Só a
educação salvará o Brasil
O momento é grave, não há dúvida. Materializou-se um
quadro de extrema preocupação entre os brasileiros, pois
os descalabros morais alcançam patamares inimagináveis.
As três esferas de poder instituídas para atuarem
coordenadamente visando ao bem-estar da nação não se
entendem, e mais, não obtêm sucesso em estancar a
verdadeira sangria dos recursos públicos. Estes tesouros
deveriam ser usados em prol da sociedade, contudo, são
desviados sistematicamente para os mesmos detentores do
poder e seus comparsas em todos os níveis, impedindo ou
dificultando a correta distribuição entre todos dos
benefícios oriundos dos abundantes bens produzidos pela
nação.
O povo está cansado, esgotado, assistindo a um
verdadeiro conluio entre autoridades, muitas reunidas
sob uma só bandeira: bem espoliar a imensa riqueza da
Pátria Amada, criando em consequência desigualdades
imensas entre os habitantes deste país.
Clamores ocorrem em todas as camadas sociais, em toda a
gente, pois, perplexos estão diante desta situação ímpar
geradora de sofrimentos atrozes em todos os rincões da
terra natal.
Diante de tal quadro, é natural o aparecimento no meio
espírita de dúvidas, questões, incertezas, certo
desânimo, pois os espíritas não são perfeitos, embora
possuam um farto manancial de informações e explicações
fornecidos pela luminosa Doutrina dos Espíritos, também
ficam aturdidos diante deste cenário.
Sinceramente desejosos de pôr um fim nesta conturbada
conjuntura, dar um basta em tantas iniquidades,
sensibilizados com a dor grassando praticamente em todas
as famílias, ajuízam que algo deva ser feito com
urgência para alterar esta realidade, alguns acreditando
mesmo no ingresso nos quadros políticos como forma de
alcançar este desiderato.
Entre os muitos temas explorados por Allan Kardec em sua
vasta obra, um deles foi exatamente sobre as
desigualdades sociais e, na questão 8061,
indagou: É lei da Natureza a desigualdade das
condições sociais?
“Não; é obra do homem e não de Deus.”
Depreende-se da resposta terem sido as nossas muitas
desigualdades criadas pelos próprios homens, ou seja,
por nós mesmos, como não poderiam deixar de ser, jamais
teriam origem pela Divindade, e, avançando um pouco mais
no tema, o Sábio de Lyon busca a opinião dos Espíritos
sobre a solução deste magno problema. E, na questão
subsequente, a de número 806a2, formula esta
pergunta: Algum dia essa desigualdade desaparecerá?
“Eternas somente as leis de Deus o são. Não vês que dia
a dia ela gradualmente se apaga? Desaparecerá quando o
egoísmo e o orgulho deixarem de predominar. Restará
apenas a desigualdade do merecimento. [...]”
Como se observa, a solução se dará quando o egoísmo e o
orgulho deixarem de reger as nossas relações. Não
existindo solução mágica, tampouco milagre, a natureza
jamais dá saltos.
Feita esta pequena introdução, seria agora de se indagar
qual a pretensão dos espíritas tentando participar dos
quadros políticos visando à melhora moral na cadeia de
comando político se a própria espiritualidade superior
já nos orientou: enquanto não houver primeiro o
arrefecimento, em seguida, a extinção destes dois
vícios, o egoísmo e o orgulho, as desigualdades não
desaparecerão?
Ajuizemos outras pertinentes questões:
I. Estes postulantes pretendem atuar junto aos políticos
para torná-los mais cônscios de seus deveres morais e
éticos, transformando-os em verdadeiros cristãos?
II. Mas como agirão se precisam se filiar aos partidos
existentes para lançar as suas próprias candidaturas
quando hoje, até onde se sabe, não há nenhum partido
íntegro? Eles se filiariam aos grupos de dilapidadores
da nação, para em seguida traírem aqueles que os
elegeram constituindo o Partido dos Espíritas - PE?
III. Ou pretendem formar uma bancada espírita
multipartidária para, de igual modo àquelas hoje
existentes, lutar pelos direitos do próximo?
No primeiro caso, seria muita ingenuidade acreditar que
Espíritos de baixíssimo patamar moral poderiam atender
aos argumentos espíritas para se conduzirem em curto
espaço de tempo não como lobos no meio de ovelhas, mas
como cidadãos íntegros e honrados, ou seja, cristãos.
No segundo, seria catastrófico criar um partido político
espírita, se expondo a todas as mazelas morais
predominantes como um todo no atual ambiente político,
participando de debates acalorados, onde é comum
chegar-se às vias de fato entre os contendores. Ou será
que eles iniciariam encontros para realizar o Evangelho
nos gabinetes de Brasília, ou seus equivalentes a nível
municipal ou estadual, conforme outros seguimentos
religiosos já o fazem no Congresso? Se for esta a ideia,
por qual razão não oram coletivamente em suas
instituições espíritas?
No último caso, seria de se lastimar ter um espírita
filiado a um partido acusado de corrupção por todos os
lados com a justificativa de mais à frente se conduzir
com moralidade e ética a toda a prova, mesmo entre
contumazes contraventores de toda espécie.
Em resumo, seria conhecer bem pouco sobre a natureza
humana quem pretendesse mudar a conduta de Espíritos
frontalmente opostos aos ensinos cristãos, através de
participações presenciais nos ambientes escusos e
sombrios caracterizando as assembleias legislativas e
similares.
Perguntamo-nos ainda qual seria a conduta destes
espíritas, caso eleitos, quando fossem propostas leis
para aumentarem os próprios salários dos parlamentares
acima dos níveis daqueles fixados para as massas? Quais
atitudes adotariam quando passassem a receber verbas
extraordinárias para seus gabinetes, fossem autorizados
a contratar assessores dispensáveis, recebessem auxílio
moradia sem necessidade...? Devolveriam aos cofres
públicos as imorais verbas excedentes ou doariam a
instituições voltadas ao atendimento das mazelas
sociais?
Não é impossível, mas é muito pouco provável mergulhar
na lama e dela sair ileso, sem uma mácula sequer.
Mas perguntariam então: Como fazer? Como se conduzir
diante do aparente caos instalado? Como agir?
Não vemos outro caminho a não ser o da educação, não
destes que por hora se encontram nas temporárias
cadeiras de comando dirigindo a nação em todos os
níveis, seria totalmente improdutivo, a hora deles
chegará neste ou em outro orbe. Precisamos nos preocupar
com a educação daqueles iniciando suas vidas,
recém-reencarnados, começando as suas primeiras
experiências em sociedade, estes sim poderão salvar a
nação, se receberem agora estímulos, exemplos, forem
incentivados a agir moralmente e eticamente sempre com
ações voltadas ao bem coletivo.
Sim, no fortalecimento da atividade de evangelização
infantil e das mocidades espíritas, situa-se a real
solução, são nestes dois seguimentos que os espíritas
tão desejosos em mudar o país deveriam envidar os seus
esforços, tempo e recursos.
Não menos importante, seria a conduta ética dentro das
famílias, na própria sociedade, no ambiente de trabalho
e, principalmente, dentro das instituições espíritas,
pois o que se vê hoje em dia dentro das associações
espíritas não são todas evidentemente a se conduzirem
desta maneira, é uma velada, às vezes gritante briga
pelo poder, uma busca desenfreada por cargos dentro das
entidades, para quem sabe em futuro próximo ter a foto
estampada na galeria de presidentes da respectiva
organização. E, considerando este último caso, o que
poderemos aguardar destes espíritas hoje avidamente
preocupados em obter postos nas congregações espíritas
onde mourejam, quando concretizarem seus sonhos passando
a ocupar funções políticas?
Espera-se algo mais dos discípulos do Cristo.
Referências:
1 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon
Ribeiro. 69. Ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1987.
Parte Terceira – Das Leis Morais - Capítulo IX. perg.
806.
2 ______.______.
perg. 806a.
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