Sobre o reino das
cavalarias
Eu sempre me interessei pelos cavalos. Velozes, audazes,
enfeitam os campos. Passei um bom tempo no verde
vendo-os correr sorrindo para Deus. O cavalo é assim,
algo assustador. Grande, marchador, senhoril, e que leva
em seus ombros tão largos a história que faço no
compasso das patas. Ah, os cavalos! Cumpridores sagazes
da missão neste mundo. Ajudam, em silêncio, a vida tecer
seus fios e laços, abraços e voltas.
Eis que o tempo nos conta sobre eles. Donde vieram? Como
surgiram? Sua história remonta a milhares de anos. Descendentes
de uma linha evolutiva com cerca de sessenta milhões de
anos, numa linhagem que parece ter-se iniciado com o Hyracohterium,
um animal com cerca de 40 cm de altura. Os antecessores
do cavalo são originários do norte da América, mas
extinguiram-se aí por volta do Pleistoceno,
cuja palavra significa: bastante novo, pois, no caso dos
cavalos, tem cerca de cento e vinte mil anos. Os cavalos
selvagens originais eram de constituição mais robusta do
que as raças de membros esguios que existem na
atualidade. Há cinquenta milhões de anos atrás, uma
pequena criatura semelhante a uma lebre,
possuindo quatro dedos nas patas dianteiras e três em
cada pata traseira, corria através de densas e úmidas
vegetações rasteiras, alimentando-se de suculentas
plantas e pastagens. Pelo fato de poder fugir e
esconder-se de seus destruidores, o pequeno mamífero
conseguiu prosperar. Esse animal era o Eohippus,
o antecessor do cavalo moderno. Esta é a história
síntese que encontramos, mas o que eles realizaram e
realizam é digno de elogios e de um parar para refletir.
Estamos evoluindo faz bilhões de anos. E nossas
experiências acumuladas nos remontam aos idos e aos
estágios antigos. Quando vemos um cavalo quase que nos
sentimos assim, altaneiros e poderosos e prontos para
prosseguir viagem. Os cavalos fazem seus trajetos pelas
estradas daqui e nós fazemos nossos trajetos aqui e em
planos dimensionais que vão mais além. Mas ambos estamos
a caminho. O cavalo leva em seu dorso a proposta que lhe
foi dada. Levamos conosco as propostas que nos dão e
também a que queremos, necessitamos, desejamos. Enquanto
o cavalo cumpre rigorosamente as Leis Divinas, nós
interferimos nelas, tentando colocar um artigo, um
parágrafo, um isso ou aquilo e quase sempre nos
perdemos. Mas faz parte do aprendizado. Isso quando
erramos pela primeira vez. E devemos errar uma só vez em
qualquer tentativa. Errar muito significa intolerância
ao aprendizado.
Fico pensando nos cavalos daqueles reinos distantes.
Aqueles que transportavam príncipes e princesas, reis,
rainhas.... Será que sabiam o tamanho do fardo? Olha,
até acredito que sim, pelas pompas que seguiam àqueles
cortejos. Cavalos já começam a utilizar de certa
inteligência. Mais alguns milhões de anos e serão tão
evoluídos a ponto de realizarem o pensamento constante.
Grande feito!
E nós? Onde estaremos daqui a milhões de anos? Penso
assim porque milhões de anos em planetas como a Terra
nada significam. Quem for exilado poderá ficar milhões
de anos em outro planeta tentando ajustar-se perante as
Leis Divinas, errando ou não continuadamente. A beleza,
a estrutura, a fidelidade e a altivez dos cavalos me
fazem refletir muito sobre minhas posturas, meus
comportamentos. Aceito docilmente uma tarefa e a levo a
termo como fazem os cavalos esguios, ou ainda empaco,
feito selvagem necessitando doma?
Jesus se utilizou de um deles quando entrou solene na
Palestina. Tinha que ser num cavalo pequeno, um jumento.
Sua origem está ligada à Abissínia,
onde era conhecido como onagro ou burro selvagem. Jesus,
o sublime transformador de consciências, nos mostrou ali
que somente com Ele poderemos sair das selvagerias do
princípio para as grandes tarefas crísticas do futuro.
Poderosa lição que nos indica caminhos além, após as
experiências iniciais do Projeto Divino em evolução que
somos.
O tropel dos cavalos dá ritmo à cadência do ir e fazer,
e fazer para sentir-se pleno. Subindo em um deles
sentimo-nos seus senhores. Descendo, sentimo-nos seus
companheiros afagando-lhes a crista, banhando seu corpo,
apreendendo com eles a necessária fraternidade, respeito
e gratidão. Ah! esses cavalos, como nos ensinam!
Cavalos necessitam caminhos e pastos, domadores e
amigos. E do que necessitamos? Já fomos carentes de
muitas iguarias que aqueceram nossos dias enquanto a
consciência dormia solene, qual sol prestes a acordar no
amanhecer, na linguagem do cancioneiro romântico. Somos
mais que os cavalos, somos Espíritos com totais
condições de despertar para os caminhos e colheitas que
estão lá, nalgum lugar nos aguardando. Mas, como os
cavalos, necessitamos da força que impulsiona e que vem
de dentro. Neles, a força muscular e em nós a força
espiritual na dimensão que nos faça acordar a
consciência para ver com olhos de ver e ouvir com
ouvidos de ouvir. Já fomos advertidos sobre isto. Lá, ao
fundo, os cavalos brincam de correr e vencer, sagazes
que são. Aqui eu reflito como caminhar altaneiro em
busca do que é meu, posto por Deus e que me aguarda. Eis
a nossa proposta.