Onde está a diferença?
Há dias, deparei-me com a notícia televisiva de que na
Rússia davam-se conselhos à população de como agir no
caso da terceira Guerra Mundial. Os Estados Unidos e
alguns aliados bombardearam “alvos estratégicos” na
Síria alguns dias antes, não sei se terá sido por isso
ou outra situação qualquer, tal como a Coreia do Norte,
a despontar os conselhos transmitidos pela televisão.
Recordo-me das nobres palavras de Jesus, em sua
misericórdia, nos seus instantes finais a pedir a Deus:
“perdoa-lhes Pai que não sabem o que fazem”.
Dois mil anos passaram, e continuamos a destruir o
planeta maravilhoso onde nos é permitido reencarnar,
mantemos o afastamento pelas diferenças dos outros e
agredimos quem achamos que temos que o fazer. Por que
será que não conseguimos Amar?
Há milênios que criamos as Religiões/Igrejas e elas
próprias têm feito guerras a outras religiões, porque
na “nossa” está o movimento certo que nos liberta das
penas terrestres, levando-nos a um paraíso, mas para tal
tenho que maltratar meu irmão. O quanto nos é difícil
ver o embuste que existe nisto porque a nossa mente não
nos permite cair em falta de autoconfiança.
A religião/igreja deveria ser a primeira a ensinar que
só temos um Deus, como tal, somos todos irmãos, mas o
que acontece é que olhamos para os outros e dizemos:
eles estão errados, são burros. Isto acontece porque se
os outros estiverem certos nós estaremos errados e não o
podemos permitir.
Dei como exemplo o das religiões, um dos mais claros que
existe, mas poderia falar dos países, dos bairros, das
empresas, da raça, do poder econômico, da profissão, de
quase tudo no mundo, uns de uma forma menos intensa e
outros de forma mais visível. Tudo isto nos cria
separação do próximo.
Por que não conseguimos fugir desta forma de
funcionamento humano divisório?
Na verdade, isto é natural na humanidade, não o deveria
ser, mas a forma como vivemos e, principalmente, a forma
como a máquina funciona leva-nos a este caminho.
O Ego é o ser que criamos através das imagens
sugestivas, onde incluímos a parte biológica ou corpo.
Ao princípio da reencarnação, na infância tenra, somos
incentivados por nossos pais através das expressões “é o
Bruno”, “é o bebê” que nos leva a perceber que somos
seres isolados diferentes das outras pessoas.
Ao crescermos, percebemos que temos que ter uma vida de
acumulação, seja de forma de estar ou de bens materiais,
para que nos possamos enquadrar na sociedade e sermos
individualidades ou Egos estabilizados e funcionais para
a sociedade.
Isto parece-nos inevitável e impossível de ser doutra
forma, de certa forma é correto, mas será que não
poderia ser de uma outra maneira? Na verdade o eu e o
outro, no conceito que o conhecemos, só acontece quando
o pensamento se dá. Este cria a separação através da
ideia. Como a nossa forma de viver acontece em
dualidade, então acontecem as diferenças nos seres
dentro de nossa mente, na realidade elas não existem
fora do estado mental.
Nós reencarnamos milhares de vezes, pelo menos é esse o
princípio da reencarnação, e cada vez que nascemos para
a carne vimos em famílias diferentes, em diversos pontos
do Globo, tornamo-nos seres completamente diferentes,
incluindo nossas crenças e achismos. Se eu nascer em uma
família muçulmana, em um país muçulmano, recebendo uma
educação muçulmana, qual será a probabilidade de ser
Cristão?
Quando me refiro ao “Eu” não me refiro ao corpo que nos
individualiza, mas à ideia que criamos dentro de nós,
repleta de adjetivos constantes e alicerçados na
experiência do passado ou na visão da imagem que
construímos de nós, que não deixa de pertencer ao
passado pelas nossas vivências e conhecimentos.
Alguém perturbado é agressivo comigo, nosso irmão não o
fez por ser comigo, se fosse outra pessoa na mesma
situação teria agido de igual forma; ele projeta um
estado mental. Ele está em sofrimento e tensão emocional,
precisava que tivesse paciência com ele. Se o tivesse
feito a outra pessoa não me faria diferença, mas foi a
mim e eu não posso permitir porque “Eu” mereço respeito.
Se não houvesse o conceito do “Eu” que minha cabeça
criou e não permite que seja abalado, levaria a peito ou
simplesmente veria alguém transtornado, um pobre coitado
que a vida lhe corre mal, como vejo quando é com os
outros?
A diferença do racismo está na cor da pele ou na
ideologia da diferença de um ser, porque a pele é de tom
diferente? Pode um cego ser racista sem que lhe
explicassem a diferença da cor da pele ou aceitaria ele
a outra pessoa como igual porque o conceito de igualdade
não inclui as cores perceptíveis da visão?
“… E, se o
teu olho te escandalizar, arranca-o, e atira-o para
longe de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho.”
(Mateus, 18:9.)
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