Deus
mostra que cuida de
todos nós
Desde o ano de 2010
quando descobri um
câncer agressivo no
pescoço venho fazendo
várias cirurgias e
tratamentos, como
quimioterapia e
radioterapia. Esta
jornada vem sendo de
muitas dores, anseios e
sofrimento, porém também
tem sido um tempo de
aprendizado,
desenvolvimento do
autoconhecimento,
paciência e humildade.
Eu sinto um amparo muito
forte da espiritualidade,
mesmo que em certos
momentos eu não consiga
alcançar um estado de
harmonia interior para
sentir melhor esse apoio
espiritual.
Há dois meses eu
realizei a nona cirurgia
para retirada de um
nódulo do pescoço e
estava em recuperação em
casa. A minha esposa
havia levado nossos
filhos para brincarem e
se distraírem no
playground. Em função da
preparação para a
cirurgia e o período de
recuperação, fazia umas
duas semanas que eu não
tomava a minha bebida
predileta que é o tereré(*).
O tereré é uma espécie
de mate com água gelada
de origem paraguaia,
pela qual me apaixonei
em função dos vinte anos
que morei em Mato Grosso
do Sul, que faz
fronteira com o
Paraguai. Enfim, eu
estava sozinho e um
pouco triste, pois é uma
jornada dolorida e
muitas vezes fico
desanimado; então pensei
em tomar um tereré para
me animar um pouco.
Quando estava preparando
a bebida, percebi que
não havia limão que
utilizo para colocar na
água, mesmo assim, um
pouco decepcionado,
preparei a água com gelo
e comecei a tomar o
tereré até com um
sentimento de tristeza.
Apesar dessa situação,
não esbravejei ou
resmunguei, mas às vezes
quando estamos passando
por situações difíceis o
fato de ocorrerem
pequenas frustações nos
deixa ainda mais
desanimados.
Depois de uns dois
minutos, escutei duas
batidas fracas na porta
do meu apartamento e
levantei-me com cuidado,
pois ainda estava com os
pontos da cirurgia, e
abri a porta. Para minha
surpresa, estava na
porta o filho de minha
vizinha do mesmo andar
do prédio, de 3 anos de
idade. Ele olhou para
mim e disse: “Eu vim
trazer este limão para
você”, e de repente
aparece a mãe dele
atrás. A mãe dele veio
pedir desculpas, pois
disse que o filho estava
assistindo a um programa
na TV quando se
levantou, foi até a
cozinha, pegou o limão
na geladeira, abriu a
porta do apartamento e
saiu. Como ela sabe que
eu estava num período
pós-operatório não
queria que o filho dela
me incomodasse. Eu me
agachei, peguei o limão,
dei um pequeno abraço na
criança e lhe agradeci
pelo gesto.
Quando fechei a porta,
fiz o tereré com limão e
com as lágrimas
escorrendo pelos meus
olhos e pensando na
bondade de Deus. Nas
minhas reflexões eu
pensei: Deus e a
espiritualidade não
estão à nossa disposição
para nos fazerem
favores, mas tenho
certeza de que
diariamente estão ao
nosso lado fazendo
milagres enormes em
nossas vidas. Mas como
não podemos ver esses
grandes milagres, às
vezes providenciam
pequenas demonstrações
de cuidado para nos
tranquilizar e nos
mostrar que estão
conosco.
A partir daquele dia,
diante das dificuldades,
recordo-me de que a
espiritualidade
providenciou um limão
quando eu precisava,
então devo confiar mais
e continuar na abençoada
luta diária que Deus nos
permite para avançarmos
na senda da evolução.
(*) Tereré
ou tererê é uma bebida
típica sul-americana
feita com a infusão da
erva-mate em água fria.
De origem guarani, pode
ser consumido com limão,
hortelã, entre outros.
Fábio Renan Durand é
professor na
Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, na
cidade de Cornélio
Procópio (PR). |