A
mediunidade
e a
má-fé:
um conto
paranormal
No dia
em que
os
espíritas
comemoram
o
nascimento
de
Adolfo
Bezerra
de
Menezes
Cavalcanti,
em
Riacho
do
Sangue,
agreste
do
Ceará,
evoco a
lembrança
desse
Espírito
do bem,
para
contar-lhes
um caso.1
A
Groenlândia,
região
pertencente
à
Dinamarca,
situada
ao
Norte,
considerada
a maior
ilha do
mundo,
possui
um grupo
de
médiuns,
trabalhadores
da
paranormalidade,
desejosos
de
trazer
esclarecimentos
a todos
os
povos.
Seus
médiuns
sentiam-se
como se
fossem
emissários
do
próprio
Criador.
Cocriadores
da mais
alta
estirpe
espiritual.
E
levavam
esse
trabalho
a sério.
Os
trabalhos
transcorriam
dentro
da
normalidade
habitual
de um
lugar
gelado,
triste,
aparentemente
sem
fatos
relevantes
no
cotidiano
da
cidade.
Algo bem
diferente
da
ebulição
espiritual
existente
no
lugar.
Se
houvesse,
no mundo
espiritual,
um
“centro
de
convenções”
para
reunir
Espíritos
manipuladores,
irônicos,
perversos,
ali
seria o
lugar em
que
todos
estariam.
Talvez
fosse
por isso
que os
médiuns
se
sentiam
importantes:
eles
percebiam,
espiritualmente,
a
oportunidade
de
ajudar
aquelas
“almas”
–
doutrinariamente
“alma”,
é
expressão
usada
quando o
Espírito
está
encarnado,
mas esse
é um
conto
paranormal,
baseado
em fatos
reais,
se é
possível
classificá-lo
assim...
Por não
terem
estudos
aprofundados
e não
conhecerem
os
lastros
espirituais
que
envolvem
suas
conexões
e
trabalhos
mediúnicos,
aos
poucos
alguns
desses
trabalhadores
começaram
a
demonstrar
fragilidades.
Trabalhadores
em
diversas
profissões,
pais de
família,
pessoas
comuns.
Entretanto,
se
usássemos
algum
instrumento
que
pudesse
revelar
a
essência
espiritual
(algo
que
medisse
a
intensidade
de suas
vibrações,
semelhante
aos
instrumentos
de
termografia
a laser
que
captam o
calor,
por
exemplo),
perceberíamos
que os
médiuns
viviam
uma
dupla
jornada.
Uma
verdadeira
usina de
forças,
emitindo
e
recebendo
vibrações
das mais
diversas.
Algumas
dessas
energias
eram
familiares,
mesmo
que eles
ignorassem.
Isso
ocorre
com
todos:
desconhece-se,
muito,
das
tendências
e
aptidões,
que
mascaram
pensamentos
e
sentimentos
e depois
não
aceitam
as
companhias
espirituais.
A
fragilidade
dos seus
trabalhos
alcançou
limites
extremos.
Os
médiuns
da
Groenlândia
não
sabiam
que,
mesmo
que o
telefone
tocasse
de lá
para cá,
é papel
do
médium
estabelecer
limites
para que
a
qualidade
do
trabalho
seja
sustentada.
A
mediunidade
na
Groenlândia
era
usada,
da forma
mais
absurda
possível.
Os
médiuns
não se
dedicavam
a uma
vida
serena,
equilibrada.
Isso não
quer
dizer
contemplativa.
Quem
vive de
contemplação
é
planta.
Viviam
os
arroubos
da fama,
narrando
“quadros”,
sensibilizando
pessoas,
como se
estivessem
em
contato
com os
Espíritos
daqueles
entes
queridos
e
sofredores.
Em uma
boate,
altas
horas da
noite,
em meio
a
bebidas,
drogas
lícitas
e
ilícitas,
os
médiuns
ligavam
suas
antenas
psíquicas
e
começavam
a falar
sobre
apocalipses,
trevas,
dores e
privações
de todos
que
estavam
no
local.
Sem
estudo,
julgando-se
cocriadores,
os
médiuns
mantinham
jornadas
intensas
de
intercâmbio.
A
situação
piorou
como
nunca
antes
havia
sido
registrado.
As casas
em que
os
médiuns
trabalhavam
começaram
a ser
assediadas
por toda
parte.
Uma
guerra
espiritual.
Cooperadores
dos
médiuns,
voluntários
e outros
que
trabalhavam
no
marketing
pessoal
dos
médiuns
começaram
a se
afastar
e, como
em uma
cena de
seriado
da
Netflix,
sempre
que isso
acontecia,
algo de
ruim
também
acontecia
com
esses
ex-cooperadores.
As
infiltrações,
que
antes
gotejavam,
passaram
a
apresentar
rupturas
ainda
maiores.
Uma
orquestração
de
infiltrações
se
instaurou
na
Groenlândia,
lugar
pródigo
na
produção
de
médiuns.
O que os
Espíritos
manipuladores
não
perceberam,
engolfados
na
vaidade
e no
orgulho
de
manipularem,
a
bel-prazer,
aqueles
médiuns
que se
permitiram
a esse
papel –
não há
como
culpar
os
Espíritos,
somos
responsáveis
por
nossos
atos –,
era que
os
Espíritos
superiores
estavam
presentes,
observando
toda
movimentação.
Os
médiuns
até
questionavam,
em seus
poucos
momentos
de
lucidez:
- por
que os
Espíritos
superiores
permitem
que
essas
mazelas
aconteçam?
Porque
existe o
livre-arbítrio,
a
liberdade
que
temos
para
agir de
acordo
com as
tendências
e
intenções
que nos
dirigem
a alma.
Faz
parte da
natureza
humana,
novamente,
que
exista o
intercâmbio!
Não há
motivos
para
suspender
uma
faculdade
cujo
benefício
primeiro
e maior
é a de
auxiliar
no
reequilíbrio
do
próprio
médium.
Movimento
orquestrado
significa
movimento
organizado,
onde
várias
ações
ocorrem
ao mesmo
tempo.
Articulando
do mundo
espiritual,
Espíritos
orgulhosos
e
vaidosos
estimulavam,
de forma
sutil,
os
médiuns
a se
sentirem
importantes,
já que,
do ponto
de vista
material,
possuíam
as
mesmas
virtudes
dos
demais,
eram
pessoas
comuns,
sem
destaque
e nem
projeções.
Destacar-se,
seja no
mundo
material
ou
espiritual,
o
princípio
é o
mesmo:
muito
esforço,
resignação,
renúncia,
renúncia
e mais
renúncia
a muito
daquilo
que
desperta
o prazer
momentâneo.
Essa
ideia de
renúncia
não era
muito a
praia
dos
médiuns
da
Groenlândia.
Se fosse
no
Brasil
diríamos
que
“enquanto
existir
cavalo,
São
Jorge
não anda
a pé”.
Assim
viviam
os
médiuns,
até que
esse
grupo de
médiuns
que mais
se
destacavam
começou
a
apresentar
sérios
problemas.
Não
deram
conta do
destaque
que eles
mesmos
provocaram.
Se
iludiram
radicalmente.
Foram
privados
de
sanidade
mental.
Viviam
vegetando
em meio
a
orquestrações
de
pensamentos
perigosos
de dor e
sofrimento,
colocando-se,
inclusive,
como
vítimas,
perseguidos
e pobres
coitados.
Não eram
todos.
Alguns
possuíam
escola
doutrinária.
Mas esse
grupo,
em
particular,
deu
trabalho.
A
situação
ficou
insustentável,
em uma
dimensão
inimaginável,
a ponto
de um
dos
Espíritos
superiores
presentes
manifestar-se,
por
intermédio
de um
médium
de pouca
credibilidade
social.
No
início
da
mediunidade,
muitos
até
questionam
receber
ou não
mensagens
de
Espíritos
superiores.
Outros
só
recebem
mensagens
de
Espíritos
superiores...
enfim...
o
Espírito
superior
disse: -
que a
Luz
Divina
do Bom
Senso e
da
Gratidão
se faça
presente
nesse
recinto.
O
pronunciamento
da
entidade
assemelhava-se
a uma
narrativa
bíblica
do
antigo
Testamento:
recheada
de
simbolismos
e
metáforas
para que
os seres
ignotos
ali
presentes
pudessem
perceber,
de
acordo
com sua
bagagem,
a
mensagem
do
Espírito
que
desejava
apenas
colocar
a bola
no chão
dos
médiuns
que se
achavam
a última
bolacha
do
pacote.
Continuou
o
Espírito:
- à
medida
em que o
Espírito
progride,
em
sucessivas
reencarnações
de
aprendizado,
suas
experiências,
provações
e
expiações
tornam-se
tão
refinadas
quanto
tem sido
a
maledicência
armazenada
no
próprio
ser.
O
esquecimento
do
passado
ocorre,
como
proposta
educativa
a
iluminar
os
corações
naqueles
pontos
em que é
necessário
rever
conceitos.
Manifesta-se,
invariavelmente,
por
tendências
que são
articuladas
e
construídas
no
decorrer
do
tempo,
sejam em
diversas
vidas ou
na
própria
existência
terrena.
Por tudo
que o
ser já
viveu,
ainda
que não
consiga
perceber
por que
não
exercita
o
autoconhecimento,
a
sofisticação
das
ações
ditas
das
trevas
não
passa da
manifestação
e
exaltação
do
próprio
ego.
O que
adianta
perceber
quadros
do mundo
espiritual,
se não
aplica
as
benesses
da
mediunidade
para
iluminar
o
próprio
ser?
Para que
construir
impérios
materiais,
que a
traça e
a
ferrugem
destruirão
com o
tempo,
quando o
convite
da vida
é para o
fortalecimento
do Ser,
tornando-nos
melhores,
principalmente
para nós
mesmos?!
Por que
escusar-se
em obras
assistencialistas
e com
isso
cobrar
por
aquilo
que
recebestes
de
graça?
Um sábio
(Léon
Denis)
já disse
que o
médium
não tem
motivo
algum
para
envaidecer-se,
já que
seu
papel é
ser
apenas
intermediário
na
comunicação.
Ser
missionário,
meus
caros, é
tarefa
que
todos
almejam,
por um
dia
terem,
na
esteira
do
tempo,
convivido,
ainda
que
apenas
em uma
existência,
sem
contato
direto,
com
seres
missionários.
A
presença
deles é
marcante
em
nossas
vidas.
Sejam
missionários
cuja
missão
maior
envolva
o
despertar
do
próprio
coração.
Essa
comunicação,
que vos
deixo,
não vem
carregada
do
cheiro
da
sacristia
porque,
quando
encarnado,
não era
a minha
forma de
agir. E
pela
autenticidade
que
sempre
tive, e
paguei
preço
alto por
ela,
compartilho
com
vocês,
no
desejo
sincero
apenas
que
vocês
reflitam,
sem
querer
mudar a
ninguém,
que todo
esse
circo
que
vocês
construíram
não
passa de
manifestação
do
orgulho.
Orgulho
ferido,
meus
queridos.
Orgulho
por ser
humilhado
por não
ter nada
material,
por ser
pobre,
ignorado,
apagado
ante as
luzes do
mundo.
As luzes
do mundo
são da
ilusão e
o que
vocês
estão
fazendo
com suas
mediunidades
é isso:
iludirem-se.
Como que
em um
passe de
mágicas,
após a
comunicação
do
Espírito
superior,
os
médiuns
conseguiram
perceber
que tudo
que
estavam
fazendo,
todos os
contatos
espirituais
de
quadros
mais
coloridos
e
inspiradores
não
passavam
de
projeções,
com
requintes
de
sofisticação,
da
própria
mente,
em um
animismo
nefasto,
projetado
exponencialmente
pela
própria
mente a
demonstrar
que
estavam
em fuga
da vida
social
irresponsável
que
construíram,
cheia de
compromissos
assumidos
a partir
da
mediunidade,
obrigando-os
a
sustentarem
uma pose
e um
status
que não
condizem
com a
faculdade
que lhes
foi
concedida.
Pergunte
se
aprenderam
a
lição?
Claro
que
ainda
não! A
Groenlândia
continua
pródiga
em
produzir
médiuns
que
acreditam
na
própria
desfaçatez
de suas
ilusões
e ainda
continuam
abocanhando
recursos
materiais
dos
menos
avisados
que não
estudam
as obras
doutrinárias
(existem
obras de
Kardec
traduzidas
para o
inglês e
eles têm
facilidade
com esse
idioma
naquela
Ilha).
A tarefa
de
aprender
chegou
para
alguns
daqueles
médiuns.
Mas
outros
insistem
em
ensinar...
ensinar
o que
ainda
não
aprenderam...
1 Este
artigo
foi
escrito
no dia
29 de
agosto
de 2018;
daí a
referência
feita a
Adolfo
Bezerra
de
Menezes. |