Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

  

Nem todos saíam satisfeitos do Centro Espírita Luiz Gonzaga. Alguns ficavam decepcionados com recados médicos vagos como "buscaremos cooperar espiritualmente em seu favor" ou "confiemos na bênção de Jesus". Chico esclarecia, com educação: - Não fazia milagres. Sua prioridade era o livro e não a cura.

Às vezes Chico decepcionava como "doutor" e repetia sempre: - Todo médium é falível.

Vulnerável a enganos, ele tratava de tomar precauções: nunca receitava antibióticos e, diante de casos mais graves, aconselhava tratamento médico. Ninguém poderia acusá-lo do exercício ilegal da medicina.

Algumas das próprias falas clínico-espirituais ele justificava como decisões estratégicas dos "benfeitores espirituais". Os equívocos serviriam para combater sua vaidade e mostrar seus limites.

Bem ou mal, Chico Xavier atiçava a curiosidade e colocava Pedro Leopoldo no mapa. João Cândido Xavier começou a gostar daquela confusão. Com ares de empresário, sugeriu ao filho:

- Se você construir aí na porta um galinheiro e cada visitante deixar uma galinha, ficaremos ricos...

Chico sacudiu a cabeça e riu. O pai se irritou.

- Ora, Chico, os espíritos que te orientam são tão atrasados, mas tão atrasados que, em vez de escreverem Manuel, escrevem Emmanuel.

O rapaz repetiu a velha história: nunca poderia ganhar dinheiro com sua mediunidade. E ouviu o desabafo paterno:

- Eles mandam você não cobrar nada de ninguém porque não pagam o leite e não têm que comer carne. Pode ficar certo, meu filho, quando eu morrer, vou ser seu guia.

João Cândido só faltava bocejar quando o filho abria O Evangelho segundo o Espiritismo e lia a recomendação de Jesus: - "Dai de graça o que de graça recebestes".

A bênção da mediunidade parecia maldição. O pai ficava impressionado: Chico trabalhava tanto para os outros a troco de quê? A recompensa não vinha.

 

Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita