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por Leda Maria Flaborea

 
Pedras do caminho
 


“Amai vossos inimigos...”
 – Jesus (Mt, 5:44.)


Essa afirmativa de Jesus pede reflexão e análise especial. Diz para que amemos nossos adversários, porque ninguém precisa nos lembrar de amar aqueles que têm para conosco gestos carinhosos e palavras ternas, com quem compartilhamos interesses comuns e alegrias mútuas, pois isso é fácil.

Com essa atitude, nada acrescentamos de útil ao esforço que realizamos para nosso progresso espiritual. Aliás, na Terra, só traduzimos o verbo amar sob tal forma de exteriorização. Todavia, o amor pode resplandecer sem essa exteriorização superficial. Alguém duvida do amor de Deus por nós? Quem, em sã consciência, duvida de que foi o amor de Jesus por nós e a esperança que deposita na nossa capacidade de nos transformarmos em luzes que O fez vir até nós em sacrifício? Amar aqueles que nos caluniam e ofendem, obrigando-nos ao sacrifício íntimo do entendimento fraterno, da compreensão do limite evolutivo em que o outro se encontra – certamente o mesmo que o nosso – para que a harmonia prevaleça, isto sim, é manifestação inequívoca de amor, e tem inestimável valor perante o Pai.

Ele próprio, ao nos confiar duras tarefas e rudes experiências, junto àqueles com quem compartilhamos a existência, seja neste planeta ou em outros mundos, mostra-nos a Infinitude do Seu Amor para com todas as criaturas. Todavia, impossível pretender amá-los como amamos os queridos do nosso coração.

Então, o que Jesus quis dizer com isso? Que convite é esse que não conseguimos compreender? Qual a essência do ensinamento desejado? O Apóstolo Paulo, na Carta aos Romanos, capítulo 12, vv 21, dá-nos a resposta ao escrever: "Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem”. Diante da assertiva, parece-nos claro que não basta apenas deixar de fazer o mal, mas é fundamental fazer o bem; que não é suficiente não termos uma atitude negativa, mas torna-se indispensável desenvolvermos atitudes positivas. Seria o mesmo que termos uma “meia-bondade” – desculpa educada – ou sermos mais ou menos honestos sem, contudo, penetrarmos no nosso campo íntimo para a transformação necessária, mantendo-nos, somente, na superfície do sentimento.

Podemos citar alguns exemplos significativos dessa “meia-bondade”, seguindo a orientação de Emmanuel: 1 – o favor adiado; 2 – a reprovação de permeio com o elogio, o nosso tão conhecido e exaustivamente praticado “bate e assopra”; 3 – esquecer deliberadamente o prêmio pela conduta correta em qualquer atividade exercida; 4 – continuar ajudando os que não nos ofendem, porque é mais fácil e mais agradável; e, 5 – desculpar sem modificar o íntimo, o tão comum “perdoo, mas não esqueço”.

Todos os nossos pensamentos, ações e palavras estão nas raízes dos sentimentos que abrigamos em nosso mundo íntimo – boca fala do que tem no coração. Quando encarnados, por conta do grau evolutivo em que nos encontramos, nossos pensamentos oscilam entre o altruísmo e o egoísmo, a prodigalidade e a sovinice que provocam distúrbios mentais, gerando doenças no âmbito do espírito e do corpo, muitas vezes de difícil diagnóstico.

O mal que está dentro de nós, e que se exterioriza por nossas ações e palavras, retorna a nós, em cumprimento da Lei de Causa e Efeito ou Lei de Ação e Reação, com grandes prejuízos. O Evangelho nos pede: “Perdoai vossos inimigos”, “Orai por aqueles que vos caluniam e perseguem” para que aprendamos a não ter mais que pedir perdão a Deus ou ao próximo pelos nossos erros, porque não teremos mais ofendido ninguém.

O evangelista Pedro perguntou a Jesus quantas vezes deveríamos perdoar aquele que nos ofende, e o Mestre respondeu setenta vezes sete, estabelecendo, assim, a infinitude de vezes que devemos praticar o perdão. Em momento algum Jesus espera que possamos, por ora, amar nossos adversários ou desafetos como amamos nossos amigos, porque Ele sabe que um dia, queiramos ou não, estaremos todos juntos, trabalhando na Sua seara de Amor, como irmãos que somos.

Assim sendo, o que podemos fazer, hoje, dentro da nossa limitação, em atendimento ao convite divino? Parece-nos que: 1 – não devolver o mal com o mal; 2 – orar, verdadeiramente, para que eles possam conquistar, como também estamos tentando, a felicidade e a paz; 3 – não nos alegrarmos com seus fracassos, mas torcer para que progridam e que mais rapidamente compreendam o mal que fazem aos outros e a si mesmos; 4 - ajudá-los, mesmo que não saibam disso. E se pouco pudermos fazer, que sejam as nossas preces a ajudá-los a se reerguerem. Lembra Emmanuel que não basta cerrar os punhos e esbravejar contra a sombra noturna. É preciso acender uma luz.

É imprescindível e urgente a renovação para melhor. Necessitamos crescer para a Vida Superior e nos convertermos “em auxiliares preciosos da divina iluminação do espírito, na convicção de que a sementeira do exemplo é a mais duradoura plantação no solo da alma”.¹ E prossegue o benfeitor espiritual, acrescentando que precisamos aprender com o Cristo a sermos a mensagem persuasiva do amor para que se estabeleça entre os homens o domínio da eterna luz.


Bibliografia:

1 – Emmanuel (Espírito) – Palavras de Vida Eterna, [psicografado por] F. C. Xavier – Edição CEC, 20. ed., Uberaba-MG, 1995 - Lições 30 e 31.

2 - _________Fonte Viva, [psicografado por] F.C.Xavier – Editora FEB – 31. ed., Rio-RJ, Lição 162.

3 - Kardec, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. 9 e 12.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita