Ética ou religião: qual você prefere?
“Através da religião, o homem aprofunda reflexões e
mergulha no seu inconsciente, fazendo que ressumem
angústias e incertezas, animosidades e tormentos que
podem ser enfrentados à luz da proposta da fé, e que são
lentamente diluídos, portanto, eliminados, a serviço do
bem-estar pessoal, que se instala lentamente, tornando-o
cada vez mais livre e, portanto, mais feliz.” – Joanna
de Ângelis.
A edição de julho
de 2015 da revista Seleções READER´S DIGEST, páginas 72
a 79, traz uma reportagem com dalai-lama Tenzin Gyatso,
de 80 anos de idade, sendo o 14º dalai-lama. Nascido no
dia 6 de julho de 1935 no Tibete, foi reconhecido aos
dois anos de idade como sendo a reencarnação do 13º
dalai-lama. Entre as suas declarações, vamos destacar a
seguinte: É
claro que o conhecimento e a prática da religião são
úteis, mas hoje já não bastam, como mostram, com clareza
cada vez maior, exemplos no mundo inteiro. Isso é
verdade em todas as religiões, inclusive no cristianismo
e no budismo. Guerras foram travadas em nome da religião,
“guerras santas”. Muitas vezes as religiões foram e
ainda são intolerantes.
Por isso digo que, no século 21, precisamos de uma nova
ética que transcenda todas as religiões. Muito mais
importante do que a religião é nossa espiritualidade
humana elementar. Ela é uma predisposição para o amor, a
bondade e o afeto que todos temos dentro de nós, seja
qual for a nossa religião. Pode-se viver sem religião,
mas não se pode viver sem valores íntimos, sem ética.
Uma pergunta que o cristão raramente se faz é sobre qual
a religião que Jesus professava quando encarnou entre
nós para a execução da maior tarefa de amor de que se
tem notícia sobre a face da Terra. Ele se colocava
dizendo que estava a serviço de Deus sem mencionar
religião alguma. “Eu e o Pai somos um”, o que levou a
imaginação e interesses humanos a confundi-Lo com o
próprio Deus, tendo sido decretado por homens falíveis a
divindade Dele.
Em seguida, uma outra pergunta que deve se seguir a
essa: qual a religião que Ele nos deixou? Deu alguma
denominação, ou “cristianismo” foi uma criação do homem?
Podemos afirmar com toda a certeza, porém, que nos legou
um código de ética jamais visto com tal clareza até
então, principalmente se tomarmos como referência o Sermão
da Montanha.
Portanto, o dalai-lama está correto. Com ética no
sentido de valores morais, o Espírito, dependendo da sua
evolução, já reencarna. A religião, via de regra, é uma
opção que vem a posteriori. Influência dos pais; livre
escolha da própria pessoa; conveniências da situação em
que o indivíduo está vivendo; influência de amigos; de
paixões etc.
Através da religião a ética se manifesta. Ou será que
não, mas sim através da religiosidade que são coisas
absolutamente diferentes? Fico com essa última colocação
devido ao ensinamento de Joanna de Ângelis quando ela
nos diz: A religiosidade é uma conquista que
ultrapassa a adoção de uma religião; uma realização
interior lúcida, que independe do formalismo, mas que
apenas se consegue através da coragem de o homem emergir
da rotina e encontrar a própria felicidade. E
encontra essa felicidade porque a consciência pacificada
pelo dever cumprido pode ser alcançada sem religião
nenhuma, apenas pelos valores éticos que cada um traz
dentro de si, incorporados que foram por conquistas
milenares ao longo do caminho evolutivo.
Quantos não ostentam uma religião e são a razão do
sofrimento dos seus semelhantes? Que “batem no peito” e
torturam animais e destroem a natureza através da
poluição da atmosfera, de rios, de oceanos, de florestas
que são dizimadas em busca da corrida tresloucada pelo
dinheiro do mundo que permanecerá no mundo, sem que um
único mísero centavo adentre o caixão onde o corpo sem
vida repousa em direção ao aniquilamento total! Quantos
não se apresentam como participantes de alguma religião
e se transformam em instrumentos da corrupção ou se
sujeitam a ela desesperados pelo lucro imediato com que
os homens lhes acenam, amordaçando a própria consciência
como se pudessem sufocá-la para sempre? Como se a morte
nunca fosse convocá-los para o local da Justiça perfeita
e incorrupta, onde mergulharão no inferno interior pela
ausência dos valores éticos que resolveram ignorar ou
nunca tenham tido interesse em adquiri-los, na tentativa
vã de subornar a própria consciência?
Acertadamente afirma o dalai-lama que pode-se viver
sem religião, mas não se pode viver sem valores íntimos,
sem ética.
Antes de se tornar o Codificador da Doutrina Espírita,
Allan Kardec era possuidor da ética suficiente que o fez
escolhido para a missão de trazer aos homens uma
filosofia de implicação moral que nos permite adquirir
os valores éticos necessários a todos aqueles que se
pronunciam como espíritas cristãos. Resta apenas a cada
um indagar da própria consciência se temos aproveitado
tal oportunidade, porque muito se pedirá a quem muito
tiver sido dado...
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