Vivências, emoções e
outras coisas
As emoções quando
movimentam nosso ser e
nos fazem agir já são
uma onda que nos eleva e
obriga a tirar os pés do
chão.
Nesta imagem o chão é a
vontade própria que nos
dá a capacidade de agir
perante a razão, a água
é a vida em si e a onda
a emoção; quando ela
passa, consoante o seu
volume, movimenta-nos,
obrigando-nos a levantar
os pés do chão
abandonando a
razoabilidade, abanando-nos.
Toda a onda começa em um
pequeno movimento que
vai aumentando de volume
e velocidade conforme
avança, e esta é a
semelhança com a emoção
que vai aumentando até
se aproximar do ponto de
percepção e ser
descoberta.
Quanto mais distraídos
estivermos maior será o
seu volume envolvente na
altura da percepção. A
dimensão da emoção ou a
surpresa na hora de nos
apercebermos faz com que
sejamos enrolados com
maior ou menor
intensidade.
Muitas das vezes só nos
apercebemos deste
envolvimento quando já
estamos na ação, não
conseguimos dar conta
através dos pensamentos
ou das sensações que
despertam no corpo, e
perguntamo-nos como
chegamos àquela
situação, que já é um
efeito à minha ação.
Não estranhem por
mencionar que poderíamos
dar conta do crescente
movimento através das
sensações, a ciência
hoje explica-nos que as
células do corpo muitas
vezes já deram conta de
determinada emoção sem
que tenhamos essa
percepção consciente em
nossa mente.
Alguns dias
levantamo-nos e nossos
familiares ou amigos
percebem que estamos a
ter um dia mau muito
antes de nós, através
das nossas ações que
demonstram claramente
uma irritação ou
ansiedade. Nós não damos
conta de nosso estado
interior, passa-nos de
tal forma despercebido
que entramos em pântanos
doentios mentais, como
depressões, sem nos
apercebermos, e
mantemo-nos nesse estado
psíquico por
inconsciência da
situação, ajudando a
aumentar os números de
estatísticas que
elevaram a depressão
para a doença do século.
Estes dias demonstram
claramente a dificuldade
que temos em adquirir
consciência do nosso
estado mental, que
muitas das vezes estamos
enrolados nas ondas
emocionais e nem nos
apercebemos, por isso
ser necessário “batermos
no fundo” para que o
choque nos possa chamar
a atenção e aí se inicia
o período de ascensão;
essa é a vantagem do
“fundo”, não temos mais
para onde descer,
naquela situação ou
naquela altura da vida
porque a vida é de
ondas, nada nos imuniza
totalmente de voltar a
ir abaixo em outras
situações ou noutras
alturas, por ser tão
rica em vicissitudes.
Como poderemos dar conta
de nosso estado mental
ou emocional se temos
tanta dificuldade em nos
apercebermos? Como
poderemos ver-nos a nós
próprios?
Na minha opinião são a
mesma pergunta e a
resposta não é assim tão
difícil. Se temos
dificuldade em seguir o
conselho de Jesus
“…vigiai e orai…” porque
quem vigia é quem está a
vivenciar, então
poderemos nos ver ao
espelho. Não é o que
fazemos quando queremos
ver o nosso aspecto
biológico? Olhamos num
espelho onde reflete a
nossa imagem.
Como poderemos nós nos
vermos no espelho mental
ou psíquico?
O espelho tem que estar
fora de mim, do outro
lado, e apresenta um
reflexo de minha imagem,
neste caso, meu estado
psíquico.
A dificuldade não é
encontrarmos o espelho,
mas ela nasce por não
querermos ver. Imaginem
eu chegar ao pé de um
espelho normal, olhar
para minha imagem
refletida e ver uma
nódoa na camisa e
afirmar “esta nódoa está
no espelho e não em
mim”.
Onde poderei encontrar
tal espelho?
O espelho do nosso
estado emocional são os
outros, a vida. Tudo o
que nós fazemos regressa
a nós. Se maltrato
alguém, esse alguém
demonstra-me maus
sentimentos, se acarinho
alguém recebo carinho,
se estou nervoso acabo
por deixar os outros
nervosos, se sou
agressivo recebo
agressividade; se sou
egoísta, que é
dividir-me dos outros,
acabo por ficar sozinho.
Neste espelho a vida
reflete, através do que
vivencio, o que sai de
dentro de mim.
Este é o primeiro
espelho mental no qual
nos poderemos ver mas a
dificuldade é que nós
vemos o cisco no olho do
outro e não conseguimos
ver a trave em nosso e
acabamos por culpar os
outros. Temos muita
dificuldade em perceber
que o que a vida nos
traz, através dos outros
e das diversas
vivências, ocorre como
reposta à nossa forma de
viver, por isso o homem
agressivo está sempre
envolvido em
agressividade, e, o
homem calmo, pela paz.
O segundo espelho que
poderemos utilizar, que
é uma extensão do
primeiro ou o seu
complemento, é a forma
como vemos as coisas. Se
eu vejo muita
agressividade é porque o
foco de minha visão está
na agressividade, ou
seja, a pessoa agressiva
passa o dia a pensar que
os outros a desafiam, o
simples erro do outro
foi feito
propositadamente para o
irritar, no entanto, a
pessoa calma é paciente
e não vê de propósito os
erros dos outros. A
forma como vemos a vida
informa-nos o nosso
interior.
Por que temos tanta
dificuldade em usar
estes “espelhos
mentais”?
Para usarmos estes
“espelhos” é necessária
a coragem para que nos
queiramos ver sem fugir.
Olharmo-nos de frente de
forma nítida, aceitando
como somos na realidade,
aproximando a forma como
nos vemos àquilo que
somos.
Será que estamos
dispostos a olhar?
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