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por Fábio Renan Durand

  

Deus mostra que cuida de todos nós


Desde o ano de 2010 quando descobri um câncer agressivo no pescoço venho fazendo várias cirurgias e tratamentos, como quimioterapia e radioterapia. Esta jornada vem sendo de muitas dores, anseios e sofrimento, porém também tem sido um tempo de aprendizado, desenvolvimento do autoconhecimento, paciência e humildade. Eu sinto um amparo muito forte da espiritualidade, mesmo que em certos momentos eu não consiga alcançar um estado de harmonia interior para sentir melhor esse apoio espiritual. 

Há dois meses eu realizei a nona cirurgia para retirada de um nódulo do pescoço e estava em recuperação em casa. A minha esposa havia levado nossos filhos para brincarem e se distraírem no playground. Em função da preparação para a cirurgia e o período de recuperação, fazia umas duas semanas que eu não tomava a minha bebida predileta que é o tereré(*). O tereré é uma espécie de mate com água gelada de origem paraguaia, pela qual me apaixonei em função dos vinte anos que morei em Mato Grosso do Sul, que faz fronteira com o Paraguai. Enfim, eu estava sozinho e um pouco triste, pois é uma jornada dolorida e muitas vezes fico desanimado; então pensei em tomar um tereré para me animar um pouco. Quando estava preparando a bebida, percebi que não havia limão que utilizo para colocar na água, mesmo assim, um pouco decepcionado, preparei a água com gelo e comecei a tomar o tereré até com um sentimento de tristeza. Apesar dessa situação, não esbravejei ou resmunguei, mas às vezes quando estamos passando por situações difíceis o fato de ocorrerem pequenas frustações nos deixa ainda mais desanimados.

Depois de uns dois minutos, escutei duas batidas fracas na porta do meu apartamento e levantei-me com cuidado, pois ainda estava com os pontos da cirurgia, e abri a porta. Para minha surpresa, estava na porta o filho de minha vizinha do mesmo andar do prédio, de 3 anos de idade. Ele olhou para mim e disse: “Eu vim trazer este limão para você”, e de repente aparece a mãe dele atrás. A mãe dele veio pedir desculpas, pois disse que o filho estava assistindo a um programa na TV quando se levantou, foi até a cozinha, pegou o limão na geladeira, abriu a porta do apartamento e saiu. Como ela sabe que eu estava num período pós-operatório não queria que o filho dela me incomodasse. Eu me agachei, peguei o limão, dei um pequeno abraço na criança e lhe agradeci pelo gesto.

Quando fechei a porta, fiz o tereré com limão e com as lágrimas escorrendo pelos meus olhos e pensando na bondade de Deus. Nas minhas reflexões eu pensei: Deus e a espiritualidade não estão à nossa disposição para nos fazerem favores, mas tenho certeza de que diariamente estão ao nosso lado fazendo milagres enormes em nossas vidas. Mas como não podemos ver esses grandes milagres, às vezes providenciam pequenas demonstrações de cuidado para nos tranquilizar e nos mostrar que estão conosco.

A partir daquele dia, diante das dificuldades, recordo-me de que a espiritualidade providenciou um limão quando eu precisava, então devo confiar mais e continuar na abençoada luta diária que Deus nos permite para avançarmos na senda da evolução.

 

(*) Tereré ou tererê é uma bebida típica sul-americana feita com a infusão da erva-mate em água fria. De origem guarani, pode ser consumido com limão, hortelã, entre outros.

 

Fábio Renan Durand é professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, na cidade de Cornélio Procópio (PR).

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita