se passa conosco.

Ao estarmos atentos ao que nos tira a paz, nós vamos conhecer estes mecanismos mentais de reação negativa que nos encaminham a uma vida intranquila. Quando mais atenção e dedicação tivermos com estas más emoções, em vez de fugirmos delas, melhor é irmos penetrar e conhecê-las intimamente, que é o mesmo que dizer: conhecer nossa parte obscura de forma profunda.

Este conhecimento só por si fará estas emoções se tornarem mais fracas ao percebermos o mal que nos fazem, chegando ao ponto de um dia não nos incomodarem, ajudando-nos a manter nosso estado natural ou a nossa pureza de coração.

Chegará o dia em que verei nascer em mim a irritação pelo outro condutor fazer tal asneira ou meu filho ter um problema, dizendo para comigo próprio “conheço profundamente este caminho, e não o quero tomar” e a irritação não terá abrigo em meu ser e minha intranquilidade não irá florescer, mantendo assim meu estado natural de serenidade e paz.

Muita tranquilidade para vocês.
 

                 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita