As questões políticas [partidárias] eram
coibidas na Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas
Para nós, os espíritas, não há e nem deve haver
“representantes oficiais” do Espiritismo em qualquer
setor da política partidária seja em âmbito municipal,
distrital, estadual ou federal. Até porque o
Espiritismo não estimula o engajamento em ideias e
políticas partidárias. Não deve colocar sua tribuna a
serviço da propaganda política de candidatos, de
partidos ou de movimentos políticos. Isso deveria ser
tema pacífico entre os espíritas.
Há os que dizem que o problema não é de como o espírita
entra na política partidária, mas de como dela sai.
Cremos que o espírita, se estiver vinculado a alguma
agremiação político-partidária, se deseja concorrer como
candidato a cargo eletivo, tem incondicional liberdade
de ação, mas que aja bem longe dos recintos espíritas,
para que tudo que fizer ou disser, dentro da Instituição
Espírita, não venha a ter uma conotação de atitude de
camuflada intenção, mirando atrair os votos de seus
confrades.
Quando da fundação da SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS
ESPÍRITAS, criada em 1º de abril de 1858, o Estatuto que
foi aprovado registra no Capítulo I- Objetivo e Formação
da Sociedade, no seu art. 1º, o seguinte - "A Sociedade
tem por objeto o estudo etc."... e remata tal artigo com
a seguinte ADVERTÊNCIA: "As questões POLÍTICAS [partidárias], de
controvérsia religiosa e de economia social nela são
interditas". (Grifei)
É inadmissível trazer para as hostes dos Centros ou
Instituições Espíritas as querelas da política
partidária, embora, como cidadão, cada espírita tenha a
liberdade de militar no universo fragmentado das
ideologias políticas. Mas o Espiritismo não é fragmento
da política partidária, e nem tampouco envolve-se com
grupos políticos sectários, que utilizam meios
incoerentes com os fins de poder.
A política do legítimo espírita é a favor do ser humano
e de seu crescimento espiritual. Não se submete e não se
omite diante do poder político, e nem tampouco assume o
lugar de oposição ou de situação. Elucida Emmanuel que
"o discípulo sincero do Evangelho não necessita respirar
o clima da política administrativa do mundo para cumprir
o ministério que lhe é cometido. O Governador da Terra,
entre nós, para atender aos objetivos da política do
amor, representou, antes de tudo, os interesses de Deus
junto do coração humano, sem necessidade de portarias e
decretos, respeitáveis, embora". (1)
A rigor, "iniciados na luz da Revelação Nova, os
espiritistas cristãos possuem patrimônios de
entendimento muito acima da compreensão normal dos
homens encarnados". (2) Por isso mesmo, sabem à
saciedade que "a missão da doutrina é consolar e
instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas
possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la por
um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos
ensinos, porque todas as organizações humanas são
passageiras em face da necessidade de renovação de todas
as fórmulas do homem na lei do progresso universal". (3)
Se o mundo gira em função de políticas econômicas,
administrativas e sociais, não há como tolerar
militância política dentro das hostes espíritas. Os
Benfeitores espirituais nos advertem que não se
sustentam as teses simplistas de que só com a nossa
participação efetiva nos processos políticos ao nosso
alcance ajudaremos a melhorar o mundo. Recordemos que
Jesus cogitou muito da melhora da criatura em si. Não
nos consta que Ele tivesse aberto qualquer processo
político-partidário contra o poder constituído à época.
Nossa conduta apolítica não deve ser encarada como
conformismo. Pelo contrário, essa atitude é sinonímia de
paciência operosa, que trabalha sempre para melhorar as
situações e cooperar com aqueles que recebem a
responsabilidade da administração de nossos interesses
públicos.
É importante lembrarmos que, nas pequeninas concessões,
vamos descaracterizando o projeto da Terceira Revelação.
Por isso mesmo urge que façamos uma profunda distinção
entre Espiritismo e Política. Somos políticos desde que
nascemos e vivemos em sociedade. Isso é real, porém a
Doutrina Espírita não poderá, jamais, ser veículo de
especulação das ambições pessoais, nesse campo.
Pela transformação do comportamento individual, lutando
pelo ideal do bem, em nome do Evangelho, os espíritas
não estão alheios à Política; engana-se quem pensa o
contrário. Os espíritas honestos, fieis à família, aos
compromissos morais, são integralmente cidadãos ativos
que exercem o direito e/ou obrigação (depende do ponto
de vista) de votar, porém sem vínculos com as querelas e
questiúnculas partidárias.
O Espiritismo não pactua com irrelevantes e transitórios
interesses terrenos. Estamos investidos de compromisso
mais imediato, ao invés de mergulharmos no mundo da
política saturada por equívocos lamentáveis.
Referências bibliográficas:
(1) XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz,
ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB,
1999, cap. 59.
(2) idem, cap. 60.
(3) XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador,
ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB,
1984, pergunta 60.
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