O amor vence
A infância antigamente tinha grandes heróis. A criança
queria ser um deles. Era comum se ouvir que o amor
sempre vencia no final. Bons tempos aqueles, ainda
pensam os que vivenciaram isso no passado. O amor
precisa realmente vencer. Há que vivenciá-lo. As
famílias precisam relembrar Jesus, o maior de todos os
heróis. Hoje, infelizmente, muitas vezes ouvimos mães se
queixarem que levaram sua criança pequena, de quatro
anos, cinco anos, para verem seus pais atrás das grades,
na prisão. Seu herói é um bandido. Que pena!
Quantas mães choram de arrependimento, em diálogos,
quando nos dizem que sua amada criança mudou
completamente de comportamento quando viu seu pai preso.
Ficou rebelde, ou chorosa, ficou infeliz ou tímida. Seu
herói, o que seu pai deveria ser, é na verdade um
criminoso. Quem ela vai imitar? Muitos têm um modelo
masculino bom. Um tio, um avô, um irmão mais velho, que
supre a figura paterna e dá bons exemplos. Mas muitos
não têm.
Alguns diriam que a pobreza é a mãe da criminalidade.
Sem querer polemizar, observamos que o que falta em
muitos lares hoje é a religiosidade, o exemplo do bem,
pois os crimes estão também em famílias abastadas e em
pessoas instruídas, que têm terceiro grau. É necessário
trazer de volta para as famílias a convivência fraterna,
a religião, a bondade.
No Canadá, as mães estão reduzindo a jornada de trabalho
para ficarem mais tempo com os filhos. Nos Estados
Unidos, os médicos instituíram o Family Dinner,
ou seja, a família jantar junto novamente e com a
televisão desligada. Um momento para a família. Há uma
campanha que está se tornando mundial, de se desligar o
celular para olhar seu filho. As crianças precisam ser
olhadas, precisam ser amadas.
Há uma passagem em O Evangelho segundo o Espiritismo muito
bela, de um espírito protetor, constante do capítulo
VIII (Deixai Vir a Mim os Pequeninos), em que o autor
escreve: “Deixai vir a mim os pequeninos, pois tenho o
alimento que fortifica os fracos. Deixai vir a mim os
tímidos e os débeis, que necessitam de amparo e consolo.
Deixai vir a mim os ignorantes, para que eu os ilumine.
Deixai vir a mim, todos os sofredores, a multidão dos
aflitos e dos infelizes, e eu lhes darei o grande
remédio para os males da vida, revelando-lhes o segredo
da cura de suas feridas. Qual é, meus amigos, esse
bálsamo poderoso, de tamanha virtude, que se aplica a
todas as chagas do coração e as cura? É o amor, é a
caridade! Se tiverdes esse fogo divino, o que havereis
de temer?”
O amor é a solução. E como diz o ditado, quem ama,
educa. Há solução e é a educação.
O Brasil necessita retornar para isso, educação com
amor. Formar um ser humano bom, não importa a classe
social a que pertença. Libertar-se da inveja, de querer
ter a todo o custo o que o outro tem. Evitar tomar do
outro aquilo que ele tem e o que não tem deseja.
Entender que não é assim, que não se deve roubar.
Quando criança, uma experiência nos marcou e lembramos
dela até hoje. Na época, deveríamos ter cerca de nove
anos de idade. Tínhamos uma colega, uma amiga querida, a
mais pobre da escola. Não se fazia distinção social. Ela
tinha bolsa de estudos, ofertada pelo diretor da escola,
muito bondoso. Nossos pais, nessa época, desejavam saber
quem eram os pais de nossos amigos, não pelo fator
social, mas para saber se eram pessoas de bem, se os
filhos podiam ficar juntos, nesse sentido, se os pais
eram conhecidos na cidade, como pessoas honestas e boas.
Nós fomos junto com essa amiga para a casa dela, depois
da aula. Hoje, recordando, essa casa seria das mais
pobres de uma favela, se houvesse favela por lá, o que
não havia.
Quando estávamos brincando, a mãe dela se aproximou e
disse: - A borracha que você trouxe da escola não é a
sua. A nossa amiga esboçou uma desculpa, que não tinha
achado a dela e que um amigo emprestou e ela esqueceu de
devolver. No final do dia, seu pai, voltando a pé do
trabalho, pois não era comum tanta gente ter carro, como
hoje, carro era para poucos, e eles eram pobres,
encontrou a mãe da menina, com o nome e endereço do
colega nas mãos. Já tinha averiguado. Fomos juntos, por
ordem do pai dela. Andamos quase uma hora a pé, até a
casa do menino. Ele a orientou antes. Ela bateu a
campainha, pediu para chamar a criança. O colega veio,
surpreso. Ela pediu desculpas por não haver devolvido a
borracha. Entregou a ele, que saiu, agradecido. Quando
não havia mais ninguém perto, só nós três, ele falou com
uma energia tão intensa, que a nossa pessoa aqui, sentiu
na pele, arrepiamos inteira e nunca esquecemos. Ele
disse à filha num tom enérgico e heroico: - A gente é
pobre, mas é honesto!
Nunca esquecemos. De heróis assim, anônimos, é que
precisamos. Heróis do dia a dia, que ensinem a
honestidade e o bem a seus filhos. Temos fé de que o
estado atual das coisas no Brasil, em que a sociedade
não suporta mais a corrupção e a desonestidade, vai
aumentar muito o número desses heróis e a educação no
bem vai triunfar. O Brasil será sim, um dia, uma nação
em que os valores morais elevados vão sobressair. O
número dos que almejam o bem está crescendo. O amor
continua sempre vencendo e vencerá sempre. Confiemos.
Jesus olha por todos nós. O amor vencerá. Quem ama educa
e a educação no bem será a solução.
Lembrando ainda o espírito protetor que citamos, d´O
Evangelho segundo o Espiritismo, ele termina sua
mensagem com belíssimas palavras, que devemos manter em
nosso coração: “Se tiverdes amor, tereis tudo o que mais
se pode desejar na Terra, pois tereis a pérola sublime,
que nem as mais diversas circunstâncias, nem os
malefícios dos que vos odeiam e perseguem, poderão
jamais arrebatar. Se tiverdes amor, tereis colocado o
vosso tesouro onde nem a traça, nem a ferrugem os
devoram, e vereis desaparecer insensivelmente de vossa
alma, tudo o que lhe possa manchar a pureza”. O pai de
nossa amiga exemplificou isso. Como ele, muitos o fazem.
Tenhamos esperança. O amor há de vencer, repetimos.
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