Nessa época, Chico enfrentava dificuldades sérias no
armazém de José Felizardo. O patrão tinha sofrido uma
trombose cerebral e o salário estava a cada dia mais
minguado. Chico teve que recorrer a um bico na
Inspetoria Regional do Serviço de Fomento da Produção
Animal, na Fazenda Modelo. Nas horas vagas, trabalhava
de graça para o doente e fazia companhia a ele.
Em 1935, Felizardo não teve dinheiro para pagar os impostos do
segundo semestre, o armazém faliu e o ex-caixeiro entrou para o
quadro de funcionários da Inspetoria como
escrevente-datilógrafo. Em vez de servir cachaça, ele escreveria
relatórios sobre os bois, cavalos e jumentos puro-sangue criados
na fazenda do governo e emprestados, para reprodução, a
fazendeiros cadastrados no Ministério da Agricultura. Em pouco
tempo, seria um especialista em gado zebu.
No escritório, ele encontrou outro "guia", este de carne e osso,
disposto a domar com boas chibatadas seus instintos de "besta
espírita". O administrador da fazenda, o engenheiro agrônomo
Rômulo Joviano, mantinha o rapaz no cabresto. Espírita de
carteirinha, ele não só acompanhava de perto os relatórios do
empregado como também supervisionava seus "textos do além" e
acompanhava as sessões do Centro Luiz Gonzaga, do qual se
tornaria presidente. Só era distraído mesmo para promoções,
aumentos e folgas.
Chico já estava às voltas com memorandos bovinos quando chegou
às livrarias a segunda edição do Parnaso de Além-Túmulo,
em 1935. O volume, quase três vezes maior do que o da primeira
edição, era festejado no prefácio pelo vice-presidente da
Federação Espírita Brasileira, Manuel Quintão. Responsável pela
primeira versão do livro, o filólogo espírita festejava as novas
aquisições (Olavo Bilac, por exemplo) e transformava em
estandarte o texto escrito por Humberto de Campos (espírito).
No artigo, intitulado "De Pé, os Mortos", o escritor reafirmava
a autenticidade dos poemas ditados pelos espíritos ao matuto de
Pedro Leopoldo. Quintão estava entusiasmado: O crítico João
Ribeiro disse que o médium não traiu nenhum dos poetas. Ora,
esta concisa sentença de J. Ribeiro vale por tudo!
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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