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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

Desejo do melhor


No Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXV – Busca e achareis - Kardec, ao examinar o conceito de progresso como filho do trabalho (na medida em que o trabalho põe em ação as forças da inteligência), se vale da expressão desejo incessante do melhor.

Lembra o codificador que, na infância da humanidade, o homem só aplicava a inteligência à procura do alimento, dos meios de se preservar das intempéries e de se defender dos seus inimigos. Deus, porém, lhe concedeu mais do que facultou aos animais, o desejo incessante do melhor, e é esse desejo que o impele à pesquisa dos meios de melhorar a sua posição, que o leva às descobertas, às invenções e ao aperfeiçoamento da ciência.

O pensamento kardequiano se identifica com conceitos recentes apresentados pela Psicologia evolutiva, segundo os quais a evolução selecionou genes relacionados à construção e ao funcionamento do cérebro, que o equiparam com recursos geradores de prazer, possivelmente relacionados à sobrevivência humana. Centros geradores de prazer, estabelecidos em regiões específicas do cérebro, são ativados por alimentos saborosos, intercurso sexual, sensação de segurança, certa dose de poder ou a condição de ser considerado como uma pessoa especial e importante. Situações como essas por serem prazerosas, são buscadas com frequência, e nessa busca o indivíduo desenvolve as inteligências, como citado previamente por Kardec.

Se ingerir alimentos, sentir-se importante ou fazer sexo não gerasse certa dose de prazer, o homem se descuidaria  de tudo isso e caminharia para a estagnação  ou a morte.

Em decorrência dessa caixa prazerosa de ferramentas evolutivas chegamos onde estamos, em um nível de progresso intelectual jamais imaginado pela criatura humana, no entanto, o perfeito equilíbrio no trato com essa ferramenta evolutiva está ainda bem distante de nós. O prazer decorrente da ingestão de alimentos saborosos e altamente calóricos tem tido responsável pela mais obesa geração da história e os prazeres da libido têm atormentado milhões de almas e destruído lares e relações afetivas sinceras. O desejo de segurança se transformou para muitos em transtorno de personalidade, assustados diante de medos reais e imaginários, vivendo acuados em verdadeiras fortalezas. O prazer decorrente da sensação de controle vem sendo canalizado para o vício do poder com suas consequências danosas e a necessidade de destaque tem feito de muitas pessoas fantoches da opinião alheia, viciados no sucesso, no aplauso e no elogio.

Necessário tomarmos ciência dessa dinâmica e nos equiparmos de recursos que nos levem a um saudável equilíbrio entre a satisfação dos desejos através de prazeres universais e atitudes corretas, justas, responsáveis e nobres.

Viver em harmonia a fase evolutiva em que nos encontramos é saber adequar desejo e ponderação, uso e continência, prazer e responsabilidade.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita