Artigos

por Guaraci de Lima Silveira

 

Sobre o reino das cavalarias


Eu sempre me interessei pelos cavalos. Velozes, audazes, enfeitam os campos. Passei um bom tempo no verde vendo-os correr sorrindo para Deus. O cavalo é assim, algo assustador. Grande, marchador, senhoril, e que leva em seus ombros tão largos a história que faço no compasso das patas. Ah, os cavalos! Cumpridores sagazes da missão neste mundo. Ajudam, em silêncio, a vida tecer seus fios e laços, abraços e voltas.

Eis que o tempo nos conta sobre eles. Donde vieram? Como surgiram? Sua história remonta a milhares de anos. Descendentes de uma linha evolutiva com cerca de sessenta milhões de anos, numa linhagem que parece ter-se iniciado com o Hyracohterium, um animal com cerca de 40 cm de altura. Os antecessores do cavalo são originários do norte da América, mas extinguiram-se aí por volta do Pleistoceno, cuja palavra significa: bastante novo, pois, no caso dos cavalos, tem cerca de cento e vinte mil anos. Os cavalos selvagens originais eram de constituição mais robusta do que as raças de membros esguios que existem na atualidade. Há cinquenta milhões de anos atrás, uma pequena criatura semelhante a uma lebre, possuindo quatro dedos nas patas dianteiras e três em cada pata traseira, corria através de densas e úmidas vegetações rasteiras, alimentando-se de suculentas plantas e pastagens. Pelo fato de poder fugir e esconder-se de seus destruidores, o pequeno mamífero conseguiu prosperar. Esse animal era o Eohippus, o antecessor do cavalo moderno. Esta é a história síntese que encontramos, mas o que eles realizaram e realizam é digno de elogios e de um parar para refletir.

Estamos evoluindo faz bilhões de anos. E nossas experiências acumuladas nos remontam aos idos e aos estágios antigos. Quando vemos um cavalo quase que nos sentimos assim, altaneiros e poderosos e prontos para prosseguir viagem. Os cavalos fazem seus trajetos pelas estradas daqui e nós fazemos nossos trajetos aqui e em planos dimensionais que vão mais além. Mas ambos estamos a caminho. O cavalo leva em seu dorso a proposta que lhe foi dada. Levamos conosco as propostas que nos dão e também a que queremos, necessitamos, desejamos. Enquanto o cavalo cumpre rigorosamente as Leis Divinas, nós interferimos nelas, tentando colocar um artigo, um parágrafo, um isso ou aquilo e quase sempre nos perdemos. Mas faz parte do aprendizado. Isso quando erramos pela primeira vez. E devemos errar uma só vez em qualquer tentativa. Errar muito significa intolerância ao aprendizado.

Fico pensando nos cavalos daqueles reinos distantes. Aqueles que transportavam príncipes e princesas, reis, rainhas.... Será que sabiam o tamanho do fardo? Olha, até acredito que sim, pelas pompas que seguiam àqueles cortejos. Cavalos já começam a utilizar de certa inteligência. Mais alguns milhões de anos e serão tão evoluídos a ponto de realizarem o pensamento constante. Grande feito!

E nós? Onde estaremos daqui a milhões de anos? Penso assim porque milhões de anos em planetas como a Terra nada significam. Quem for exilado poderá ficar milhões de anos em outro planeta tentando ajustar-se perante as Leis Divinas, errando ou não continuadamente. A beleza, a estrutura, a fidelidade e a altivez dos cavalos me fazem refletir muito sobre minhas posturas, meus comportamentos. Aceito docilmente uma tarefa e a levo a termo como fazem os cavalos esguios, ou ainda empaco, feito selvagem necessitando doma?

Jesus se utilizou de um deles quando entrou solene na Palestina. Tinha que ser num cavalo pequeno, um jumento. Sua origem está ligada à Abissínia, onde era conhecido como onagro ou burro selvagem. Jesus, o sublime transformador de consciências, nos mostrou ali que somente com Ele poderemos sair das selvagerias do princípio para as grandes tarefas crísticas do futuro. Poderosa lição que nos indica caminhos além, após as experiências iniciais do Projeto Divino em evolução que somos.

O tropel dos cavalos dá ritmo à cadência do ir e fazer, e fazer para sentir-se pleno. Subindo em um deles sentimo-nos seus senhores. Descendo, sentimo-nos seus companheiros afagando-lhes a crista, banhando seu corpo, apreendendo com eles a necessária fraternidade, respeito e gratidão. Ah! esses cavalos, como nos ensinam!

Cavalos necessitam caminhos e pastos, domadores e amigos. E do que necessitamos? Já fomos carentes de muitas iguarias que aqueceram nossos dias enquanto a consciência dormia solene, qual sol prestes a acordar no amanhecer, na linguagem do cancioneiro romântico. Somos mais que os cavalos, somos Espíritos com totais condições de despertar para os caminhos e colheitas que estão lá, nalgum lugar nos aguardando. Mas, como os cavalos, necessitamos da força que impulsiona e que vem de dentro. Neles, a força muscular e em nós a força espiritual na dimensão que nos faça acordar a consciência para ver com olhos de ver e ouvir com ouvidos de ouvir. Já fomos advertidos sobre isto. Lá, ao fundo, os cavalos brincam de correr e vencer, sagazes que são. Aqui eu reflito como caminhar altaneiro em busca do que é meu, posto por Deus e que me aguarda. Eis a nossa proposta.


 

                 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita