Autoridade legítima
Um confrade muito estimado em nosso movimento espírita
foi alçado a um cargo de alta posição hierárquica em uma
Universidade pública federal. Ao ser indagado por que
aceitara tal tarefa administrativa, na medida em que era
um cidadão plenamente realizado do ponto de vista
pessoal, familiar, profissional e religioso, ele
respondeu:
– Estou cansado de ser mandado por quem é pior do que
eu!
O fato nos leva a refletir sobre a grave questão da
autoridade humana, e Kardec não se omitiu, dando o seu
parecer. Ao examinar, n’O Evangelho segundo o
Espiritismo, capítulo X, a passagem evangélica da
mulher adúltera, colocou que autoridade legítima é a
que se apoia no exemplo que dá do bem. E acrescentou
que a consciência íntima nega respeito e submissão
voluntária àquele que, investido de um poder qualquer,
viola as leis e os princípios que está encarregado de
aplicar.
Todos temos nos submetido (involuntariamente e a
contragosto) a dirigentes de conduta ética pouco
recomendável, e não poderíamos agir de outra forma. A
insubmissão civil levaria a sociedade para a anarquia, à
balbúrdia e à violência. Mas, intimamente, sonhamos com
o fim de todos esses desmandos.
Obviamente, que a convivência obrigatória com a
perversidade humana faz parte das experiências de
crescimento em um orbe de provas e expiações, mas sempre
podemos reduzir a influência do mal agindo de forma
elevada. Mostra André Luiz (Entre a terra e o céu,
cap. I) que o mal é sempre um círculo fechado sobre si
mesmo, guardando temporariamente aqueles que o criaram,
qual se fora um quisto a dissolver-se à medida que se
reeducam as almas que a ele se aglutinam e afeiçoam.
Deus tolera a desarmonia a fim de que, por intermédio
dela mesma, se efetue o reajustamento moral dos
Espíritos que a sustentam.
Kardec aborda ainda o tema, no cap. VII do E.S.E., ao
afirmar que, estando em expiação na Terra, os homens
se punem a si mesmos pelo contato de seus vícios,
mas acrescenta, de forma consoladora, que quando
estiverem cansados de sofrer devido ao mal, buscarão o
remédio no bem.
Para dissolvermos, portanto, o “quisto” da autoridade
nefasta, nos compete pautar nossas atitudes em uma ética
universal da criatura humana, respeitando os princípios
da honestidade, justiça e fraternidade. Não inserirmos
em nossa vida as práticas perniciosas que condenamos nos
dirigentes e não nos negarmos a participar dos processos
de escolha, fazendo-o de forma altruísta e abnegada.
Quando solicitaram ao filósofo grego Tales de Mileto uma
regra de bem agir, ele disse:
– Nunca faças o que te desagrada ver os outros fazerem.
Atuando sempre assim, amealharemos créditos para um dia
– oxalá seja breve – possamos ser mandados por quem é
melhor do que nós.
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