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por Rogério Miguez

 

Só a educação salvará o Brasil


O momento é grave, não há dúvida. Materializou-se um quadro de extrema preocupação entre os brasileiros, pois os descalabros morais alcançam patamares inimagináveis. As três esferas de poder instituídas para atuarem coordenadamente visando ao bem-estar da nação não se entendem, e mais, não obtêm sucesso em estancar a verdadeira sangria dos recursos públicos. Estes tesouros deveriam ser usados em prol da sociedade, contudo, são desviados sistematicamente para os mesmos detentores do poder e seus comparsas em todos os níveis, impedindo ou dificultando a correta distribuição entre todos dos benefícios oriundos dos abundantes bens produzidos pela nação.

O povo está cansado, esgotado, assistindo a um verdadeiro conluio entre autoridades, muitas reunidas sob uma só bandeira: bem espoliar a imensa riqueza da Pátria Amada, criando em consequência desigualdades imensas entre os habitantes deste país.

Clamores ocorrem em todas as camadas sociais, em toda a gente, pois, perplexos estão diante desta situação ímpar geradora de sofrimentos atrozes em todos os rincões da terra natal.

Diante de tal quadro, é natural o aparecimento no meio espírita de dúvidas, questões, incertezas, certo desânimo, pois os espíritas não são perfeitos, embora possuam um farto manancial de informações e explicações fornecidos pela luminosa Doutrina dos Espíritos, também ficam aturdidos diante deste cenário.

Sinceramente desejosos de pôr um fim nesta conturbada conjuntura, dar um basta em tantas iniquidades, sensibilizados com a dor grassando praticamente em todas as famílias, ajuízam que algo deva ser feito com urgência para alterar esta realidade, alguns acreditando mesmo no ingresso nos quadros políticos como forma de alcançar este desiderato.

Entre os muitos temas explorados por Allan Kardec em sua vasta obra, um deles foi exatamente sobre as desigualdades sociais e, na questão 8061, indagou: É lei da Natureza a desigualdade das condições sociais?

“Não; é obra do homem e não de Deus.”

Depreende-se da resposta terem sido as nossas muitas desigualdades criadas pelos próprios homens, ou seja, por nós mesmos, como não poderiam deixar de ser, jamais teriam origem pela Divindade, e, avançando um pouco mais no tema, o Sábio de Lyon busca a opinião dos Espíritos sobre a solução deste magno problema. E, na questão subsequente, a de número 806a2, formula esta pergunta: Algum dia essa desigualdade desaparecerá?

“Eternas somente as leis de Deus o são. Não vês que dia a dia ela gradualmente se apaga? Desaparecerá quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar. Restará apenas a desigualdade do merecimento. [...]”

Como se observa, a solução se dará quando o egoísmo e o orgulho deixarem de reger as nossas relações. Não existindo solução mágica, tampouco milagre, a natureza jamais dá saltos.

Feita esta pequena introdução, seria agora de se indagar qual a pretensão dos espíritas tentando participar dos quadros políticos visando à melhora moral na cadeia de comando político se a própria espiritualidade superior já nos orientou: enquanto não houver primeiro o arrefecimento, em seguida, a extinção destes dois vícios, o egoísmo e o orgulho, as desigualdades não desaparecerão?

Ajuizemos outras pertinentes questões:

I. Estes postulantes pretendem atuar junto aos políticos para torná-los mais cônscios de seus deveres morais e éticos, transformando-os em verdadeiros cristãos?

II. Mas como agirão se precisam se filiar aos partidos existentes para lançar as suas próprias candidaturas quando hoje, até onde se sabe, não há nenhum partido íntegro? Eles se filiariam aos grupos de dilapidadores da nação, para em seguida traírem aqueles que os elegeram constituindo o Partido dos Espíritas - PE?

III. Ou pretendem formar uma bancada espírita multipartidária para, de igual modo àquelas hoje existentes, lutar pelos direitos do próximo?

No primeiro caso, seria muita ingenuidade acreditar que Espíritos de baixíssimo patamar moral poderiam atender aos argumentos espíritas para se conduzirem em curto espaço de tempo não como lobos no meio de ovelhas, mas como cidadãos íntegros e honrados, ou seja, cristãos.

No segundo, seria catastrófico criar um partido político espírita, se expondo a todas as mazelas morais predominantes como um todo no atual ambiente político, participando de debates acalorados, onde é comum chegar-se às vias de fato entre os contendores. Ou será que eles iniciariam encontros para realizar o Evangelho nos gabinetes de Brasília, ou seus equivalentes a nível municipal ou estadual, conforme outros seguimentos religiosos já o fazem no Congresso? Se for esta a ideia, por qual razão não oram coletivamente em suas instituições espíritas?

No último caso, seria de se lastimar ter um espírita filiado a um partido acusado de corrupção por todos os lados com a justificativa de mais à frente se conduzir com moralidade e ética a toda a prova, mesmo entre contumazes contraventores de toda espécie.

Em resumo, seria conhecer bem pouco sobre a natureza humana quem pretendesse mudar a conduta de Espíritos frontalmente opostos aos ensinos cristãos, através de participações presenciais nos ambientes escusos e sombrios caracterizando as assembleias legislativas e similares.

Perguntamo-nos ainda qual seria a conduta destes espíritas, caso eleitos, quando fossem propostas leis para aumentarem os próprios salários dos parlamentares acima dos níveis daqueles fixados para as massas? Quais atitudes adotariam quando passassem a receber verbas extraordinárias para seus gabinetes, fossem autorizados a contratar assessores dispensáveis, recebessem auxílio moradia sem necessidade...? Devolveriam aos cofres públicos as imorais verbas excedentes ou doariam a instituições voltadas ao atendimento das mazelas sociais?

Não é impossível, mas é muito pouco provável mergulhar na lama e dela sair ileso, sem uma mácula sequer.

Mas perguntariam então: Como fazer? Como se conduzir diante do aparente caos instalado? Como agir?

Não vemos outro caminho a não ser o da educação, não destes que por hora se encontram nas temporárias cadeiras de comando dirigindo a nação em todos os níveis, seria totalmente improdutivo, a hora deles chegará neste ou em outro orbe. Precisamos nos preocupar com a educação daqueles iniciando suas vidas, recém-reencarnados, começando as suas primeiras experiências em sociedade, estes sim poderão salvar a nação, se receberem agora estímulos, exemplos, forem incentivados a agir moralmente e eticamente sempre com ações voltadas ao bem coletivo.

Sim, no fortalecimento da atividade de evangelização infantil e das mocidades espíritas, situa-se a real solução, são nestes dois seguimentos que os espíritas tão desejosos em mudar o país deveriam envidar os seus esforços, tempo e recursos.

Não menos importante, seria a conduta ética dentro das famílias, na própria sociedade, no ambiente de trabalho e, principalmente, dentro das instituições espíritas, pois o que se vê hoje em dia dentro das associações espíritas não são todas evidentemente a se conduzirem desta maneira, é uma velada, às vezes gritante briga pelo poder, uma busca desenfreada por cargos dentro das entidades, para quem sabe em futuro próximo ter a foto estampada na galeria de presidentes da respectiva organização. E, considerando este último caso, o que poderemos aguardar destes espíritas hoje avidamente preocupados em obter postos nas congregações espíritas onde mourejam, quando concretizarem seus sonhos passando a ocupar funções políticas?

Espera-se algo mais dos discípulos do Cristo.

 

Referências:

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 69. Ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1987. Parte Terceira – Das Leis Morais - Capítulo IX. perg. 806.

2 ______.______. perg. 806a.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita