Jesus, o Irmão Maior
Gostaria de iniciar este artigo com um parágrafo
retirado do livro “O Evangelho da Mediunidade”,
de Eliseu Rigonatti, em que o autor nos presenteia com
uma singela, mas muito bela, súmula descritiva sobre os
primórdios do Cristianismo.
“No princípio era um homem moço, beirava os trinta anos,
tinha os olhos lúcidos, profundos, sonhadores. Deu uma
volta pelo povoado, e dali a pouco já não estava só;
acompanhavam-no uma dúzia de homens, os quais se puseram
a segui-lo sem mesmo saberem por quê. Nada possuíam,
viviam do trabalho do dia a dia; nem todos sabiam ler;
alguns casados, solteiros outros. E ele lhes falou dum
império que desejava fundar na Terra: o Império do Amor.
E expondo-lhes seu plano, passaram-se três anos, findos
os quais foi crucificado, e por isso um deles matou-se;
ficaram onze. Pouco depois escolheram um novo
companheiro, e voltaram a ser doze. Um dia, do pó da
estrada de Damasco, ergueu-se um homem, juntou-se a eles
e tornaram a ser treze. E começaram a desenvolver o
plano que lhes traçara o moço de olhos lúcidos,
profundos, sonhadores.”
E o plano traçado por ele, há mais de dois mil anos,
projetou-se no futuro, atravessou gerações e gerações,
não conhecendo limites de espaço ou de tempo, e chegou
aos nossos dias. É verdade que nem sempre na sua forma
mais pura original. Mas chegou.
Mas quem é este Jesus, a quem chamamos Cristo, este homem
moço de olhos lúcidos, profundos, sonhadores, no
dizer de Eliseu Rigonatti? O que tem ele representado
para nós, ao longo dos tempos? Como foi e continua ele a
ser interpretado e entendido pelos sábios e
estudiosos da Terra?
Lançarei mão de um excerto retirado do livro “Jesus
no Lar”, do Espírito Neio Lúcio, psicografado por
Francisco Cândido Xavier. Diz-nos ele na introdução:
“Para a generalidade dos estudiosos, o Cristo permanece
tão somente situado na História, modificando o curso dos
acontecimentos políticos do mundo; para a maioria dos
teólogos, é simples objeto de estudo, nas letras
sagradas, imprimindo novo rumo às interpretações da fé;
para os filósofos, é o centro de polêmicas infindáveis,
e, para a multidão dos crentes inertes, é o benfeitor
providencial nas crises inquietantes da vida comum”.
Somos forçados a não estranhar, perante isto, o fato de,
por não ter sido devidamente entendido, este Jesus ter
sido apropriado quer pelos intelectuais, quer pelas
religiões, sob uma faceta que pouco ou nada teve em
conta o seu real propósito: o de instaurar na Terra um
Império de Amor.
Continuando com Neio Lúcio, na obra supracitada, importa
refletir que…
“Todavia, quando o homem percebe a grandeza da Boa Nova,
compreende que o Mestre não é apenas o reformador da
civilização, o legislador da crença, o condutor do
raciocínio ou o doador de facilidades terrestres, mas
também, acima e tudo, o renovador da vida de cada um”.
Reflitamos, então, quem é para nós este Jesus? O que
representa nas nossas vidas? Oriundos, grande parte de
nós, das religiões tradicionais, talvez nos tenhamos
habituado a pensar nele como “o Filho de Deus”,
aquele que veio à Terra para “nos salvar”, aquele
que “já estava sentado à direita do Pai quando este
mundo foi criado”, e a quem podemos recorrer para
pedir socorro sempre que a dor aperta, e que nada pede,
nada exige de nós, a não ser um culto apontado por esta
ou aquela crença que, se bem cumprido, nos deixará de
consciência tranquila, prontos para a dita salvação.
Tudo fácil, tudo limpo, sem grandes exigências, porque
ele já “morreu por nós na cruz, para nos salvar”,
só nos resta adorá-lo, como Filho de Deus, como o
próprio Deus feito homem, até. E recorrer a ele
quando bem nos apetecer, ou seja, quando nos convém,
como um banco de recursos disponível e sempre à mão.
Onde fica, então, a mensagem de renovação e
aperfeiçoamento, presente em cada um dos seus
ensinamentos, a renúncia às nossas falhas, vícios e
imperfeições, que são o grande entrave ao merecimento
desse Império de Amor anunciado e prometido por ele?
Onde fica a reforma íntima, transformando o egoísmo e o
orgulho, no Amor, tão contrário a todos os vícios, mas o
único que nos permitirá ascender a um estado de
plenitude e comunhão próprio de filhos de Deus a caminho
de uma felicidade possível, intemporal e independente do
espaço em que nos encontremos?
Sim, porque a felicidade foi-nos anunciada e prometida
pelo Mestre, quando disse: “Sede perfeitos”. Não
disse que a perfeição era apanágio de apenas outros
mundos ou certos Espíritos, não apontou entraves de
maior a essa conquista, não falou de eleitos
predestinados a alcançá-la. Apenas disse “Sede
perfeitos” e “Amai-vos uns aos outros”. Todos
e cada um de nós. É um caminho pessoal, uma conquista
pessoal, na qual cada um tem de empregar todos os
esforços, sem ficar atido à ideia de que a salvação já
está feita, pronta a usar.
Mais que um salvador, Jesus é o Irmão Maior. É aquele
que já era perfeito quando Deus criou a Terra, a quem
Ele incumbiu de proteger, orientar, ajudar a progredir,
e que, por esse motivo, se sacrificou a viver nela pelo
tempo necessário a dar testemunho, fornecer orientações
e ensinamentos seguros, disseminar esperanças,
projetando os seus habitantes, que somos nós, que já cá
estávamos outrora e por cá continuamos ainda, nessa
salvação que teremos de ser nós mesmos a alcançar,
seguindo as suas sábias e amorosas lições.
Jesus é o Mestre, o Irmão, o Amigo incondicional, o
Médico da nossa alma sofredora, sempre pronto a estender
a mão, embora nem sempre da maneira simplista que nós
desejaríamos. Simplesmente porque se não formos nós a
lutar contra as nossas doenças da alma, não haverá
verdadeira conquista, haverá apenas a ilusão de
bem-estar que não corresponde à verdadeira cura, não se
traduzindo em felicidade.
Jesus é, sim, o Filho de Deus. Nós somos os Filhos de
Deus. Somos todos, ele e nós, seres por Ele criados com
muito amor e destinados à perfeição e à felicidade,
porque uma decorre da outra. Se não, vejamos: que mérito
teria Jesus em ser perfeito, se tivesse sido criado de
uma forma diferente da nossa, se fosse um ser especial,
criado por Deus sem necessidade de trabalho e esforço
algum? Que Deus imparcial seria esse que criaria Jesus,
anjos, demônios e depois… nós, seres pequeninos e
ignorantes destinados aos maiores esforços e sacrifícios
para tentar alcançar uma réstia de felicidade que mal
vislumbramos? Como poderão querer que tomemos o exemplo
de alguém que já nasceu com todas as vantagens, enquanto
nós temos de começar do nada?
Esta ideia de um Jesus Filho unigênito de Deus,
especial, inalcançável, Deus feito Homem, em tudo
diminui o seu exemplo e a sua mensagem. Pelo contrário,
a ideia de humanidade deste Irmão Maior, maior porque já
viveu mais, foi criado antes de nós, já alcançou pelo
seu esforço, trabalho, ajuste às Leis Divinas, fruto de
uma aprendizagem de muitos milênios (tal como nós),
torna-o digno de ser ouvido e seguido.
Se ele chegou…. Também nós haveremos de chegar.
Sigamo-lo! E renovemo-nos em pensamentos, sentimentos,
atitudes, desejos, com base nas Leis do Pai que ele tão
sabiamente colocou ao alcance do nosso entendimento.
Sejamos humildes e reconheçamos que temos ainda um longo
caminho a percorrer, mas com a certeza de que, pela mão
amiga deste Irmão Maior, o caminho que palmilhamos,
apesar de pontuado pelas pedras que nele depositamos,
conduzir-nos-á à grande meta, que é o Pai. Que não nos
falte o ânimo! Temos um Amigo de “olhos lúcidos,
profundos, sonhadores”, a velar por nós.
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