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por Ricardo Orestes Forni

 

O molho de pimenta


“Os Espíritos antipáticos entre si, quando se reencontram na família, unidos pela consanguinidade, expressam essa animosidade de muitas formas, o que gera transtornos cuja gravidade tem a dimensão dos problemas vivenciados.” – Joanna de Ângelis.


Um dia desses, por mero acaso, ouvi e vi a notícia em um canal de televisão sobre as mães que tiveram filhos microcéfalos devido ao zika vírus que contraíram durante a gestação.

Era de se admirar o amor com que essas mulheres, na maioria muito pobres, tratavam esses filhos marcados definitivamente pela enfermidade.

O que lançava tristeza sobre o fato era o abandono a que os seus companheiros tinham relegado a mãe e o filho devido à sequela produzida pela doença. Sumiram e abandonaram a companheira e o descendente à mercê da própria sorte ou da caridade alheia.

Imediatamente comecei a analisar à luz da reencarnação as consequências de tais atitudes por esses homens.

O mesmo raciocínio me surge à mente quando ouço ou leio ou escuto a notícia de que filhos arquitetam a morte dos próprios pais dentro do lar que deveria ser o local sagrado para eles.

Também não posso deixar de raciocinar da mesma forma quando a notícia é sobre pais que dão cabo da vida de seus filhos a quem deveriam cuidar com o maior dos zelos devido à responsabilidade que lhes pesa sobre os ombros e é ignorada por eles, de que nossos filhos, na realidade, são criaturas de Deus entregues aos nossos cuidados e pelos quais prestaremos severas e duras contas.

Esses envolvidos se reencontrarão sem a menor dúvida ou discussão porque as Leis de Deus existem independentemente de acreditarmos nelas ou não.

Muitas pessoas dizem que não renascerão de novo porque não acreditam na reencarnação.

Se excluirmos a reencarnação para analisar as aparentes injustiças da vida, não conseguiremos explicar a Justiça e a Misericórdia do Criador. Posto isso, deduzimos sem nenhum raciocínio forçado que a reencarnação é uma Lei que harmoniza as aparentes injustiças da existência e valida a Justiça soberana que a tudo e a todos contempla, dando a cada um segundo as suas obras. Excluída essa possibilidade do retorno inapelável a um novo corpo onde cada um colhe da vida exatamente aquilo que nela semeou, a existência de Deus é posta em xeque-mate!

Xeque-mate e não apenas em xeque!

Relembremos alguns ensinamentos de Emmanuel encontrados no livro Ideal Espírita, capítulo 53:

Ninguém foge à lei da reencarnação.

Ontem, abandonamos a jovem que nos amava, inclinando-a ao mergulho na lagoa do vício.

Hoje, temo-la de volta por filha incompreensiva necessitada do nosso amor.

Ontem, esquecemos compromissos veneráveis, arrastando alguém ao suicídio.

Hoje, reencontramos esse mesmo alguém na pessoa de um filhinho, portador de moléstia.

Irreversível, tutelando-lhe, à custa de lágrimas, o trabalho de reajuste.

Ontem, dilaceramos a alma sensível de pais afetuosos e devotados, sangrando-lhes o Espírito a punhaladas de ingratidão.

Hoje, moramos no espinheiro, em forma de lar, carregando fardos de angústia, a fim de aprender a plantar carinhos e fidelidade.

E não adianta dizer que não acredita em nada disso porque as Leis de Deus existem e pairam acima de qualquer religião e até mesmo do mais convicto dos materialistas! Por acaso Deus precisa de nossa crença Nele para existir? Coitado Dele se precisasse!...

Diante dessa realidade irrevogável, fico pensando, como disse no início, em como ficará o tempero desse molho nesses futuros lares onde esses Espíritos, endividados pelo exercício do livre-arbítrio, violentaram as Leis de Amor do Universo, tendo que se reencontrar com quem injuriaram de maneira grave para a devida reparação!

Se Deus fosse colocar a quantidade de pimenta que merecemos para a devida quitação da consciência endividada, não suportaríamos.

A misericórdia Divina tempera o molho colocando Espíritos que são nossos afetos de existências anteriores para atenuar a pimentarepresentada pelos Espíritos perante os quais somos devedores pelos desatinos do passado.

Ficamos com Joanna de Ângelis quando ela nos ensina que a família, a mais valiosa célula do organismo social, é nela que se encontram os Espíritos necessitados de entendimento, de intercâmbio de sentimentos e de experiências, de forma que no lar se faz sempre a escola na qual os hábitos irão definir todo o rumo existencial do ser humano.

Portanto, convém não semearmos muita pimenta em nosso relacionamento do presente para que o tempero do futuro lar seja mais ameno.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita