Jovens suicidas
Entre as mais aflitivas causas das mazelas humanas está
o suicídio, que, lamentavelmente, continua produzindo
crescente número de vítimas. De modo geral, o virtual
suicida é um indivíduo que não sabe lidar adequadamente
com as adversidades e dificuldades existenciais. Ocorre
que problemas, contrariedades e reveses permeiam as
nossas vidas em maior ou menor intensidade. Por outro
lado, é preciso entender – gostemos ou não – que eles
são fundamentais à nossa evolução. Por meio deles, aliás,
temos a oportunidade – quando usamos a energia benfazeja
do otimismo e da perseverança – de arregimentar as
poderosas forças latentes da alma, do intelecto e dos
sentimentos com vistas à autossuperação.
Apesar desses recursos potenciais, considerável
contingente de pessoas prefere a via mais “fácil”,
esperando aliviar, assim, o peso dos problemas. Com
efeito, uma reportagem recente da revista Veja descreveu
um quadro desolador nesse particular que merece
reflexão. Celebridades e pessoas comuns continuam a dar
cabo das suas vidas movidas, não raro, por razões
fúteis. Às vezes, pessoas muito bem situadas na
sociedade não conseguem vencer as crises que palmilham,
por sinal, a existência de todos nós. Outros tantos,
simplesmente vencidos pela drogadição ou álcool, tomam o
mesmo caminho aziago. Mal sabem que, do lado de lá,
continuarão a ser perturbados pelos pensamentos malsãos
substancialmente agravados pelas consequências da ação
radical.
Dados revelados pela referida reportagem indicam a
alarmante estatística de que 800.000 pessoas se suicidam
por ano no planeta (uma a cada quarenta segundos). Os
jovens têm apresentado taxas ainda mais preocupantes.
Para exemplificar, nos Estados Unidos, indivíduos na
faixa etária de 15 a 24 anos apresentaram 20% de
crescimento no número de suicídios no período de 2011 e
2016. De maneira semelhante, a tendência no Brasil não é
nada auspiciosa, considerando igual aumento no mesmo
intervalo na faixa entre 15 a 19 anos. A propósito, vale
frisar que aqui o suicídio ocupa a quarta posição na
causa de mortes especificamente nesse grupo.
As estatísticas são ainda mais estarrecedoras em países
como Japão e Coreia do Sul, onde o suicídio é a
principal causa entre meninos e meninas e reside aí um
terrível paradoxo. Afinal, as mesmas sociedades que
exigem elevadíssimo grau de disciplina, obediência e
dedicação dos jovens se omitem diante do suicídio
daqueles que não se ajustam a esse rígido e inflexível
padrão ou que simplesmente não se saem bem. Em outras
palavras, tais sociedades, em que pese o seu alto nível
de desenvolvimento educacional e tecnológico, não
conseguem preparar os seus jovens membros para os
eventuais fracassos da vida. Por isso, falta a esse
grupo uma noção mínima do elemento espiritual, da
encarnação, das provas e expiações inerentes aos
indivíduos em jornada pela dimensão material.
Desse modo, jovens cercados de todos os cuidados e
desejos não recebem, surpreendentemente, a devida
atenção para os seus dramas interiores. Os pais
modernos, normalmente muito ocupados com as suas
carreiras e interesses, não conseguem divisar as
anomalias que jazem na alma dos seus filhos. Além disso,
a deficiente percepção de muitos jovens acerca da vida e
tudo que ela envolve torna-os vítimas desse ato extremo.
Como observam os especialistas, melancolia e depressão
são também fortes instigadores do suicídio. É preciso
também reconhecer que o jovem contemporâneo está sob
forte pressão existencial. As incertezas hodiernas
atingem-lhes vigorosamente o ânimo. Profissões estão
ficando obsoletas de um momento para o outro devido ao
passo tecnológico. Em decorrência disso, todo esforço
pessoal e dedicação de um jovem para obter uma profissão
pode ser em vão. Faltam-lhes, muitas vezes, perspectivas
concretas de desenvolvimento profissional, emancipação
financeira e avanço social.
Posto isto, o Espiritismo tem muito a oferecer às
criaturas que passam por esses dramas, desde que busquem
por algo mais sólido. Nesse sentido, é pertinente
recordar que Allan Kardec escreveu n’O Evangelho
segundo o Espiritismo que a doutrina: “[...]
Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da
situação desgraçada em que se encontram e a provar que
ninguém viola impunemente a Lei de Deus, que proíbe ao
homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há
cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não
eternos, não são menos terríveis e de natureza a fazer
refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes
que Deus o haja ordenado”.
Kardec ainda observou que: “[...] O espírita tem, assim,
vários motivos a contrapor à ideia do suicídio: a certeza de
uma vida futura, em que, sabe-o ele, será tanto
mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido
na Terra; a certeza de que, abreviando seus dias,
chega, precisamente, a resultado oposto ao que esperava;
que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior,
mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando
que, com o matar-se, vai mais depressa para o céu; que o
suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele se
reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais
esperava encontrar; donde a consequência de que o
suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos
seus próprios interesses. [...]”.
Entretanto, cumpre lembrar que o Espiritismo não é a
bússola seguida pela maioria das criaturas. Poucos
realmente mergulham no sagrado dever de esclarecer o
próprio Espírito bebendo nas fontes da sabedoria
universal. É mais fácil, assim, ligar-se às coisas
mundanas e fúteis que atropelam a razão e o bom senso do
que encarar as próprias fraquezas. O Espiritismo oferece
ferramentas e orientações confiáveis às almas envolvidas
em conflito íntimo, mas não se sobrepõe ao
livre-arbítrio de ninguém.
|