Desejo do melhor
No Evangelho
segundo o Espiritismo, capítulo XXV – Busca e
achareis - Kardec, ao examinar o conceito de progresso
como filho do trabalho (na medida em que o trabalho põe
em ação as forças da inteligência), se vale da
expressão desejo
incessante do melhor.
Lembra o codificador que, na infância da humanidade, o
homem só aplicava a inteligência à procura do alimento,
dos meios de se preservar das intempéries e de se
defender dos seus inimigos. Deus, porém, lhe concedeu
mais do que facultou aos animais, o desejo incessante
do melhor, e é esse desejo que o impele à pesquisa
dos meios de melhorar a sua posição, que o leva às
descobertas, às invenções e ao aperfeiçoamento da
ciência.
O pensamento kardequiano se identifica com conceitos
recentes apresentados pela Psicologia evolutiva, segundo
os quais a evolução selecionou genes relacionados à
construção e ao funcionamento do cérebro, que o
equiparam com recursos geradores de prazer,
possivelmente relacionados à sobrevivência humana.
Centros geradores de prazer, estabelecidos em regiões
específicas do cérebro, são ativados por alimentos
saborosos, intercurso sexual, sensação de segurança,
certa dose de poder ou a condição de ser considerado
como uma pessoa especial e importante. Situações como
essas por serem prazerosas, são buscadas com frequência,
e nessa busca o indivíduo desenvolve as inteligências,
como citado previamente por Kardec.
Se ingerir alimentos, sentir-se importante ou fazer sexo
não gerasse certa dose de prazer, o homem se descuidaria
de tudo isso e caminharia para a estagnação ou a
morte.
Em decorrência dessa caixa prazerosa de ferramentas
evolutivas chegamos onde estamos, em um nível de
progresso intelectual jamais imaginado pela criatura
humana, no entanto, o perfeito equilíbrio no trato com
essa ferramenta evolutiva está ainda bem distante de
nós. O prazer decorrente da ingestão de alimentos
saborosos e altamente calóricos tem tido responsável
pela mais obesa geração da história e os prazeres da
libido têm atormentado milhões de almas e destruído
lares e relações afetivas sinceras. O desejo de
segurança se transformou para muitos em transtorno de
personalidade, assustados diante de medos reais e
imaginários, vivendo acuados em verdadeiras fortalezas.
O prazer decorrente da sensação de controle vem sendo
canalizado para o vício do poder com suas consequências
danosas e a necessidade de destaque tem feito de muitas
pessoas fantoches da opinião alheia, viciados no
sucesso, no aplauso e no elogio.
Necessário tomarmos ciência dessa dinâmica e nos
equiparmos de recursos que nos levem a um saudável
equilíbrio entre a satisfação dos desejos através de
prazeres universais e atitudes corretas, justas,
responsáveis e nobres.
Viver em harmonia a fase evolutiva em que nos
encontramos é saber adequar desejo e ponderação, uso e
continência, prazer e responsabilidade.
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