A sede espiritual do sexo
O pensamento de que a sede do sexo encontra-se no
Espírito foi apresentado por André Luiz em pelo menos
duas obras. Em No mundo maior, cap. 11, André
coloca que a sede do sexo não se acha no corpo
grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização,
e voltou ao tema no livro Evolução em dois mundos,
parte I, cap. XVIII, valendo-se das seguintes palavras: a
sede real do sexo não se acha, dessa maneira, no veículo
físico, mas sim na entidade espiritual, em sua estrutura
complexa.
Proponho uma melhor avaliação do vocábulo sexo neste
contexto.
Os dicionários apresentam para o vocábulo sexo três
definições distintas:
1- Reunião das características distintivas que,
presentes nos animais, nas plantas e nos seres humanos,
diferenciam o sistema reprodutor; sexo feminino e sexo
masculino.
2- Ação ou prática sexual; relação amorosa.
3- Os órgãos sexuais; genitália.
Não nos parece que essas definições (sexo como
diferenciação fenotípica, relação sexual e órgãos
sexuais) possam se identificar com a conceituação
proposta pelo benfeitor. Na Revista Espírita,
janeiro de 1866, Kardec bem definiu que os Espíritos
não têm sexo, pois os sexos só existem no organismo; os
Espíritos não se reproduzindo uns pelos outros, os sexos
seriam inúteis no mundo espiritual. No Livro dos
Espíritos, igualmente, nos itens 200 a 202, afirma
que os Espíritos não têm sexo, pelo menos como nós o
entendemos, pois que os sexos dependem da organização.
Todavia, ao colocar a ideia de sexo como algo que nós
entendemos, Kardec, apresenta a possibilidade para o uso
da palavra sexo com outra conotação e talvez
tenha sido o que fez André Luiz.
Voltando ao livro No mundo maior, cap. 11,
encontramos profundas observações de André em torno do
conceito de impulso criador e talvez esse
conceito se reporte a sua definição singular de sexo,
não proposta pelos linguistas encarnados. Segundo o
autor, a individualidade espiritual possui em sua
estrutura íntima uma força especial, investida de
potentes faculdades criadoras – o impulso criador.
Movida por essa força a coletividade humana avança,
vagarosamente para o supremo alvo do divino amor.
Desejo, posse, simpatia, carinho, criatividade,
devotamento, renúncia e sacrifício constituem aspectos
dessa jornada sublimadora, onde a alma vai aprendendo,
paulatinamente, a se valer do impulso criador para
conquistas mais nobres. Freud identificou esse impulso
na libido – a energia erótica. Adler considerou-o no
desejo de sucesso (não necessariamente pessoal, mas
também coletivo) e Jung viu nele a possibilidade de
aspiração superior. Segundo André, os grandes estudiosos
da personalidade viram aspectos particulares do impulso
criador, que, em verdade, constitui-se no somatório de
tudo isso.
O tema é complexo e acredito que novas reflexões possam
auxiliar-nos a melhor compreendê-lo. De qualquer forma,
nós, Espíritos já dotados da evolução conscientes,
estamos adequadamente instrumentalizados para nos
valermos desse potente impulso em atividades que
transcendem a vida comum, sem, obviamente,
desconsiderarmos as necessidades próprias de nossa
condição evolutiva e da corporeidade.
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