Palestrantes ou comerciantes?
Um Centro Espírita deve ser um amplo espaço cultural,
onde se estuda, pratica e divulga a Doutrina dos
Espíritos. Numa perspectiva de fraternidade, essa
atividade deve ter como objetivo o auxílio mútuo
desinteressado, procurando vivenciar a caridade dos
sentimentos fraternos, a caridade do estudo, da prática
espírita, e dos bens materiais junto dos necessitados.
Felizmente em Portugal, atualmente existem mais de 100
centros espíritas, num movimento muito dinâmico de
crescimento, não só de espaços físicos, mas também de
crescimento interior e doutrinário.
Desde sempre, Portugal contou com alguns conferencistas
espíritas brasileiros que fizeram a diferença (Divaldo
Franco, Raul Teixeira, Heloísa Pires etc.) e que muito
contribuíram para o crescimento do Espiritismo em
Portugal, bem como para a sua credibilidade pública.
O movimento espírita em Portugal, amarfanhado pelo
regime salazarista, começou a sair das cinzas da
opressão ditatorial após o 25 de Abril de 1974.
Divaldo Franco, Raul Teixeira e mais um ou outro
conferencista brasileiro de qualidade começaram a
visitar Portugal, em missão de divulgação e com
objetivos doutrinários.
O Portugal espírita começava a dar cartas, e os outrora
jovens começaram a aparecer.
Para além de múltiplos centros espíritas que iam
desabrochando, palestrantes espíritas portugueses iam
aparecendo, havendo, inclusive, intercâmbio de
palestrantes entre centros espíritas, o que ainda hoje
acontece.
Portugal espírita aparentemente foi amadurecendo e,
hoje, aparentemente mais maduro, começa a acontecer um
fenômeno inquietante.
Alguns espíritas brasileiros encontraram em Portugal um
verdadeiro filão de ouro, fazendo lembrar a febre do
ouro nas Américas.
Palestrantes brasileiros aparecem quase em doses
industriais, ora em passeio, ora com objetivos de ordem
pessoal, ora ainda com outros objetivos difusos, mas
sempre com algo em comum: vêm a Portugal e regressam com
muito dinheiro ao Brasil, vendendo livros de qualidade
duvidosa e/ou muito duvidosa, entre outras vendas,
sempre lucrativas.
A justificação é sempre a mesma: é para ajudar a nossa
obra social!!!
Palestrantes brasileiros vêm a Portugal 2 e 3 vezes por
ano (!!!), outros tentam projetar os filhos, como se
falar de Espiritismo fosse um estatuto passado de pais
para filhos.
O comércio de todo o tipo de artefatos (livros, quadros,
CD’s etc.) parece ter tomado o lugar da simplicidade do
Espiritismo, de uma conversa amiga, de um debate
doutrinário sereno, sem qualquer objetivo pessoal de
qualquer tipo, conforme nos ensina Allan Kardec na
codificação espírita.
Supostamente vêm divulgar o Espiritismo em Portugal,
como se Portugal não tivesse palestrantes mais que
preparados para tal desiderato.
Outros atrevem-se mesmo em público, como aconteceu numa
TV portuguesa, a dizerem que vêm espiritizar os
portugueses.
Basta que o palestrante tenha um “Dr.” antes do nome, ou
seja médico, para ter as portas abertas dos centros
espíritas portugueses que, sem espírito crítico nenhum,
aceitam qualquer palestrante, sem cogitar da sua moral,
qualidade doutrinária, e se é uma mais-valia ou não.
Outros vêm oferecer uma pomadinha com nomes do médium
Francisco Cândido Xavier ou do Vovô Pedro, prática esta
que nada tem a ver com o Espiritismo na sua essência,
além de se usurpar o nome do médium mineiro que tantos
exemplos de humildade deixou à Humanidade.
O slogan parece ter virado moda: “É brasileiro? Então
é bom…”, quando a realidade mostra o contrário.
O comércio de todo o tipo de artefatos (livros, quadros,
CD’s etc.) parece ter tomado o lugar da simplicidade do
Espiritismo, de uma conversa amiga, de um debate
doutrinário sereno, sem qualquer objetivo pessoal de
qualquer tipo, conforme nos ensina Allan Kardec na
codificação espírita.
É claro que tudo isto acontece por invigilância e boa
vontade exagerada, sem o crivo da razão, de muitos
dirigentes espíritas portugueses, que ainda não se
aperceberam de que uma palestra espírita é de suma
importância, e que devem ser os mesmos dirigentes a
organizar a sua associação espírita.
Se o intercâmbio de palestrantes, esporádico, escolhendo
a dedo, pessoas de boa índole e que tragam uma
mais-valia é desejável e saudável, já o tentar a todo o
custo arranjar um palestrante que nos livre desse
“trabalho” semanal, a fim de ficarmos mais livres, é um
mau serviço que estamos a prestar à Doutrina dos
Espíritos.
Um assunto para meditar, sem qualquer tipo de xenofobia,
pois, como português, sinto e amo o povo brasileiro
tanto como o povo onde nasci, nesta reencarnação.
Temos um tesouro nas mãos (a Doutrina Espírita) e
estamos a vendê-la ao desbarato…
Assim, não!