O poder das palavras
“Palavras, leva-as o vento”, diz o povo e com
razão, na maioria das vezes. Mas, quando adentramos no
conhecimento espírita, no conhecimento da
espiritualidade, do Homem como um ser integral (Espírito
imortal, temporariamente num corpo carnal), a coisa muda
de figura. Afinal, as palavras têm muito poder.
Com o advento do Espiritismo (Doutrina Espírita ou
Doutrina dos Espíritos) em 1857, a morte morreu.
Aquilo que outrora era crença das religiões tradicionais
(acreditar na imortalidade da Alma) tornou-se
comprovação experimental, surgindo assim a ciência
espírita, de onde brotaria uma filosofia de vida,
acoplada à moral que Jesus de Nazaré deixou na Terra.
Nascia assim o Espiritismo, ciência que estuda a
natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como as
relações existentes entre o mundo corpóreo e o mundo
espiritual.
Aprendemos que somos seres imortais, temporariamente num
corpo carnal, nesta reencarnação, que sucede a muitas
outras e que precede outras tantas, até que atinjamos o
estado de Espírito puro e não mais necessitemos de
reencarnar.
Tudo o que fazemos, aprendemos, enfim, tudo o que fere
os nossos sentidos (para o bem e para o mal) fica
registado no nosso Espírito, como numa base de dados de
um disco rígido, ao qual se vai acedendo conforme for
útil e possível.
Somos animais de hábitos, aprendemos e repetimos,
criamos rotinas diárias e vamos sendo aculturados pelo
meio onde reencarnamos.
No entanto, o nosso destino é escrito por nós mesmos,
dia após dia, como se fosse num diário, com páginas em
branco, onde ficam grafados todos os nossos sentimentos,
pensamentos e atitudes.
O Espírito tem um patrimônio cultural e espiritual que
depende sempre do seu esforço, perseverança e
livre-arbítrio, daí que encontramos uns estagnados,
outros em busca de um devir melhor, e outros que parecem
dar saltos de gigante.
Vivemos no planeta Terra, planeta onde o Mal ainda se
sobrepõe ao Bem, onde aportam Espíritos em provas e
expiações, daí ser um planeta onde o sofrimento ainda é
uma presença constante, parecendo não mais acabar.
Nesta época tormentosa da evolução terrestre, todos
dizemos buscar a Paz, todos almejamos estar em paz.
Mas o que fazemos para que a Paz seja o caminho nas
nossas vidas?
Muito pouco ou nada!
Pegando num jornal desportivo, encontramos expressões
que com facilidade nos saltam dos lábios, em conversas
triviais, como “duelo, embate, luta, jogo mata-mata,
jogo de vida ou de morte, o jogador ceifou o adversário”,
entre outros termos bélicos adaptados ao desporto.
Noutras áreas da nossa existência, passa-se o mesmo: “estou
numa luta contra o cancro”, “vamos à luta do dia
a dia”, enfim, de um modo generalizado e, por
hábito, utilizamos um vocabulário bélico ao invés de
expressões de paz.
Os nossos monumentos comemoram guerras, batalhas,
dramas, as nossas avenidas têm o nome de guerras,
batalhas.
Para construirmos a paz, precisamos de paz nos
sentimentos para que os nossos pensamentos sejam de paz,
para que nos expressemos com palavras de paz, e para que
ajamos em paz.
Mas, para isso, é preciso mudarmos de hábitos, fazermos
uma autovigilância acerca do que sentimos, pensamos e
dizemos, para mudarmos de hábitos e passarmos a ter
hábitos de paz.
Sem começar pelo princípio, como chegar ao fim?
“Não existe um caminho para a paz, a paz é o caminho”,
referia Mohandas Gandhi, em consonância com a mensagem
pacificada de Jesus de Nazaré.
Construir esse caminho é trabalho intransferível de cada
um de nós, e de todos em conjunto.
Vamos, pois, utilizar termos que transmitam paz, que
ficarão gravados no nosso subconsciente e que, derivados
do hábito, do treino, passarão a fazer parte do nosso
patrimônio espiritual.
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