Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

Frustração: lição peculiar à infância


Devemos criar o mais propício ambiente para que a criança se eduque junto a nós, da maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino interior.
 Rudolf Steiner


A frustração é uma resposta emocional que se manifesta quando certas expectativas ou desejos não podem ser atendidos – uma criança de quatros anos quer, em vez do ovo, chocolate na hora do almoço; não é aniversário e ainda assim o meninozinho quer ganhar um jogo novo; teima a menina para assistir a um desenho além do horário pela mãe estipulado etc.

Associada à frustração, quando um desejo não é cumprido, a criança experimenta uma série de estados emocionais difíceis, mas importantes à formação de sua personalidade: decepção, angústia, raiva, tristeza, ansiedade… E, muitas vezes chorando, corpo tenso, voz irritada, dirá à mãe: “por que não posso fazer isso agora?”

Tolerar a frustração significa aprender pouco a pouco a ser capaz de enfrentar os problemas e as restrições que deparamos ao longo da vida. Porque há situações em que alcançamos com êxito e alegria as metas idealizadas, já em outras, simplesmente não – os ritmos dos inevitáveis solavancos a que estamos todos sujeitos!

Pais que tentam satisfazer sempre os desejos dos filhos, evitando que se sintam frustrados, não lhes favorecem o desenvolvimento pleno e, infelizmente, moldarão adolescentes com dificuldade para controlar as emoções e que, em sociedade, apresentarão, no mínimo, baixa capacidade de flexibilidade e adaptabilidade.

Quem educa? Não é à toa que o mundo (ainda) está permeado de pequenos tiranos – crianças com pouca tolerância à frustração, impulsivas, impacientes, agressivas, que se habituam a exigir coisas descabidas em casa, tumultuando por força do hábito a paz nas escolas...

Dirigidos por compromissos de trabalho ou rotinas extenuantes, muitos “pais noturnos ou de finais de semana”, para compensar a ausência junto aos filhos, evitam as fontes que causam frustração à criança, agindo com abuso de permissividade ou superproteção. Mas esses pais querem enganar a quem?

Assumir a educação dos filhos pequenos é procurar garantir, dia a dia, que eles experimentem oportunidades para bem crescer e desenvolver-se, o que pressupõe, desde cedo, no cotidiano da vida doméstica, tomar consciência a criança de que vezes inúmeras nossos desejos não podem ser atendidos, aprendendo a manejar a frustração – experiência fundamental à infância.

Notinhas

A tolerância à frustração é um estado transitório e por isso a criança necessita experimentá-la, principalmente para aprender que diante de um ’não’ é natural sentirmos decepção, raiva, tristeza... e isso passará, no entanto. Através dessas experiências repetidas na infância, na vida adulta conseguirá a pessoa enfrentar de uma maneira mais assertiva as circunstâncias de restrições ou fracassos, que exigem de cada um de nós capacidade de suportar, reflexão, prudência, criatividade.

A superproteção causa danos à criança. Uma criança que sofre superproteção, por exemplo, estará mais sujeita a experimentar o medo de enfrentar situações novas, manifestará, já na adolescência, falta de iniciativa, isolamento social/poucos amigos, timidez e uso excessivo de computador (adicção) etc.

Nos assuntos relacionados ao bullying/agressão escolar, muitos estudos associam a baixa tolerância à frustração com a agressividade que demarca a figura do agressor/bully.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita