Frustração: lição peculiar à infância
Devemos criar o mais propício ambiente para que a
criança se eduque junto a nós, da maneira como ela
precisa educar-se por meio de seu destino interior. Rudolf
Steiner
A frustração é uma resposta emocional que se manifesta
quando certas expectativas ou desejos não podem ser
atendidos – uma criança de quatros anos quer, em vez do
ovo, chocolate na hora do almoço; não é aniversário e
ainda assim o meninozinho quer ganhar um jogo novo;
teima a menina para assistir a um desenho além do
horário pela mãe estipulado etc.
Associada à frustração, quando um desejo não é cumprido,
a criança experimenta uma série de estados emocionais
difíceis, mas importantes à formação de sua
personalidade: decepção, angústia, raiva, tristeza,
ansiedade… E, muitas vezes chorando, corpo tenso, voz
irritada, dirá à mãe: “por que não posso fazer isso
agora?”
Tolerar a frustração significa aprender pouco a pouco a
ser capaz de enfrentar os problemas e as restrições que
deparamos ao longo da vida. Porque há situações em que
alcançamos com êxito e alegria as metas idealizadas, já
em outras, simplesmente não – os ritmos dos inevitáveis
solavancos a que estamos todos sujeitos!
Pais que tentam satisfazer sempre os desejos dos filhos,
evitando que se sintam frustrados, não lhes favorecem o
desenvolvimento pleno e, infelizmente, moldarão
adolescentes com dificuldade para controlar as emoções e
que, em sociedade, apresentarão, no mínimo, baixa
capacidade de flexibilidade e adaptabilidade.
Quem educa? Não é à toa que o mundo (ainda) está
permeado de pequenos tiranos – crianças com pouca
tolerância à frustração, impulsivas, impacientes,
agressivas, que se habituam a exigir coisas descabidas
em casa, tumultuando por força do hábito a paz nas
escolas...
Dirigidos por compromissos de trabalho ou rotinas
extenuantes, muitos “pais noturnos ou de finais de
semana”, para compensar a ausência junto aos filhos,
evitam as fontes que causam frustração à criança, agindo
com abuso de permissividade ou superproteção. Mas esses
pais querem enganar a quem?
Assumir a educação dos filhos pequenos é procurar
garantir, dia a dia, que eles experimentem oportunidades
para bem crescer e desenvolver-se, o que pressupõe,
desde cedo, no cotidiano da vida doméstica, tomar
consciência a criança de que vezes inúmeras nossos
desejos não podem ser atendidos, aprendendo a manejar a
frustração – experiência fundamental à infância.
Notinhas
A tolerância à frustração é um estado transitório e por
isso a criança necessita experimentá-la, principalmente
para aprender que diante de um ’não’ é natural sentirmos
decepção, raiva, tristeza... e isso passará, no entanto.
Através dessas experiências repetidas na infância, na
vida adulta conseguirá a pessoa enfrentar de uma maneira
mais assertiva as circunstâncias de restrições ou
fracassos, que exigem de cada um de nós capacidade de
suportar, reflexão, prudência, criatividade.
A superproteção causa danos à criança. Uma criança que
sofre superproteção, por exemplo, estará mais sujeita a
experimentar o medo de enfrentar situações novas,
manifestará, já na adolescência, falta de iniciativa,
isolamento social/poucos amigos, timidez e uso excessivo
de computador (adicção) etc.
Nos assuntos relacionados
ao bullying/agressão escolar, muitos estudos
associam a baixa tolerância à frustração com a
agressividade que demarca a figura do agressor/bully. |