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por Jane Martins Vilela

 

O amor vence


A infância antigamente tinha grandes heróis. A criança queria ser um deles. Era comum se ouvir que o amor sempre vencia no final. Bons tempos aqueles, ainda pensam os que vivenciaram isso no passado. O amor precisa realmente vencer. Há que vivenciá-lo. As famílias precisam relembrar Jesus, o maior de todos os heróis. Hoje, infelizmente, muitas vezes ouvimos mães se queixarem que levaram sua criança pequena, de quatro anos, cinco anos, para verem seus pais atrás das grades, na prisão. Seu herói é um bandido. Que pena!

Quantas mães choram de arrependimento, em diálogos, quando nos dizem que sua amada criança mudou completamente de comportamento quando viu seu pai preso. Ficou rebelde, ou chorosa, ficou infeliz ou tímida. Seu herói, o que seu pai deveria ser, é na verdade um criminoso. Quem ela vai imitar? Muitos têm um modelo masculino bom. Um tio, um avô, um irmão mais velho, que supre a figura paterna e dá bons exemplos. Mas muitos não têm.

Alguns diriam que a pobreza é a mãe da criminalidade. Sem querer polemizar, observamos que o que falta em muitos lares hoje é a religiosidade, o exemplo do bem, pois os crimes estão também em famílias abastadas e em pessoas instruídas, que têm terceiro grau. É necessário trazer de volta para as famílias a convivência fraterna, a religião, a bondade.

No Canadá, as mães estão reduzindo a jornada de trabalho para ficarem mais tempo com os filhos. Nos Estados Unidos, os médicos instituíram o Family Dinner, ou seja, a família jantar junto novamente e com a televisão desligada. Um momento para a família. Há uma campanha que está se tornando mundial, de se desligar o celular para olhar seu filho. As crianças precisam ser olhadas, precisam ser amadas.

Há uma passagem em O Evangelho segundo o Espiritismo muito bela, de um espírito protetor, constante do capítulo VIII (Deixai Vir a Mim os Pequeninos), em que o autor escreve: “Deixai vir a mim os pequeninos, pois tenho o alimento que fortifica os fracos. Deixai vir a mim os tímidos e os débeis, que necessitam de amparo e consolo. Deixai vir a mim os ignorantes, para que eu os ilumine. Deixai vir a mim, todos os sofredores, a multidão dos aflitos e dos infelizes, e eu lhes darei o grande remédio para os males da vida, revelando-lhes o segredo da cura de suas feridas. Qual é, meus amigos, esse bálsamo poderoso, de tamanha virtude, que se aplica a todas as chagas do coração e as cura? É o amor, é a caridade! Se tiverdes esse fogo divino, o que havereis de temer?”

O amor é a solução. E como diz o ditado, quem ama, educa. Há solução e é a educação.

O Brasil necessita retornar para isso, educação com amor. Formar um ser humano bom, não importa a classe social a que pertença. Libertar-se da inveja, de querer ter a todo o custo o que o outro tem. Evitar tomar do outro aquilo que ele tem e o que não tem deseja. Entender que não é assim, que não se deve roubar.

Quando criança, uma experiência nos marcou e lembramos dela até hoje. Na época, deveríamos ter cerca de nove anos de idade. Tínhamos uma colega, uma amiga querida, a mais pobre da escola. Não se fazia distinção social. Ela tinha bolsa de estudos, ofertada pelo diretor da escola, muito bondoso. Nossos pais, nessa época, desejavam saber quem eram os pais de nossos amigos, não pelo fator social, mas para saber se eram pessoas de bem, se os filhos podiam ficar juntos, nesse sentido, se os pais eram conhecidos na cidade, como pessoas honestas e boas.

Nós fomos junto com essa amiga para a casa dela, depois da aula. Hoje, recordando, essa casa seria das mais pobres de uma favela, se houvesse favela por lá, o que não havia.

Quando estávamos brincando, a mãe dela se aproximou e disse: - A borracha que você trouxe da escola não é a sua. A nossa amiga esboçou uma desculpa, que não tinha achado a dela e que um amigo emprestou e ela esqueceu de devolver. No final do dia, seu pai, voltando a pé do trabalho, pois não era comum tanta gente ter carro, como hoje, carro era para poucos, e eles eram pobres, encontrou a mãe da menina, com o nome e endereço do colega nas mãos. Já tinha averiguado. Fomos juntos, por ordem do pai dela. Andamos quase uma hora a pé, até a casa do menino. Ele a orientou antes. Ela bateu a campainha, pediu para chamar a criança. O colega veio, surpreso. Ela pediu desculpas por não haver devolvido a borracha. Entregou a ele, que saiu, agradecido. Quando não havia mais ninguém perto, só nós três, ele falou com uma energia tão intensa, que a nossa pessoa aqui, sentiu na pele, arrepiamos inteira e nunca esquecemos. Ele disse à filha num tom enérgico e heroico: - A gente é pobre, mas é honesto!

Nunca esquecemos. De heróis assim, anônimos, é que precisamos. Heróis do dia a dia, que ensinem a honestidade e o bem a seus filhos. Temos fé de que o estado atual das coisas no Brasil, em que a sociedade não suporta mais a corrupção e a desonestidade, vai aumentar muito o número desses heróis e a educação no bem vai triunfar. O Brasil será sim, um dia, uma nação em que os valores morais elevados vão sobressair. O número dos que almejam o bem está crescendo. O amor continua sempre vencendo e vencerá sempre. Confiemos. Jesus olha por todos nós. O amor vencerá. Quem ama educa e a educação no bem será a solução.

Lembrando ainda o espírito protetor que citamos, d´O Evangelho segundo o Espiritismo, ele termina sua mensagem com belíssimas palavras, que devemos manter em nosso coração: “Se tiverdes amor, tereis tudo o que mais se pode desejar na Terra, pois tereis a pérola sublime, que nem as mais diversas circunstâncias, nem os malefícios dos que vos odeiam e perseguem, poderão jamais arrebatar. Se tiverdes amor, tereis colocado o vosso tesouro onde nem a traça, nem a ferrugem os devoram, e vereis desaparecer insensivelmente de vossa alma, tudo o que lhe possa manchar a pureza”. O pai de nossa amiga exemplificou isso. Como ele, muitos o fazem. Tenhamos esperança. O amor há de vencer, repetimos.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita