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por Bruno Abreu

  

O caminho que eu tomo


Viajo no comboio do pensamento entre as estações dos sentimentos, sensações e desejos. Crio e recrio, vivo e morro, nasço e renasço, nas aventuras de um mar revoltoso e abalador, o mar do fluxo mental.

Quando dou conta já fui em uma das carruagens da montanha russa, viajando no mundo das sensações e emoções mentais, quando abro os olhos ela se desfaz e parece que não sai de onde estava. Não consigo manter-me à superfície deixando-me envolver em todo este fluxo mental que por vezes é construtivo mas também se revela destrutivo em muitas  outras alturas.  

Crio ódios e amores, alegrias e tristezas, frustrações e realizações, neste reinado pessoal onde sou Rei, mas meu poder real é ludibriado pelo medo e o desejo que me levam a agir longe da razão. Fujo a sete pés do sofrimento e corro de braços abertos em direção ao prazer, não percebendo que são portas opostas da mesma sala.

Tudo vive em mim, minhas emoções são a ponta da minha extensão interior, não podem ser diferentes do que sou, meus sentimentos que me parecem tão profundos são minhas criações inconscientes, meus desejos uma nascente exterior de um lençol de água que não tenho a consciência de sua imensidão.

As ideias que tenho sobre a vida, sobre os outros, criadas e arquivadas em minha mente como imagens, que adquiri durante a experiência do meu caminho, a educação de meus pais e de meu país, medido sempre com um crivo da “razão” do que me faz bem ou me serve, tornam-se o código da constituição de uma república individual onde habita quem eu deixo e é condenado quem eu quero. Aqui, nesta terra desconhecida até por mim mesmo, por não permitir a entrada de ninguém mais longe do que eu quero e não ter a coragem de penetrar nos matagais e pântanos internos inexploráveis,  também tem legislação da Justiça onde a sentença é constante, não só em relação aos outros e a mim, mas em relação a tudo na vida.

Tenho a ambiguidade como uma forma de vida, a escolha é necessidade constante, e esta é sempre baseada no achismo dos códigos individuais, no que conheço, no que eu sou.

Cada um de nós elege as suas importâncias, para uns os vícios, para outros a religião, para alguns o desporto, outros a família, a profissão, a casa etc…, tantas que seria impossível descrevê-las. A importância das mais diversas ideias ou coisas é constituinte do que somos, vivemos para elas, para os desejos que as envolvem e as ligam a nós e movimentam-nos muitas vezes desde que acordamos. Pode-nos parecer que são diferentes de nós, mas na realidade a forma de nós agirmos é uma extensão ou ligação entre nós e aquilo a que damos importância, seja a ideia ou objeto. Então, se o que nos motiva a ação nos leva a criá-la em função do motivo ou desejo, pode a ação ser diferente da finalidade ou faz parte de um processo que tem como finalidade o desfrutar do desejo?

Todo este movimento que existe em nós é uma projeção de nosso ser que por sua vez foi a constituição do “eu” no passado, parece uma bola de neve da lei Ação / Reação e as escolhas constituíram o caminho que foi construído e que, por sua vez, somos nós. É sermos um labirinto em constante  mudança de que tentamos fugir.

Esta construção dá-se de uma forma sutil sem que tenhamos consciência. Estamos sempre a olhar para fora, conseguimos até compreender a ligação dos sentidos aos objetos externos, mas o processo interior falha-nos, como se tivéssemos uma cegueira para nós próprios.

Com uma forma de funcionamento tão despercebida a nós próprios e condicionada, pelo que somos, a que liberdade nos damos ao direito?

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita