Conflitos entre irmãos
O que é a tolerância? É o apanágio da humanidade. Somos
todos cheios de fraquezas e de erros; perdoemo-nos
reciprocamente as nossas tolices, tal é a primeira lei
da natureza.
Voltaire
Os conflitos fazem parte de todas as relações,
incluindo, na infância, o dia a dia dos irmãos, pois é
natural que as pessoas, desde pequenas, manifestem
necessidades e gostos distintos, por vezes
incompatíveis, e isso não é necessariamente mal.
É sabido que muitas variáveis influenciam a relação dos
irmãos: os pais, o ambiente, a cultura, a própria
personalidade, a ordem de nascimento, as doenças ou
acidentes de infância que cada criança experimenta etc.
Contudo, estudos distintos concordam que o conflito
entre irmãos é normal, comum e, por isso, participa de
modo espontâneo da história individual de quem não é
filho único.
Em casa, no dia a dia, as crianças pequenas vão, é
óbvio, precisar da ajuda do adulto para enfrentar as
situações de divergências, aprendendo, com esse auxílio
materno ou paterno, a entender pouco a pouco os
conflitos de um modo (mais) positivo. Imaginemos que
temos uma criança que gosta de jogar futebol e o irmão
mais novo gosta de andar de bicicleta. Os dois podem ter
gostos diferentes, e nenhum deles está errado. Os pais
precisam, então, aprender a dizer: “o seu irmão gosta
mais de jogar bola e você gosta mais de bicicleta, há
momentos em que vou jogar bola e outros em que vou estar
com você para andarmos juntos de bicicleta”. Em termos
simples: não tem de ser um contra o outro. A atitude dos
pais é que sinaliza aos pequenos uma maneira de ver as
diferenças em um contexto mais conciliatório do que
competitivo e, em consequência, conviver sem a ameaça
constante de ciúmes ou antagonismos.
Os pais não podem ter medo do conflito. No entanto, como
muitos pais se assustam diante de um conflito entre
irmãos, costumam falar coisas como “vocês são irmãos,
precisam se dar bem” em vez de dizer-lhes que precisam
lidar com as diferenças e ainda assim se respeitarem.
A maioria dos pais tem um segundo filho para que os
irmãos cresçam na companhia de uma pessoa de confiança
para a vida inteira. No entanto, sabemos que os filhos
são distintos, têm histórias próprias e, já na infância,
vão entrar em choque. O que fazer então? Os pais podem,
sim, se envolver no cotidiano das rusgas entre irmãs
pequenos, mas sempre convidando as crianças a resolver
as situações por si próprias e para que alcancem um
patamar de compreensão e respeito.
Sem esquecer que todas as crianças merecem ser amadas da
forma que precisam de ser amadas, a principal obrigação
dos pais é criar um ambiente de paz em casa, evitando,
por exemplo, as comparações entre os filhos. Vamos a uma
cena comum: há dois irmãos, um com 8 e outra com 5 anos;
a de cinco anos acabou de comer o prato de macarrão, ao
contrário do irmão de oito, que tem mais resistência
para comer. A mãe ou pai diz: “Olha só, João! Alice é
mais nova do que você e já acabou de comer, quem é o
bebê da família?” Qual é a intenção de um adulto ao
dizer isso a uma criança? Que o irmão precisa comer mais
depressa que a irmã, porque é o mais velho? Claro que
essa atitude não tem o menor fundamento do ponto de
vista educativo e, no plano prático, apenas fará com que
o irmão mais velho se sinta diminuído, incapaz,
humilhado e exposto, promovendo entre os irmãos um
espírito de competição, desunião e intolerância.
Aos pais que queiram educar os filhos com base no afeto
e no respeito, é sempre aconselhável se informarem sobre
as necessidades de cada filho, adquirindo ainda noção do
desenvolvimento de cada criança, pois é extremamente
injusto pedir certas coisas que os filhos ainda, por
imaturidade, não conseguem dar…
A família é sumamente importante em nossas vidas, pois
assume a condição de agente socializador imprescindível
para o nosso desenvolvimento. Na infância (e na
adolescência), as brigas entre irmãos fazem parte do
crescimento – e os pais, na retaguarda, devem dar
oportunidade de os irmãos resolverem o conflito
sozinhos, estimulando, com persistência, tolerância,
respeito e autonomia.
Notinha
Na infância, o filho único, mais sujeito à solidão,
depende de que os pais promovam atividades que o coloque
em contato com outras crianças. E filho único pode, sim,
ser uma criança amável e tolerante se os valores da sua
educação forem devidamente estruturados na convivência
familiar.
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