O molho de pimenta
“Os Espíritos antipáticos entre si, quando se
reencontram na família, unidos pela consanguinidade,
expressam essa animosidade de muitas formas, o que gera
transtornos cuja gravidade tem a dimensão dos problemas
vivenciados.” – Joanna de Ângelis.
Um dia desses, por mero acaso, ouvi e vi a notícia em um
canal de televisão sobre as mães que tiveram filhos
microcéfalos devido ao zika vírus que contraíram durante
a gestação.
Era de se admirar o amor com que essas mulheres, na
maioria muito pobres, tratavam esses filhos marcados
definitivamente pela enfermidade.
O que lançava tristeza sobre o fato era o abandono a que
os seus companheiros tinham relegado a mãe e o filho
devido à sequela produzida pela doença. Sumiram e
abandonaram a companheira e o descendente à mercê da
própria sorte ou da caridade alheia.
Imediatamente comecei a analisar à luz da reencarnação
as consequências de tais atitudes por esses homens.
O mesmo raciocínio me surge à mente quando ouço ou leio
ou escuto a notícia de que filhos arquitetam a morte dos
próprios pais dentro do lar que deveria ser o local
sagrado para eles.
Também não posso deixar de raciocinar da mesma forma
quando a notícia é sobre pais que dão cabo da vida de
seus filhos a quem deveriam cuidar com o maior dos zelos
devido à responsabilidade que lhes pesa sobre os ombros
e é ignorada por eles, de que nossos filhos, na
realidade, são criaturas de Deus entregues aos nossos
cuidados e pelos quais prestaremos severas e duras
contas.
Esses envolvidos se reencontrarão sem a menor dúvida ou
discussão porque as Leis de Deus existem
independentemente de acreditarmos nelas ou não.
Muitas pessoas dizem que não renascerão de novo porque
não acreditam na reencarnação.
Se excluirmos a reencarnação para analisar as aparentes
injustiças da vida, não conseguiremos explicar a Justiça
e a Misericórdia do Criador. Posto isso, deduzimos sem
nenhum raciocínio forçado que a reencarnação é uma Lei
que harmoniza as aparentes injustiças da existência e
valida a Justiça soberana que a tudo e a todos
contempla, dando a cada um segundo as suas obras.
Excluída essa possibilidade do retorno inapelável a um
novo corpo onde cada um colhe da vida exatamente aquilo
que nela semeou, a existência de Deus é posta em
xeque-mate!
Xeque-mate e não apenas em xeque!
Relembremos alguns ensinamentos de Emmanuel encontrados
no livro Ideal Espírita, capítulo 53:
Ninguém foge à lei da reencarnação.
Ontem, abandonamos a jovem que nos amava, inclinando-a
ao mergulho na lagoa do vício.
Hoje, temo-la de volta por filha incompreensiva
necessitada do nosso amor.
Ontem, esquecemos compromissos veneráveis, arrastando
alguém ao suicídio.
Hoje, reencontramos esse mesmo alguém na pessoa de um
filhinho, portador de moléstia.
Irreversível, tutelando-lhe, à custa de lágrimas, o
trabalho de reajuste.
Ontem, dilaceramos a alma sensível de pais afetuosos e
devotados, sangrando-lhes o Espírito a punhaladas de
ingratidão.
Hoje, moramos no espinheiro, em forma de lar, carregando
fardos de angústia, a fim de aprender a plantar carinhos
e fidelidade.
E não adianta dizer que não acredita em nada disso
porque as Leis de Deus existem e pairam acima de
qualquer religião e até mesmo do mais convicto dos
materialistas! Por acaso Deus precisa de nossa crença
Nele para existir? Coitado Dele se precisasse!...
Diante dessa realidade irrevogável, fico pensando, como
disse no início, em como ficará o tempero desse molho nesses
futuros lares onde esses Espíritos, endividados pelo
exercício do livre-arbítrio, violentaram as Leis de Amor
do Universo, tendo que se reencontrar com quem
injuriaram de maneira grave para a devida reparação!
Se Deus fosse colocar a quantidade de pimenta que
merecemos para a devida quitação da consciência
endividada, não suportaríamos.
A misericórdia Divina tempera o molho colocando
Espíritos que são nossos afetos de existências
anteriores para atenuar a pimentarepresentada
pelos Espíritos perante os quais somos devedores pelos
desatinos do passado.
Ficamos com Joanna de Ângelis quando ela nos ensina que
a família, a mais valiosa célula do organismo social, é
nela que se encontram os Espíritos necessitados de
entendimento, de intercâmbio de sentimentos e de
experiências, de forma que no lar se faz sempre a escola
na qual os hábitos irão definir todo o rumo existencial
do ser humano.
Portanto, convém não semearmos muita pimenta em
nosso relacionamento do presente para que o tempero do
futuro lar seja mais ameno.
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